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Com o foco apontado para a dramaturgia em língua portuguesa e para o teatro de repertório, a próxima temporada do Teatro Nacional São João (TNSJ) leva a cena 31 espectáculos – dos quais 11 são estreias absolutas. Nuno Carinhas, Victor Hugo Pontes e Miguel Loureiro encenaram as próximas criações do teatro portuense, cuja programação para o período entre Setembro deste ano e Julho de 2026 foi anunciada esta terça-feira. E há um programa recheado de novidades, incluindo uma peça do italiano Romeo Castellucci, protagonizado por Isabelle Huppert.
“Há ênfases muito claras na programação desta temporada e, ao longo do ano de 2026, isso vai tornar-se especialmente notório. Há uma aposta evidente na dramaturgia de língua portuguesa, não apenas de autores portugueses, e um consistente reforço do eixo de programação para a infância e juventude. Também temos projectos de carácter comunitário e social que vão ter uma especial relevância em 2026”, explica Pedro Sobrado, presidente do conselho de administração do TNSJ que, em breve, vai ter um novo director artístico.
A nova temporada arranca de 18 a 28 de Setembro no Teatro Carlos Alberto (TeCA), com a estreia de Vermelho, uma peça de John Logan sobre o pintor Mark Rothko e o seu assistente Ken, interpretada pelo Ensemble – Sociedade de Actores. Já entre 2 e 5 de Outubro, o Teatro Nacional de São João recebe Língua Brasileira, encenada por Felipe Hirsch e Tom Zé, dois grandes nomes da cultura brasileira contemporânea, e que reúne em palco seis actores e quatro músicos “para dar a ver e a ouvir a epopeia dos povos que formaram o português escrito e falado no Brasil”, refere a organização em nota de imprensa. É a primeira vez que este espectáculo é apresentado na Europa.
Outro dos destaques do arranque da programação é uma homenagem ao encenador Ricardo Reis, que completa 80 anos este ano. RP 80 é o programa que pretende homenagear o ex-director artístico do TNSJ “que criou o seu ideário e pensou toda a estrutura”. O tributo inclui a reposição das peças Turismo Infinito (16, 17 e 19 de Outubro no TNSJ), com textos de Fernando Pessoa, e al mada nada (16, 18 e 19 no TeCA), com textos de Almada Negreiros. Ambas as peças são “uma espécie de lado A e lado B do génio teatral e criativo de Ricardo Reis”, sublinha Pedro Sobrado. Será também lançado o livro Despesas de Representação - Ditos e Escritos (1975-2025), com “50 anos de textos e entrevistas nos quais Ricardo Pais desenvolveu uma reflexão acerca do teatro, dos textos dramáticos, dos autores, das práticas e das linguagens cénicas”, e haverá ainda uma oficina dirigida a jovens actores, de 15 a 27 de Setembro.
Três novas produções próprias
Nuno Carinhas está de volta ao TNSJ, sete anos depois, “e vai encenar três poemas de Robert Walser, um autor de culto para uma sociedade minúscula de leitores e desconhecido do grande público”, refere Pedro Sobrado. Em Novembro, o TNSJ estreia a primeira produção própria da temporada, com Branca de Neve & Outros Dramalhetes, de 20 de Novembro a 14 de Dezembro.

Inventão (título provisório), inspirado na obra de Manuel António Pina e com direcção cénica de Victor Hugo Pontes, é a segunda produção própria do TNSJ, com um espectáculo “que celebra o mundo às avessas de um dos nossos maiores poetas e autor da mais prolixa e importante obra dramática portuguesa para a infância e juventude”. A peça estará em cena ao longo de um mês, de 12 de Março a 12 de Abril, e será musicada pel’A Garota Não, que se estreia no universo das artes performativas.
A terceira e última produção própria desta temporada é a provocadora e polémica peça brasileira O Beijo no Asfalto, de Nelson Rodrigues, com encenação de Miguel Loureiro. “Em Maio realizámos audições públicas para actores e actrizes brasileiros que residem em Portugal. Tivemos aproximadamente 300 candidaturas, 80 ou 90 actores e actrizes estiveram nessas audições e nove já foram seleccionados para integrar este espectáculo”, sublinha Pedro Sobrado. A peça vai estar em cena no TNSJ entre 18 de Junho e 5 de Julho.
De França a Itália, as peças internacionais
A programação para 2025-2026 conta ainda com projectos internacionais que chegam de vários países para o palco do Teatro São João. De França, entre 15 e 17 de Janeiro do próximo ano, chega Sentinelles, com texto e encenação de Jean-François Sivadier e inspirado no romance do escritor austríaco Thomas Bernhard, O Náufrago.

Já entre 17 e 19 de Abril, estreia Bérenice, um espectáculo de Roméo Castellucii, que convidou a actriz Isabelle Huppert para protagonizar esta peça. “O espectáculo é protagonizado pela maior entre as grandes actrizes europeias e é um confronto com um grande monumento dramático. É um espectáculo sobre o desejo, a perda, o sacrifício, um espectáculo de uma beleza e de uma radicalidade fulgurantes”, descreve o responsável do TNSJ.
Outro dos grandes destaques da programação internacional acontece no Teatro Carlos Alberto, de 13 a 17 de Abril. Buchettino, de Chiara Guidi, é um espectáculo construído a partir do conto O Pequeno Polegar, de Charles Perrault. “A Chiara Guidi é o nome central do teatro para a infância e juventude na Europa”, sublinha Pedro Sobrado, acrescentando que este programa vai envolver a remontagem de um espectáculo histórico e propõe “uma rara experiência sensorial, transformando o palco num contentor artístico com 50 camas, onde as crianças se deitam para ouvir a história narrada por uma actriz”.

A aposta nas companhias do Norte e o reforço no teatro de infância
Nesta nova temporada, o TNSJ pretende também “reforçar a sua colaboração com companhias de teatro sediadas na região Norte, especialmente na cidade do Porto, encenando textos de grandes autores do repertório dramático universal”. Além da Ensemble — Sociedade de Actores, destacam-se outras companhias, como a companhia lisboeta auéééu, que estreia no Teatro São João Woyzeck, de 23 a 26 de Outubro; o Teatro da Didascália, que traz Santa Joana dos Matadouros ao TeCA, de 6 a 16 de Novembro; e ainda a Estrutura, com a peça Titus, uma reinterpretação da obra de William Shakespeare assinada por Cátia Pinheiro, Hugo van der Ding e José Nunes, entre 27 de Novembro e 7 de Dezembro.
Destaca-se ainda o Teatro da Palmilha Dentada, que entre Janeiro e Julho, num formato informal e de improviso, organiza o ciclo de café-teatro Já Não Há Primavera, no Salão Nobre do São João.
Também a programação para a infância e a juventude foi reforçada nesta temporada, com mais espectáculos dirigidos a crianças e jovens apresentados no palco do Teatro Carlos Alberto, como, por exemplo, Um Poeta em Forma de Assim - Visita guiada à cabeça de Alexandre O’Neill, de Malu Vilas Boas, entre 5 e 8 de Março; ou Hamlet Sou Eu, um espectáculo do Teatro Praga concebido por Cláudia Jardim, Diogo Bento e Pedro Penim, que vai estar em cena de 18 a 21 de Março.
Paralelamente, estarão também de volta várias iniciativas, como o ciclo de concertos MUSICAL-MENTE, o Festival Internacional de Marionetas do Porto (FIMP), um baile de máscaras no Dia Mundial do Teatro e um Festival da Voz, de 9 a 12 de Julho do próximo ano, com instalações, concertos, conferências e criações comunitárias. Haverá ainda projectos feitos em parceria com várias comunidades, entre as quais sem-abrigo, reclusos e migrantes. A programação completa pode ser consultada online.
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