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Um bilhete para Sonhos, por favor

Escrito por
Inês Bastos
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Sabia que existe um autocarro dos STCP que leva os passageiros até Sonhos? Intrigados com esta localização, fomos em busca do 703 e fizemo-nos à estrada.

A primeira lição desta busca por Sonhos é que nem tudo é pêra doce, uma vez que não há muitas formas de chegar ao destino e, neste caso, o 703 só passa de meia em meia hora.

Acordámos cedo mas não conseguimos chegar a tempo. Pensámos nos passos que podíamos ter dado mais rápido, nos cinco minutos que tirámos para apreciar o sol de Inverno que naquele dia finalmente apareceu… Enfim, restou-nos esperar por uma nova oportunidade, que apareceu 30 minutos depois. 

© Cláudia Paiva

À hora certa o autocarro arrancou. O caminho para Sonhos é longo (cerca de 50 minutos) e é bonito. Os primeiros quilómetros do trajecto fazem com que o 703 se confunda com um autocarro turístico. Saímos da Cordoaria, passámos pelos Clérigos e chegámos aos Aliados. Lá fora prepara-se o Natal. 

No início da viagem éramos oito passageiros. Entretanto entraram duas amigas, que aproveitaram o pára-arranca de Faria Guimarães para pôr o álbum de selfies em dia. “Mais importante do que o destino é a viagem”, como já dizia alguém famoso, ou #FindingDreams, que em inglês tudo soa melhor, são boas opções de legendas e hashtags para as redes sociais. Fica a dica.

© Cláudia Paiva

Mas nem tudo são rosas a caminho de Sonhos. E há quem estacione os carros onde nunca ninguém viu um lugar de estacionamento. O motorista percorre uns bons metros em contramão na Rua Costa Cabral para conseguir evitar os muitos pais que só não param os carros à porta da sala dos filhos porque alguém ergueu muros pelo caminho.

Piim! Há quem não queira chegar a Sonhos e fique pelo caminho. Também nós pusemos essa hipótese quando o 703 parou em frente a’O Paparico. É quase hora de almoço e tamanha provação ia sendo mais forte do que nós. E, verdade seja dita, a partir do momento em que se entra na rua Costa Cabral, parece que já ninguém nos pode parar. É sempre em frente.

Ao fim de 30 minutos de viagem já não reconhecemos a paisagem que vemos pela janela e, tirando os ocasionais desejos de boas festas, comuns por esta altura, a viagem é bastante silenciosa. Pelo menos até duas amigas de longa data validarem o passe e se juntarem a nós nesta demanda por Sonhos. Cada uma tem 70 anos e histórias que nunca mais acabam: dos netos aos preparativos para o Natal.

Uma farmácia bem movimentada, uma churrasqueira com fila à porta e um café onde se tenta a sorte. Há de tudo a caminho de Sonhos. Há vida fora da grande cidade. Boa vida, por sinal, a contar pela boa disposição das pessoas que passeiam ou que descansam as pernas no café.

© Cláudia Paiva

De repente, chegamos ao centro de Ermesinde. Quem diria que Sonhos ficava em Ermesinde… Pelo caminho passámos pelo Estádio do Ermesinde Sport Clube 1936. Não deixa de ser irónico pensar que há quem ganhe em Sonhos (e, pela mesma lógica, quem perca também).

Rua dos Sonhos, Travessa dos Sonhos. Devemos estar mesmo a chegar. Não sem um sprint final, já que Sonhos fica no topo de uma rua muito íngreme.

© Cláudia Paiva

São 11.25 e lê-se no painel: SONHOS (FIM DE LINHA). Tirando a CatiNuno 2, uma pastelaria que antevê que a parceria entre a Cátia e o Nuno tenha uma irmã mais velha, e uma escola tão colorida que nos faz lembrar aquela música da Pocahontas, e que parece que foi pintada com “quantas cores o vento tem”, Sonhos é uma terra pacata e com pouco movimento.

Fizemos o percurso inverso, agora já com a confiança de quem atingiu Sonhos e sobreviveu para contar a história. Qual não é o nosso espanto quando nos apercebemos que enquanto fomos a Sonhos e voltámos, montaram nos Aliados a nossa versão do “I-am-sterdam”. Uma pessoa não pode fugir um bocado da cidade e há logo coisas novas para admirar.

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