A Time Out na sua caixa de entrada

Procurar
Hélder Leite
© Eduardo MartinsPérola Negra

Mestres da pista: sem eles, a noite do Porto não era a mesma coisa

Conheça Luís Salgado, Céline Valente e Hélder Leite, figuras incontornáveis do Maus Hábitos, Pérola Negra e Plano B.

Escrito por
Patrícia Santos
Publicidade

Com programações eclécticas, pensadas para agradar a diferentes públicos, o Maus Hábitos, o Plano B e o Pérola Negra tornaram-se, nos últimos anos, paragens obrigatórias da noite portuense. Em parte, graças a quem trabalha nos bastidores – seja a programar ou a gerir –, para criar alguns dos melhores ambientes que a cidade tem para oferecer. Para descobrir os seus percursos e desvendar alguns dos segredos para o sucesso, falámos com Luís Salgado, Céline Valente e Hélder Leite, figuras incontornáveis destes espaços emblemáticos. Até porque, sem eles, a noite do Porto não era a mesma coisa.

Recomendado: As rainhas da noite: três sítios no Porto para ver espectáculos de drag queens

Os donos da noite

Luís Salgado
© Eduardo Martins

Luís Salgado

Músico, Maus Hábitos

É difícil falar do Maus Hábitos sem mencionar Luís Salgado, programador do emblemático e ecléctico espaço portuense que junta, numa simbiose perfeita, música, arte, comida, bebida, café e festa. Curiosamente, a parceria de sucesso, que foi oficializada em 2014, nasceu de um acaso.

“Antes de qualquer outra coisa, sou músico e, desde a abertura deste projecto cultural, em 2001, que vinha cá actuar com as bandas que integrava. Com isto, acabei por conhecer o Daniel Pires, que é o dono. Quando me preparava para comemorar um aniversário redondo [em 2012], desafiado por uns amigos que questionavam a minha capacidade de organizar um festival, perguntei-lhe se me deixava fazer aqui a celebração. Ficou reticente, é certo, mas lá me cedeu a sala principal”, começa por contar. 

O resto pode dizer-se que é história. Com uma programação composta, essencialmente, por bandas de amigos, Salgado superou todas as expectativas e, no ano seguinte, voltou a festejar o aniversário com um minifestival. “Nessa espécie de segunda edição, já tinha o Maus Hábitos todo disponível e consegui trazer alguns grupos mais conhecidos para actuar. Aí, o público chegou perto das 2000 pessoas. Algumas tiveram de ficar à porta”, acrescenta.

Em Abril, cerca de três meses após a realização do evento, Pires fez a pergunta que mudou tudo: “Consegues fazer isto todas as semanas?” Apanhado de surpresa, o músico escolheu a via da sinceridade. “Disse-lhe que não sabia, até porque me faltava experiência e conhecimento em programação, mas estava disposto a tentar. Foi assim que, sem nunca ambicionar, me tornei programador”.

A pouco e pouco, Luís, natural de Tomar, mostrou que tinha realmente jeito para a coisa. “O facto de estar no mundo da música, ainda que apenas como artista, facilitou, até certo ponto, o trabalho. O demais fui aprendendo com o tempo”. A capacidade de juntar à sua volta pessoas novas terá sido um dos motivos do sucesso. “No primeiro mês, dediquei-me a fazer reuniões com todos os colectivos que havia na cidade para perceber o que estava a acontecer à nossa volta e como estes grupos podiam fazer coisas aqui, de concertos a clubbing e artes plásticas”, explica o profissional. Tudo para devolver a velha glória ao Maus Hábitos.

“Já éramos uma instituição no Porto, porém, tivemos um período mais complicado do qual queríamos recuperar. A ideia era voltar a estar sempre entre as primeiras opções de quem queria sair à noite e ser um ponto de referência não só de qualidade, mas de liberdade e experimentação”.

Salgado também tratou de levar o projecto para fora de portas. “Enquanto espaço físico, com muita pena minha, não temos como crescer. Então começamos a apostar na realização de eventos noutros sítios. Surgiram assim, por exemplo, os Concertos de Bolso, na Feira do Livro, e o circuito Supernova, que promove actuações fora do Porto. Até porque, sendo de uma cidade pequena, sei bem o que é ter de me deslocar para ir a concertos. Com estas iniciativas, conseguimos levar iniciativas a sítios em que, sem o apoio de uma marca conhecida e consolidada, seria mais difícil. No fundo, quisemos democratizar a arte ao torná-la mais acessível a todos”.

Cerca de uma década após o início deste percurso, o músico faz um balanço positivo. “Ainda há muito que queremos fazer, mas há uma série de objectivos já conseguidos. Nomeadamente, ser um espaço em que todas pessoas se sentem bem e livres para ser quem são, independentemente da idade, orientação sexual, género, nacionalidade ou preferência musical. Actualmente, é comum ver punks a beber cocktails no Beyoncé Fest e quem ouve Death Metal também ouve pop, por exemplo, o que era impensável num passado não muito distante”.

Da programação dos próximos meses, vale destacar o concerto de Cabrita (2 Fev). Depois de um aclamado disco de estreia (2020), o saxofonista apresenta Umbra, "que difere do seu antecessor pela abordagem mais sombria, relacionada a questões circundantes à nossa existência - a dos vivos - e à maneira como nos mantemos por cá".

Igualmente imperdível é o espectáculo de Wakadelics (16 Fev), grupo de Viana do Castelo conhecido por explorar vários estilos musicais. Naquela que é a sua primeira actuação no Maus Hábitos, a banda apresenta Mau Olhado, o mais recente EP.

Rua Passos Manuel, 178, 4º andar. Seg 18.00-02.00, Ter-Qui 12.00-02.00, Sex-Sáb 12.00-06.00

Céline Valente
© Eduardo Martins

Céline Valente

DJ, Plano B

Numa altura em que quase não havia mulheres com papéis de relevo nos bastidores da noite — ainda hoje estão em minoria —, Céline Valente assumiu a programação do Plano B, um dos espaços pioneiros da movida portuense. A história, que começou a escrever-se há cerca de dez anos, não podia ter tido um início mais inusitado.

“É engraçado porque, na altura, não era um sítio que me chamasse à atenção. No entanto, tinha vários amigos, sobretudo na área da música, que adoravam e frequentavam com regularidade. Inicialmente, fui um pouco arrastada por eles, mas rapidamente percebi que era um local onde me sentia bem, até porque tinha uma oferta cultural bastante diversificada. A nível de música, passava tudo aquilo que gostava e consumia”, conta Valente.

Quanto mais ia ao Plano B, mais pessoas conhecia e, a certa altura, o seu caminho cruzou-se com o dos proprietários. “Aconteceu de forma inesperada. Naquela época fazia jornalismo musical, pelo que andava sempre em entrevistas e concertos. Depois, um pouco por acaso, perguntei aos donos se tinham alguém a trabalhar na parte da comunicação, que se dedicasse a promover o espaço e os eventos. Disseram que não, mas estavam à procura e chamaram-me para uma reunião. Fui e acabei por ficar com o cargo”.

O percurso da artista, que já actuava como DJ, não foi linear. “Desde que comecei, em Julho de 2014, faço um bocado de tudo, pelo que é difícil indicar um cargo em específico. Agora, estou mais dedicada à programação dos concertos e da produção dos eventos externos, mas também cuido da comunicação, das redes sociais. Enfim, do que for preciso”.

Assim como Céline, o Plano B, que é uma referência desde a abertura, há quase duas décadas, também já não é o mesmo. “O público, por exemplo, foi algo que mudou imenso. É muito mais diverso do que há uns anos. Em termos de espaço, a grande mudança aconteceu em 2021, quando Ricardo Costa se tornou proprietário. Pode dizer-se que trouxe uma nova vida e versatilidade à casa”.

Sem sacrificar a essência ou o ambiente intimista e próximo dos artistas, o bar ganhou um palco maior, sistemas de luz e som que permitem uma experiência imersiva, um programa de concertos alargados e nova decoração. O primeiro andar, por exemplo, tornou-se mais acolhedor graças aos novos sofás vermelhos, ideais para quem só quer beber um copo e dar dois dedos de conversa. Na sala do fundo, fica a cabine do DJ, capaz de se transformar numa terceira pista quando necessário. Junta-se às duas no piso inferior, onde os novos palcos e tela de projecção permitem receber bandas com 12 elementos. Na sala Cubo, voltada para a música electrónica, as condições de acústica e de luz foram melhoradas.

Apesar de todas estas transformações, Céline acredita que a localização e a programação são mesmo as grandes mais-valias. “Temos uma agenda muito ecléctica, tanto a nível de DJs como de concertos, que inclui nomes nacionais e internacionais. Também queremos que as pessoas possam ampliar a sua bagagem cultural e conhecer novas propostas”, explica Céline, que começou como DJ no Plano B, onde ainda hoje é residente.

“Sou uma eterna apaixonada pela música. É através dela que consigo aceder ao meu estado mais elevado de ser. Não há nada que se compare à sensação de estar numa cabine com 300 ou mais pessoas à tua frente, a partilhar e receber energia, pelo que faço questão de continuar a tocar, sobretudo nesta casa, com a qual tenho uma ligação emocional muito forte”. Uma ligação que traz gravada na pele na forma de um B tatuado no pulso.

Como seria de esperar, há muita coisa a acontecer no bar durante os próximos meses. Conte, por exemplo, com concertos da argentina Ms. Nina (24 Fev), cantora, compositora e especialista em reggaeton, dembow, hip-hop e trap, e de Ana Lua Caiano (5 Abr), que explora a fusão musical entre a tradição portuguesa e a electrónica, misturando sonoridades do passado com beat-machines, sintetizadores e sons do quotidiano, trazendo assim a herança tradicional portuguesa para o mundo moderno.

Rua Cândido dos Reis, 30. Qui-Sáb 22.00-06.00

Publicidade
Hélder Leite
© Eduardo Martins

Hélder Leite

Empresário, Pérola Negra

O cabaret e bar de striptease mais famoso da cidade reabriu como discoteca em Novembro de 2018, pelas mãos de Hélder Leite, que sempre esteve ligado à hotelaria. Ainda que as sessões de sexo ao vivo tenham ficado para trás, o Pérola Negra mantém a decoração kitsch de outros tempos – os sofás vermelhos, as paredes espelhadas e os varões que quase todos na cidade reconhecem.

“Por algum motivo, este sítio desperta-me a curiosidade desde novo, numa altura em que nem sequer tinha idade para cá entrar. Conhecia-o de ouvir falar e de ver fotografias. Um dia tive a oportunidade de ver como realmente era e fiquei deslumbrado com tudo, do ambiente à história e ao que representa”, conta. Nasceu ali a vontade de abrir uma discoteca ou clube, sonho que começou a realizar-se em Setembro de 2017, quando comprou o espaço.

Tratou então de preparar uma casa inclusiva, com uma programação cultural capaz de abranger todas as pessoas e comunidades. “A ideia é que todos aqueles que procuram momentos de descontracção, com boa música e boas bebidas, se sintam bem aqui. Que sejam livres para se divertir e dançar sem amarras ou inibições. Privilegiamos, de igual modo, o contacto com o outro e as relações, pelo que contamos com uma zona de estar”, explica Hélder, que fez questão de manter o espaço o mais fiel possível à configuração original.

“O objectivo nunca foi fazer grandes mudanças. Apenas criar melhores condições para o público, pelo que mantivemos a decoração e reforçámos o sistema de som e luzes. Depois, apostámos muito na programação, que é semanal e permite estabelecer parcerias com produtoras e artistas da cidade. Esta vai bastante além da parte musical. Temos de tudo, desde performance a teatro e exposições”, enumera o empreendedor de 43 anos.

A variedade possibilita chegar a vários públicos, de curiosos a velhos conhecidos. “Volta e meia, entra aqui alguém mais velho, meio à espreita, a ver como estão as coisas. Ainda no outro dia estava cá para uma reunião e chegou um senhor que passou na rua e ficou intrigado. Acabou por partilhar um pouco de quando frequentava o espaço, nos anos 90”.

Das actividades futuras, vale realçar o DJ set de Stavroz (3 Fev), quarteto belga, e o concerto de Tal Fussman (13 Abr), artista de Tel Aviv que cria música que funciona em vários ambientes e transcende géneros musicais.

Rua de Gonçalo Cristóvão, 284. Horário de acordo com a programação

Mais no Porto

  • Bares

Não há nada mais terapêutico do que uma boa noite de copos entre amigos, certo? Por este motivo, é imperativo saber onde encontrar os melhores bares no Porto, para começar bem a noite ou ficar noite dentro. Conhecer as bebidas da moda ou em que bar se pode sentar a ver a bola também é importante. A pensar nisso, preparámos-lhe esta lista com sugestões para um copo ao fim do dia, para admirar a cidade ou beber um cocktail. Todos mais do que prontos para o receber. Mas tenha juízo e beba com moderação.

  • Bares
  • Cafés/bares

Se há coisa que fazemos bem, é beber um cafezinho, várias vezes ao dia. É vital. E se, volta e meia, não ingerirmos uma dose de cafeína, não somos os mesmos e ninguém nos atura. A pensar nisto e neste hábito tão enraizado na cultura e sociedade portuguesas, é que lhe preparámos esta lista com os cafés no Porto que tem de conhecer. Uns mais clássicos e antigos, outros mais modernos e com cafés de especialidade, moídos na hora, vindos de vários cantos do mundo. Agora já não tem desculpa para adiar mais aquele café há muito planeado.

Recomendado
    Também poderá gostar
    Também poderá gostar
    Publicidade