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Verónica Dias, padeira da Brites: “Cada vez há mais mulheres na área, precisamos é de algum palco”

A padeira de 29 anos fala sobre o lugar da mulher na panificação, do seu percurso e dos pães apetitosos e dos muitos bolos gulosos que vende e produz na sua nova padaria junto ao Marquês.

Escrito por
Mariana Morais Pinheiro
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Já Janeiro ia avançado no calendário quando Verónica Dias abria, junto ao Marquês, as portas da Brites, a padaria e pastelaria de fabrico artesanal, que aposta na fermentação natural para a confecção dos seus pães e bolos. Foi assim baptizada em homenagem à mais famosa de todas as padeiras portuguesas: a padeira de Aljubarrota, também chamada de Brites de Almeida.

No rescaldo do Dia da Mulher, como é ser padeira num meio dominado por homens?

É um desafio representarmos uma autoridade como mulheres na área porque, normalmente, em todas as áreas temos de lutar, em todas as áreas há sempre uma luta interna, por parte de quem é mulher, para ocupar o seu espaço e ver reconhecida a sua autoridade. Por isso é que o projecto se chama Brites que, para nós, significa resiliência. Queremos que a resiliência seja considerada uma coisa positiva, associada a técnica, a profissionalismo, a responsabilidade, a um cargo importante. Porque, normalmente, quando as mulheres são resilientes, são rotuladas pela sociedade como chatas ou autoritárias. A Brites surgiu nesse sentido. Esta é, notoriamente, uma área dominada por homens, mas há cada vez mais mulheres padeiras e pasteleiras. Acontece é que às vezes são um bocadinho abafadas. Até há muitos anos eram elas as responsáveis pela produção do pão. Nos fornos comunitários e ainda hoje nas aldeias, as pessoas mais antigas que fazem o pão não são homens, são mulheres.

Quando é que aconteceu essa mudança de tarefas?

O papel do homem na área começou com a industrialização [da panificação], porque este era considerado um trabalho mais pesado e associado a um horário nocturno. As mulheres ficavam em casa a cuidar dos filhos, já se sabe. Mas cada vez há mais mulheres na área, precisamos é de algum palco. E de não nos importarmos de ter essa posição, a de nos verem como impertinentes ou chatas. É preciso termos o nosso lugar e assumirmos o nosso lugar, por mais que isso incomode. 

Como surgiu o pão na tua vida?

Estive associada a um projecto, o Intrigo, na Ribeira, muito ligado ao pão, e o gosto surgiu aí. Lá era obrigatório e mandatório ter bom pão. Nesse sentido, fui aprender de uma forma muito despretensiosa — não sabia o que era fermentação natural, nem massa mãe, nem nada. Sabia que bom pão comia-se no Alentejo, então, fui até lá para aprender com as pessoas que faziam pão em fornos comunitários, em casa em fornos a lenha, ou com padarias com processos ainda muito artesanais. Com a diferença de que não havia muito fundamentalismo à volta disso. Eu comecei a aprender a fazer pão de fermentação natural, sem saber que era pão de fermentação natural, a chamada massa velha ou isco, feita com a massa do dia anterior. Sou padeira desde 2015 e nessa altura ainda não se falava de fermentação natural. Primeiro aprendi de uma forma muito prática e empírica e só depois é que aprendi a ciência por de trás do pão. Recorri e ainda recorro a literatura internacional. 

Pastelaria, Padaria, Brites, Croissants, Porto
©DRBrites, Croissants

Como é o teu pão?

No pão, a minha identidade é ir buscar a simplicidade das farinhas ou fazer um mix com algumas. Tudo com a melhor qualidade que encontramos, mas sem muitos fundamentalismos. A nossa farinha não é biológica, mas é moída a mó de pedra e maioritariamente portuguesa.

E o que é que as pessoas podem encontrar aqui?

Tenho alguns pães mais especiais com adições, como azeitonas ou ervas aromáticas, mas mais ao fim-de-semana. Diariamente tenho trigo, trigo e centeio, de azeite, baguete de tradição francesa e os especiais, de aveia, de sementes, de mistura ou integral e malte. Na pastelaria, todos os dias temos croissants, croissants brioches e recheados, pain au chocolat, cookies, bolas de Berlim e palmiers. Faço tudo com manteiga — um quilo de manteiga custa 10€/kg, enquanto um quilo de margarina fica por 1,50€/2€ — por isso, obviamente que os nossos produtos são mais caros, mas a margem de lucro também é menor. Não tenho as máquinas mais robotizadas, não tenho o chocolate mais barato, nem os sucedâneos, mas tenho uma boa matéria-prima. Os cremes, os recheios e até a própria gianduia, uma mistura de chocolate e avelã, com a qual recheamos alguns croissants, é feita cá. Temos uma grande oferta, tendo em conta que abrimos há pouco tempo e ainda tenho duas pessoas a aprender. Fui “obrigada” a contratar porque todos os dias, ao meio-dia, tudo esgotava.

O pão?

Tudo.

Tudo?

Tudo.

Rua da Constituição, 661(Marquês). 92 814 9181. Ter-Sáb 08.30-18.30, Dom 09.00-13.00

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