Playlist Time Out: o nome é B, Cardi B

Na semana do lançamento do seu primeiro álbum a playlist Time Out acolhe duas canções de Cardi B, antes de seguir pelo mundo rumo à Nigéria de Seun Kuti, à Alemanha de Alva Noto, à Inglaterra caribenha dos Sons of Kemet e à Lisboa de Violet, antes de se partir para o espaço com Sevdaliza. Boas viagens.
Playlist Time Out: o nome é B, Cardi B
Cardi B ft. 21 Savage – “Bartier Cardi”
Depois de se ter tornado na primeira rapper a chegar ao topo da tabela americana de singles este século com "Bodak Yellow" em 2017, Cardi B vê sair esta semana Invasion of Privacy, o álbum de estreia. Tal como "Bodak...", "Bartier Cardi" também faz parte desse álbum e, embora já tenha sido revelada pelo Natal do ano passado, só agora tem direito a vídeo colorido, voluptuoso e aquático. Cardi B tem das vozes e dos estilos mais facilmente reconhecíveis do hip-hop (tanto quando Nicki Minaj, por exemplo), contando aqui com a participação do não menos carismático 21 Savage. Juntos, desdobram com vagar um tratado sobre joalharia e veículos motorizados.

Cardi B – “Be Careful”
"Be Careful" é o novo-mesmo-novo single de Cardi B. O ambiente sonoro é mais desanuviado do que o habitual no repertório da intérprete nascida Belcalis Almanzar, mesmo que os versos formem um magoado adeus-ó-vai-te-embora. Cardi abeira-se da pop (passe o exagero) sem abdicar do minimalismo instrumental.

Seun Kuti & Egypt 80 – “Last Revolutionary”
Sete minutos de intensidade afrobeat pelo filho mais novo de Fela Kuti, que invoca os fundadores da nação nigeriana e distintos líderes passados, antes de deixar um recado curto, grosso e repetido: "Till we're free/ You and me/ You'll never see the last revolutionary." O caldeirão sonoro inclui Robert Glasper nos teclados. Um tema do álbum Black Times.

Alva Noto – “Uni Blue”
Não é muito frequente, na abundante produção do músico alemão Carsten Nicolai, aliás Alva Noto, o ouvinte tropeçar em pulsações que, com mais ou menos boa vontade, encaixam na categoria ritmos dançáveis. Não que a sua obra, cheia de microrganismos digitais trabalhados com rigor e imaginação, necessite de ultimatos ao movimento, mas os momentos no novo UNIEQAV em que isso acontece, como em "Uni Blue", pedem celebração.

Sons of Kemet – “My Queen Is Harriet Tubman”
Para quem acompanha estas coisas à distância, é provável que as primeiras suspeitas de que algo de extraordinário estava a acontecer no jazz feito no Reino Unido tenham chegado através dos Sons of Kemet, uma de várias formações do saxofonista e compositor Shabaka Hutchings. A festa que se escuta em "My Queen Is Harriet Tubman", do álbum Your Queen Is a Reptile, explica tudo em cinco minutos e qualquer coisa: jazz para dançar, efervescente, de classificação escorregadia, entre um carnaval no asfalto de Portobello Road e um baile ruidoso nas Caraíbas. Uma mistura notável.

Violet – “Abyss”
Desafia um pouco a lógica, mas há uma evidente frescura neste revisitar do tecno e das raves da transição da década de 1980 para 90 levado a cabo pela produtora e DJ portuguesa Inês Coutinho/ Violet. A excitação, com ou sem a ajuda de pastilhas redondas e coloridas, está toda em "Abyss", tema que encerra um EP, Badness, partilhado com BLEID.

Sevdaliza – “Human Nature”
Há 20 anos, o auto-tune começava a ser usado no processamento de vozes e "Believe" de Cher já mostrava o potencial extra-humano do software. Em 2012, Farrah Abraham levava a mutilação e remontagem digital do seu canto a extremos psicóticos e surrealistas em My Teenage Dream Ended. A holando-iraniana Sevdaliza acrescenta novos ângulos ao método nesta faixa quase intimista, uma balada com saudades do trip-hop do EP The Calling. O planeta Terra parece já ter ficado para trás.

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