
Porto
O tiro de partida do festival é dado no Teatro Campo Alegre, quinta 26, com a estreia nacional de (b)reaching stillness. A coreógrafa suíça Lea Moro explora a ideia de imobilidade, tendo como referência as naturezas mortas da arte barroca. Ao longo de uma coreografia tensa e inesperada, os corpos dos bailarinos balançam entre uma inactividade dinâmica e impassível, entre o afundamento e o ressurgimento, paradoxalmente acompanhados pela exuberante Sinfonia da Ressurreição de Gustav Mahler.
No dia seguinte, estreia no Teatro Nacional São João (TNSJ) o novo trabalho de Olga Roriz, veterana da dança portuguesa. A Meio da Noite ocupa um território abstracto, misterioso e introspectivo em que se dialoga com o cinema de Ingmar Bergman, em particular o filme A Hora do Lobo (1968).
Entretanto, na mala voadora, há bananas, limpezas de pele e tricot em palco. Em The Lonely Tasks (sábado 28 e domingo 29, voltando depois a 5 e 6 de Maio), a jovem coreógrafa e performer Mara Andrade documenta em tempo real a utilidade do corpo performativo, desempenhando tarefas rotineiras. A performance surge aqui enquanto teia de relações e interdependências: corpo-performance, performer-público, performer-espaço, performer-tempo.
Dia 28, a coreógrafa marroquina Bouchra Ouizguen regressa ao Rivoli, onde esteve em 2016 com o excelente Ha!, para apresentar, em estreia nacional, Jerada (foto), a sua joint venture com a Carte Blanche, considerada a maior companhia de dança contemporânea da Noruega. O espectáculo foi germinado em Jerada, Marrocos, e será, muito provavelmente, um dos pontos altos deste DDD.
O mesmo se pode dizer de Minor Matter, de Ligia Lewis, uma das criadoras mais interessantes do actual circuito de artes performativas, que trabalha entre Berlim e os Estados Unidos. Este espectáculo é o segundo capítulo da trilogia Blue, Red, White, interpretada por três bailarinos e sobre negritude, em confronto com a black box do teatro. Em Minor Matter, a cor vermelha materializa pensamentos entre o amor e a raiva num espaço poético e político (Teatro Campo Alegre, domingo 29).
A 2 de Maio, Serralves recebe Ana Rita Teodoro e três dos seus trabalhos da série Delirar a Anatomia: Sonho d’Intestino, Orifice Paradis e Palco. Delirar a Anatomia é uma colecção de “estudos febris” dedicados a uma parte do corpo, cruzando a investigação anatómica com referências iconográficas, literárias e empíricas. Neste caso, os intestinos, a boca e o joelho são, respectivamente, os protagonistas.
Mónica Calle com o seu poderoso Ensaio para uma Cartografia (Rivoli, dias 3 e 4), Amala Dianor com Quelque Part au Milieu de l’Infinit (Palácio do Bolhão, dia 6), Miguel Pereira com Peça Feliz (Palácio do Bolhão, dia 10) e o bailarino de flamenco Farruquito com Pinacendá (Coliseu do Porto, 12) são outros dos destaques do DDD para o próximo mês.