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Thurston Moore: “O rock'n'roll é profundamente espiritual”

Estrela rock, herói da guitarra, improvisador e poeta. Falámos com Thurston Moore antes do filme-concerto que o vai levar ao festival Curtas Vila do Conde, esta quarta-feira 10

Escrito por
Ana Patrícia Silva
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Com os Sonic Youth, Thurston Moore revolucionou a arte do ruído. Alterou o curso do rock entre fúrias experimentais e epifanias espirituais, torturou guitarras e estraçalhou cordas em busca dos sons mais viscerais. Após a dissolução dos Sonic Youth, dedicou-se às guitarras acústicas, voltou a ligar-se à corrente para formar os Chelsea Light Moving, gravou discos a solo e em colaborações, deu aulas sobre a influência de William Burroughs na música e fundou uma editora de poesia. Aos 60 anos, continua a desbravar caminhos entre a improvisação, o noise e a composição acústica. Na quarta 10 apresenta-se a solo no festival Curtas Vila do Conde para musicar ao vivo quatro filmes de Maya Deren (1917-1961), um nome chave na história do cinema de vanguarda. Do programa constam as curtas-metragens The Witch’s Cradle (com Marcel Duchamp), At Land (com John Cage), Ritual in Transfigured Time e Meshes of the Afternoon, rodadas em 16 mm.

Depois de tocar a guitarra eléctrica como instrumento principal durante tantas décadas, como foi focar-se na guitarra acústica?

A guitarra acústica tem estado em segundo plano, mas fui sempre regressando a ela. Sempre esteve lá para mim e escrevo muitas músicas com ela. Nas férias, eu e a minha namorada Eva levamos as nossas guitarras acústicas para podermos tocar juntos.

A sua discografia é muito diversa e continua constantemente a procurar novos desafios. O que o leva a seguir sempre em frente?

Há muitos estilos de música na comunidade e eu sempre fui muito aberto a explorar
os diferentes tipos de música que estão a acontecer à minha 
volta... E até mesmo a música que não está à minha volta, tenho curiosidade sobre toda a música de todos os lugares. É verdade que a minha discografia pode parecer bastante diversa, com um pouco de metal, algum noise, alguma pop, algumas explorações, mas de alguma forma é um som distinto.

O rock parece ter perdido o seu apelo comercial, mas como forma de arte continua bem vivo. Como é que o rock pode beneficiar por estar longe do mainstream?

Não tenho a certeza se sei ou se alguma vez soube o que é ser comercialmente atractivo... Nunca me preocupei muito em perceber o que isso significa. 

As mulheres instrumentistas têm sido uma influência fundamental na sua carreira. O rock hoje é tão inclusivo quanto deveria ser?

Muitos dos álbuns mais recentes que mais me entusiasmam são feitos por mulheres. Actualmente os cartazes de muitos festivais são também encabeçados por mulheres, por pessoas não-binárias ou por músicos que se identificam como transgénero e isso é óptimo. Ando também a reparar que os festivais e as editoras estão a fazer mais esforços para encontrar músicas de novos territórios, o que também é positivo.

Entre o país de Trump [os Estados Unidos, onde nasceu] e o país do Brexit [o Reino Unido, onde actualmente vive], estes são tempos de fronteiras. Está preocupado com o mundo?

Estou preocupado com o universo. Nós sonhamos conhecer outras formas de vida de outros planetas ou galáxias. Eu sinto-me conectado a todos os terráqueos, a todas as criaturas que habitam a Terra. Essas tais “fronteiras” neste planeta são pequenas mentiras usadas para controlar as finanças, criadas por empresários com intenções óbvias. Eu voto contra os muros, recuso-me a participar em conversas que se concentram no que nos separa. Estou apenas interessado nas tecnologias, nas estratégias de comunicação, na música, na arte, no contacto que nos vai unir a todos.

No festival de cinema Curtas Vila do Conde vai musicar alguns filmes mudos de Maya Deren. O que o atraiu no trabalho dela?

A Maya Deren é um amor de longa data. Vi pela primeira vez algumas das suas curtas-metragens com Jonas Mekas [o “padrinho” do cinema de vanguarda americano, falecido em Janeiro] no Anthology Film Archives, em Nova Iorque. Ela é enfeitiçante, o seu trabalho é de certa forma tocante.

Como é que vai compor para esses filmes? Que guitarra(s) vai usar?

Vou improvisar para as curtas de Maya Deren como uma banda sonora ao vivo. Não vou olhar para o ecrã, vou só sentir o movimento da luz para tocar. Provavelmente vou usar uma Fender de 12 cordas vintage.

Que tipo de filmes costuma ver?

Eu e a minha namorada passamos muito tempo no cinema e em casa a ver a filmes antigos. Gostamos muito de filmes estrangeiros e filmes noir.

O álbum Rock n Roll Consciousness foi gravado no estúdio de Paul epworth, que fica numa antiga catedral em Londres. em Lisboa, vai tocar na igreja de St. George. interessam-lhe os espaços sagrados e a forma como moldam o som?

Sim, eu moro ao lado e também em frente a igrejas antigas. Adoro os sinos. Adoro entrar nesses espaços de dia e de noite. Adoro a luz e o som das catedrais antigas. Passo muito tempo a observar as pinturas e os vitrais nesses espaços, a decifrar as imagens
e as pequenas inscrições em latim. Gostaria de fazer mais isso, 
especialmente em Portugal.

O rock'n'roll é como uma experiência religiosa? Encontra esse tipo de transcendência e espiritualidade em mais algum lugar na sua vida?

Como passei a maior parte da minha vida dedicado e devotado a essa música, eu diria que sim, é profundamente espiritual. É a minha vida, são as minhas preces respondidas. O dom da música que encontro nos outros é o que me mantém inspirado e humilde. Vem com um trabalho duro e duradouro, amizades que duram uma vida, a família, a comunidade pelo mundo e uma obrigação de me manter fiel ao meu coração.

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