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Andreia Garcia: "Também se pode fazer arquitectura através da palavra"

Escrito por
Maria Monteiro
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No princípio era a arquitectura, mas nunca só a arquitectura. Andreia Garcia (n. 1985, Guimarães) sempre viu a arquitectura como um campo interdisciplinar e abrangente que se concretiza também na exposição e reflexão sobre projectos, obras e territórios. Esta dimensão crítica do trabalho arquitectónico, curatorial e editorial reflecte-se na curadoria geral que assina na Bienal de Arte Contemporânea da Maia, a decorrer até 27 de Julho. Professora nas universidades do Minho e da Beira Interior, curadora e co-responsável pela Galeria de Arquitectura, no Porto, Andreia Garcia é um nome a que deve estar atento.

É impossível dissociar território e arquitectura. Como é que Guimarães inspirou o arranque do teu percurso?

Guimarães é um caso paradigmático da transformação de uma cidade que respeitou a sua memória medieval na forma como foi apropriando a contemporaneidade, mesmo antes da Capital Europeia da Cultura (CEC). Em 2012, fui convidada para programar na CEC quando investigava a cidade como cenário e palco de eventos para a minha tese de doutoramento. Tive muita sorte em poder crescer numa cidade que se tornou nesse exemplo de urbanidade.

Criaste projectos para outras áreas, como o centenário do Theatro Circo. Querias pisar outros “palcos”?

Tanto a minha investigação como a minha prática tentam relacionar arte, arquitectura e representação. O meu trabalho na CEC e no doutoramento focava a cidade como espaço cénico, que pode ser a rua, a praça, o teatro, o museu ou o contentor. Provoco nos artistas uma reflexão sobre arquitectura e cidade e provoco nos arquitectos uma reflexão sobre arte.

Em que momento decidiste criar o teu ateliê, Andreia Garcia Architectural Affairs?

Na simbiose entre arte e arquitectura, foram surgindo vários convites e senti necessidade de aumentar o meu campo de acção e capacidade de resposta. Quando parto para o estabelecimento da minha prática, encaro-a como não sendo exclusivamente arquitectura, curadoria ou editorial – daí o nome. São os “assuntos da arquitectura”, porque acredito que é possível e legítimo fazer-se arquitectura também através da palavra, da reflexão, da exposição, do efémero e da crítica. Reuni várias ferramentas e pessoas para ter esse perfil multidisciplinar e criei um ateliê com arquitectos, produtores e designers.

Recentemente, assinas a curadoria de eventos como o Mês da Arquitectura da Maia ou a Bienal da Maia. Porquê este enfoque na Maia?

Numa altura em que se fala de uma certa “disneyficação” dos núcleos urbanos, cidades de pequena e média dimensão como a Maia têm um grande potencial de reflexão. É para estes “segundos anéis” que somos convocados, na impossibilidade de responder aos valores das rendas. Além disso, a Maia preserva as suas memória e identidade, mesclando-as com o contemporâneo. A sustentabilidade urbana pode estar aí.

A tua curadoria é assumidamente multidisciplinar. Porquê cruzar a arquitectura com outras artes?

É mais enriquecedor actuar numa dimensão interdisciplinar. Não temos de abandonar a nossa especialização; podemos ter uma visão conjunta. Pensar a cidade é uma obrigação de todos os eixos disciplinares, não é uma exclusividade do arquitecto ou do urbanista.

A tecnologia, o ambiente e a mobilidade são questões prementes para o futuro da arquitectura.

Essas questões devem colocar-se não só à arquitectura, mas a todos nós. Todos temos uma responsabilidade em pensar a cidade que queremos para o futuro. A questão do ambiente é muito preocupante, mas, mais do que o impacto ambiental – para o qual já há medidas, insuficientes, mas há –, devemos pensar sobre o impacto real no nosso dia-a-dia. Se, por exemplo, a acessibilidade for tão rápida e tão volátil como se prevê, se vamos substituir o Homem pela máquina, o que vamos fazer no resto do dia? E se o nível da água subir, será que vamos ter espaço para habitar? Cabe-nos questionar isto.

Além dos conhecimentos técnicos, que mensagem passas aos jovens aspirantes a arquitectos?

Sou professora de Projecto e, enquanto aluna, as minhas maiores referências foram as que despertaram a dimensão mais sensorial e humana da arquitectura. Não acho que a arquitectura se faça por modelos conceptuais ou receitas aplicadas. Parece-me que o novo só se faz através da sensorialidade, do sentir a materialidade, o território e o lugar. É essa dimensão sensorial que tento passar, se calhar ao ponto de esquecerem o olhar e a visão e tirarem partido dos outros sentidos.

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