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Santo
MANOLO PAVÓN/NETFLIXBruno Gagliasso como Cardona

‘Santo’, uma série espanhola no altar da Netflix

O novo thriller policial passa-se entre Madrid e Salvador da Bahia. Falámos com Bruno Gagliasso e Victoria Guerra sobre pecado, redenção e candomblé.

Hugo Torres
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Hugo Torres
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Bruno Gagliasso é uma cara bem conhecida das telenovelas. Mas, em 2019, decidiu mudar de vida: deixou a Globo, assinou contrato com a Netflix e veio viver para a Europa. Esteve recentemente nas notícias por os filhos terem sido, alegadamente, vítimas de racismo na Costa da Caparica. Um mês depois desse incidente – que resultou numa queixa formal junto do Ministério Público, por discriminação racial, num caso que corre no Tribunal Judicial de Almada –, falámos com o actor brasileiro a propósito do seu primeiro grande projecto para o streaming: Santo. Uma produção espanhola, rodada entre Madrid e Salvador da Bahia, que se estreia esta sexta-feira, 16 de Setembro, e conta no elenco com Victoria Guerra. A actriz portuguesa, reincidente no catálogo da Netflix (esteve em Glória), faz par com Bruno na série, embora dificilmente se possa dizer que seja romântico. Ela é Bárbara, a amante de Santo, o maior narcotraficante do mundo, a quem ninguém conhece o rosto. Ele é Cardona, o polícia que se vai infiltrar na organização criminosa para a desmantelar.

Santo é um policial que ora toca o drama, ora o suspense, ora se deixa levar para as fronteiras do terror. Um terror mais psicológico do que gráfico. “Muito mais do que o que é mostrado, é o que é sugerido”, adianta Bruno Gagliasso, por videoconferência, a partir de Madrid. O terror, diz, “é um ponto alto da série”. “A gente abraçou esse género de uma forma muito interessante.” Interessante mas difícil, sublinha Victoria Guerra, sentada ao seu lado: “Tivemos momentos difíceis.” Do ponto de vista dos espectadores, também: são cenas duras, cujas motivações e vítimas só vão sendo reveladas e entendidas ao longo dos oito episódios. Mas que não encerram a série no nicho do terror. “É uma série que pode ser vista por toda a gente”, avalia Victoria. “Com muita atenção, muito cuidado. Para se compreender bem a série, tem de ser vista com muita atenção. Não é a típica série policial que podes estar a ver enquanto comes pipocas.” Bruno assenta em surdina: “Não é…” A narrativa anda para a frente e para trás, montando aos poucos o puzzle que está a ser descortinado longe do Brasil, de onde Cardona e Bárbara acabam por sair em direcção a Madrid. É na capital espanhola que está o heterodoxo inspector Millán (Raúl Arévalo), que é apanhado de surpresa por esta trama transatlântica e nela vai assumir um papel central. 

Santo
MANOLO PAVÓN/NETFLIXVictoria Guerra como Bárbara

O que também tem um papel “muito importante” na série, nas palavras de Bruno Gagliasso, é o candomblé. “Porque não tem como falar de Salvador sem citar o candomblé. E se a gente vai citar o candomblé, que o faça de maneira respeitosa.” E é assim que acontece em Santo, segundo o actor brasileiro. “Eu sou do candomblé. Tenho filhos africanos. E a forma como foi tratado é de se tirar o chapéu”, diz. “Foi muito bom ver o quanto a produção respeitou isso. A gente teve um pai de santo maravilhoso, Antônio Arruda, que acompanhou todas as filmagens”. “Eu adorei. Não conhecia. Tive a sorte e o privilégio de estar na Bahia, de conhecer pais de santo, de ir a um terreiro”, acrescenta Victoria. “Foi feito com beleza e com respeito. Eu própria pedi autorização [aos mestres para representar o candomblé na série].” Bruno Gagliasso também já tinha dito tê-lo feito. Além da geografia, o candomblé está presente porque Santo, observa Victoria, “tem muito sobre pecado e redenção. E é difícil falar sobre estas questões sem falar de religiões”. A série é profícua em rituais, uns reais e outros ficcionados – “até para para mostrar essa diferença”, repara Bruno.

“Apesar de ser um thriller policial, o ponto mais importante não é o tráfico de droga. É mesmo as relações humanas entre as personagens”, diz Victoria, e todas as personagens estão em conflito – com eles próprios e com os demais. “Todo o personagem vai ao inferno de alguma maneira”, avança Bruno. “O meu personagem começa de uma maneira e termina de outra completamente diferente”, continua. “É um personagem que não é nada linear, que se transforma. Isso foi o que me fascinou. E a preparação foi intensa porque o personagem assim exigia. Eu sou o tipo de actor que trabalha na verdade. Não gosto de buscar referências externas. Trago de dentro. Procuro encontrar em mim esse lado sombrio. E foi o personagem mais desafiador, que me exigiu mais em preparação do que qualquer outro. Foi difícil.” Não houve apenas um desgaste emocional para o actor brasileiro, foi físico também: em oito meses, teve de perder 16 quilos e voltar a ganhá-los.

Para Victoria, o problema foi precisamente não poder trabalhar o arco de Bárbara, uma portuguesa a viver há anos no Brasil. “Não tem uma acção-reacção, como normalmente quando preparo uma personagem. Nesse sentido, essa foi a minha maior dificuldade. Por outro lado, ter de falar o português do Brasil, que foi um trabalho técnico com uma coach de voz, foi fundamental e também foi muito difícil.” Difícil mas a merecer o aplauso de Bruno Gagliasso: “Maravilhoso. Inclusive foi uma questão, porque ela estava fazendo tão bem que o director [realizador] pediu para ela fazer um pouquinho menos. Ela está de parabéns, arrasou”. Victoria Guerra, por seu lado, termina com uma vénia: “Fico muito contente por dar um carimbo português a uma das maiores séries espanholas deste momento.”

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