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'Ordinary People' junta China e República Checa em palco no Campo Alegre

Escrito por
Maria Monteiro
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De um lado, histórias, experiências e memórias pessoais. Do outro, acontecimentos sociais e políticos que moldam essas histórias. Ordinary People cruza ambos em palco numa criação da chinesa Wen Hui e da checa Jana Svobodová, com quem falámos.

Como surgiu a colaboração entre duas companhias, duas culturas e dois países?

Tudo começou com a relação pessoal entre mim [Jana Svobodová] e a Wen [Hui]. Trabalhámos juntas e percebemos logo que tínhamos uma base de trabalho comum: ambas crescemos com o comunismo e vivemos um regime totalitário, as duas acreditamos na liberdade pessoal de todos os seres humanos e ambas trabalhamos internacionalmente. Decidimos então juntar artistas chineses e checos para fazer um projecto em comum.

Qual foi o processo para pôr estas “pessoas comuns” em palco?

Usámos o método da experiência partilhada. No início, as pessoas fizeram entrevistas umas às outras, aos pares, sendo que as perguntas estavam relacionadas com acontecimentos cruciais da História chinesa e checa. Era proibido tomar notas. Depois, o entrevistador reproduzia a história pessoal do entrevistado da forma como a lembrava. Provou-se que as pessoas tendem a recordar os momentos que associam à sua própria experiência. A partir dessas memórias partilhadas, criámos a linha temporal que se tornou o esqueleto da peça.

Ver em cena pessoas que sofreram censura e perseguição torna tudo mais pessoal. Esta é outra forma de dar a conhecer a realidade?

Nós não podemos separar as questões políticas e sociais das nossas histórias pessoais. Por exemplo, eu conheci o Vladimir por acaso nas minhas férias, mas só mais tarde descobri que não conseguiu estudar Belas Artes por razões políticas, que começou a trabalhar numa fábrica e que foi preso por dançar rock’n’ roll – uma dança capitalista, proibida nos anos 50 [na República Checa]. Ele viveu o golpe de Estado e a ascensão dos comunistas em 1948, a Primavera de Praga e a Revolução de Veludo, em 1989. Este “homem comum” tem uma mente aberta incrível e dispôs-se a improvisar com um grupo de bailarinos chineses e a contar as suas histórias.

A peça assume o carácter de reflexão e manifesto, mas o final é animado. O teatro é, aqui, um lugar de esperança?

Gostava que o nosso espectáculo contribuísse para um melhor entendimento da importância da liberdade das pessoas, especialmente num tempo em que vemos uma tendência para o aparecimento de diferentes tipos de ditadura no mundo. Na República Checa estamos a celebrar os 30 anos da queda do regime totalitário, mas as pessoas parecem esquecer-se facilmente disso. A sociedade está cada vez mais dividida. Nesse sentido, acredito que o teatro é uma óptima ferramenta de diálogo na sociedade porque trabalha com as emoções e memórias das pessoas. E até as vozes silenciadas podem ser ouvidas.

Em cena no Teatro Campo Alegre. Sáb 30. 19.00. 12€

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