Playlist Time Out: o regresso dos Beatles negros

SR3MM, o terceiro álbum dos Rae Sremmurd, poderá sair durante 2018 e deverá conter este notável reacendimento do mesmo tipo de propulsão que fez de "Black Beatles" o maior êxito até ao momento desta dupla de irmãos do sul dos EUA. O mesmo tipo de propulsão do hit de 2016, sim, mas agora ao serviço de uma canção com um sentido de urgência reforçado. Swae Lee e Slim Jxmmi (a titularidade de "Powerglide" é algo confusa, já que elenca o nome da banda assim como os seus membros em separado, além do convidado Juicy J) são das unidades mais criativas e com visão mais cristalina do hip-hop nesta década. Ouve-se "Powerglide" e é como se já se estivesse na auto-estrada.

A página na Wikipedia dedicada à produtora, cantora e DJ australiana Alison Wonderland menciona pelo menos três géneros (trap, chillwave, EDM) que, em separado ou ao monte, se ouvem nos parcos 2:56 de "High", sem que o volume de informação se transforme em showcase de habilidades. Um feito de organização, encadeamento de ideias e inquietude criativa de Alison Wonderland: um crescendo dilacerante marcado pela voz encharcada em eco do rapper americano Trippie Redd; uma ponte onde um ritmo tribal-digital anuncia algo de grandioso; uma resolução praticamente dançável, o som saturado e carregado de silêncio. Do álbum Awake, a sair a 6 de Abril.

O novo single do quinteto português lança Miguel Ribeiro e Rita Redshoes num dueto que, do ritmo às guitarras à preciosa mais discreta coloração trazida pelo trompete de Diogo Duque, encarna uma ideia de balada da década de 1980, pop e introspectiva q.b. O resto do álbum, Dear Future, conhecer-se-á a 6 de Abril.

A solo ou com o supergrupo (sublinhe-se o "super") Pistol Annies, Ashley Monroe é das mais brilhantes compositoras e intérpretes country. "Hands on You" anuncia o lançamento do seu terceiro álbum, Sparrow, a 20 de Abril, e nas suas orquestrações e guitarra contém as cores carregadas de um melodrama dos 1960s. A partir do terceiro uísque, é até plausível que se comece a imaginar uma Nancy Sinatra num Festival Eurovisão daquela década.

Até agora conhecida como uma contadora de histórias em idioma country, de economia de meios e clareza fotográfica, Kacey Musgraves investe agora por uma estrada que apenas ela vislumbrava. O destino? Aquele momento na transição para o século XXI em que rádios e pistas de dança se enchem de canções disco cujo hedonismo se mistura com a inquietação de uma era nova e incerta. Sonicamente, "High Horse" soa a regresso dos Stardust com voz da família de Sophie Ellis-Bextor. Golden Hour, o álbum, chegou hoje, 30 de Março.

Uma canção pop virtualmente imaculada, com a leveza das coisas primaveris, as janelas abertas para a voz e abundante espaço livre no soalho para se dançar. Tudo em prol da reconquista amorosa. Virá também no álbum The Future and the Past, a editar a 1 de Junho.

"Limbo" é a canção que se escuta no final do filme à medida que os créditos começam a rolar. Desta vez, New Max e Demo puxam por um apego a uma forma de pop-rock-soul-rhythm and blues que evoca fervores adolescentes da América entre os 1950s e 60 — pense-se numa banda sonora alternativa para Grease, desta vez em bom. Atenção ao sprint a partir dos 3:00, quando vozes, teclas, guitarra e o resto se soltam do colete de forças formal. Um novo álbum dos Expensive Soul está prometido para o último trimestre do ano.