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GUIdance: Uma década de dança celebrada no feminino

Escrito por
Ana Patrícia Silva
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Na décima edição do Guidance, o palco pertence à força criativa das mulheres. Aqui tem o programa do festival internacional de dança de Guimarães, onde quase todos os espectáculos têm a autoria de coreógrafas.

Na dança clássica, o ideal de mulher era leve e elegante, um símbolo de pureza espiritual. Com a dança moderna, a mulher começa a ocupar o lugar de autora e a celebrar a corporalidade real. A dança é usada como meio de emancipação para subverter os ideais culturais dominantes. Mais do que musas, as mulheres passam a ocupar o palco como criadoras, construindo novas identidades, novos corpos e novos espaços feministas.

O GUIdance completa este ano uma década e celebra-a a reconhecer e a reforçar o papel da mulher como criadora. O festival inaugura na quinta 6 com Tânia Carvalho. Em Onironauta, a coreógrafa coloca em palco sete corpos saídos do limbo de um sono desperto e acompanha-os ao piano. Depois de estrear no Festival d’Avignon, Esplendor e Dismorfia é apresentado pela primeira vez em Portugal na sexta 7. Trata-se de uma investigação sobre o que são monstros e metamorfoses corporais, numa colaboração entre o construtor cénico e sonoro Jonathan Uliel Saldanha e Vera Mantero, a coreógrafa em destaque nesta edição do GUIdance. Na quarta 12, Vera Mantero apresenta também Os Serrenhos do Caldeirão, onde se debruça sobre a desertificação e a desumanização da Serra do Caldeirão, no Algarve.

Outwitting the Devil (sábado 8), de Akram Khan, é inspirado num fragmento da Epopeia de Gilgamesh que é considerado o primeiro poema ambiental do mundo. Interpretado por um elenco de bailarinos de diferentes culturas e gerações, desafia as suposições da cultura patriarcal e reflecte sobre o potencial destrutivo do homem.

Marlene Monteiro Freitas percorre o delírio, a loucura, a ilusão e a revelação em Bacantes (quinta 13), a tragédia grega de Eurípides. Em direcções opostas e contraditórias, há corpos que se desmembram, estatutos sociais colocados à prova, fé e crenças testadas ao limite. A dupla de coreógrafos e bailarinos Sofia Dias & Vítor Roriz leva ao extremo a tensão existente entre os dois na peça O Que Não Acontece (sexta 14). Tudo começa com um espaço vazio que se enche de palavras e gestos. No fim, sobressai o desejo de construir um espaço comum.

Sábado 15 vai ser um dia muito especial. Marie Chouinard apresenta duas peças importantes do seu repertório: A Sagração da Primavera (1993) e Henri Michaux: Mouvements (2011). A bailarina e coreógrafa canadiana combina o profundo respeito pelo corpo com o desejo de transgredir as suas possibilidades. Ao longo de mais de 40 anos de carreira, destruiu as expectativas clássicas da beleza feminina, confrontando-as com a realidade do corpo de uma mulher. Procurando despertar movimentos na misteriosa intimidade de cada pessoa, usa a performance como um meio subversivo para agir fora das expectativas sociais e libertar-se dos tabus.

Henri Michaux: Mouvements
© Marie Chouinard

O Centro Internacional das Artes José de Guimarães (que acolhe o evento juntamente com o Centro Cultural Vila Flor) vai ser o palco de novos criadores, com duas peças criadas de propósito para o festival. Rite of Decay (sábado 8) é uma dança sobre a morte. A coreógrafa Joana Castro parte da ideia da gestão de um corpo em decadência, que se expõe e que falha, para usar o fim do mundo como metáfora para a nossa própria degradação. Dias Contados (sábado 15) olha para as grandes cidades que são hoje lugares fantasma, feitos para turistas e postais, enquanto invisibilizam a desigualdade e os fossos sociais. É sobre Lisboa, mas poderia ser qualquer outra grande cidade – estamos a olhar para ti, Porto. Através de gestos, imagens e palavras, Elizabete Francisca e Vânia Rovisco repensam modos de vivência, de resistência e de insurreição.

Os restantes espectáculos do festival são duas sessões à tarde destinadas a famílias e ao público mais jovem. Caixa para Guardar o Vazio (sábado 15) é uma escultura composta por madeira, espelho, aço e um tapete de algodão negro, mas é também um lugar para explorar com o corpo e os sentidos. A caixa é activada pelos corpos de dois bailarinos, que dialogam entre si e com o público através do movimento e da voz, proporcionando às crianças um papel activo e criador. Em Des Gestes Blancs (domingo 16), Sylvain e Charlie Bouillet, um pai e um filho de oito anos, rodopiam, giram, pulam e equilibram-se. Encontram obstáculos que precisam de ser superados e apoiam-se com base na confiança mútua. É uma jornada de descoberta para o adulto e para a criança.

O GUIdance não se esgota em cima do palco e oferece um olhar aprofundado sobre a dança contemporânea através de debates, masterclasses, ensaios abertos e conversas pós-espectáculo com as criadoras e criadores.

A Sagração da Primavera
© Marie Chouinard

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