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Tudo cheira a novo, a coisas acabadas de estrear: dos têxteis que aconchegam os quartos, às poltronas estofadas do bar, das madeiras envernizadas do restaurante, aos produtos de cosmética que espalham o seu aroma contagiante pelos quatro cantos do spa. Mas os ecos do passado parecem pairar sobre os espaços de uma propriedade que conta já com mais de 400 anos. O Torel Quinta da Vacaria, no Peso da Régua e erguido nas margens do Douro, está instalado numa das mais antigas propriedades vinícolas da região, datada de 1616, altura em que, segundo os registos, terá começado com uma produção de cerca de 70 pipas de vinho anuais.
Em 2015, a propriedade recebeu uma nova vida, quando foi adquirida pelo Grupo Marec, e, nove anos depois, abriu as portas aos primeiros hóspedes, apresentando o seu hotel boutique de luxo com 33 quartos, dois restaurantes de conceitos distintos, um spa com 1000 metros quadrados – um dos maiores da região –, e uma adega com uma loja e um pequeno museu interactivo no seu interior. Em Maio, menos de um ano depois da sua abertura, o Torel Quinta da Vacaria foi distinguido com uma Chave pelo Guia Michelin, consolidando assim a sua presença entre alguns dos melhores e mais bonitos enoturismos do Alto Douro Vinhateiro.
Os quartos
A beleza intemporal da decoração do Torel Quinta da Vacaria – que à estrutura original foi adicionado um novo edifício semienterrado, desenhado pelo gabinete de arquitectura de Luís Miguel Oliveira –, ficou a cargo da designer Joana Astolfi. Os quartos estão categorizados em nove tipologias diferentes, que vão dos executivos às suítes deluxe duplex, todos sem perder o rio Douro de vista. Foram baptizados com nomes de árvores e frutos, de rios, de pássaros ou de estados de espírito; têm mobiliário desenhado à medida, feito com materiais como madeira de carvalho, nogueira, palhinha, tecido ou azulejo; e objectos de decoração de origem portuguesa ou oriundos de outras paragens.

“Quisemos utilizar sobretudo peças de origem portuguesa, desde a cerâmica à cestaria e madeiras, provenientes de artesãos e lojas como a Depozito, A Vida Portuguesa, Oficina Marques, Banema Studio, Burel Chiado Interiors, Felipa Almeida, Bordallo Pinheiro ou Fabricaal”, explicou na altura a designer de interiores. O conforto dos quartos salta lá para fora, assim que se abrem as grandes janelas. Nas varandas, além do mobiliário exterior, há pequenas banheiras para tornar os dias de Verão duriense mais amenos e refrescantes.
A piscina exterior e o spa
Sobranceira ao rio, a piscina exterior está equipada com guarda-sóis, espreguiçadeiras e com uma vista da qual é impossível desviar o olhar, rodeada de espaços verdes onde a flora autóctone prospera, com arbustos de alecrim e alfazema colorindo a paisagem e impregnando o ar com o seu aroma subtil. Vai ser difícil arredar pé daqui, pode ter a certeza, mas faça esse sacrifício para ir conhecer o Calla Silent Wellness & Spa, outro dos locais imperdíveis do hotel pelas suas inúmeras valências.

Está equipado com uma piscina interior aquecida e do circuito de águas fazem também parte a sauna, o banho turco e os duches sensoriais Vichy. Há ainda quatro salas de tratamento com vinoterapia, hidroterapia e tratamentos de assinatura que utilizam produtos biológicos e naturais da marca portuguesa Oliófora, mas também da Codage, marca de cosméticos francesa.
O Natural Refuge for Two (120 min), uma experiência que deve ser vivida a dois e inclui um ritual de esfoliação, uma imersão numa banheira com vista, uma massagem de relaxamento profundo e um tratamento facial, é um dos tratamentos de assinatura disponíveis. Mas também têm o Vacaria Vineyard Experience (120 min), igualmente para duas pessoas, que começa com uma esfoliação corporal à base de sal, uvas, vinho e óleo essencial de amêndoa, e é seguida de uma imersão com ingredientes como uva e vinho tinto da Quinta da Vacaria. No fim, é feita uma massagem de relaxamento com a aplicação de pedras de xisto quentes nas costas.

Um ginásio aberto 24 horas por dia e um amoroso laboratório, equipado com almofarizes, balanças e raladores, onde se organizam provas de chá e se fazem oficinas com produtos naturais – de onde saem séruns e esfoliantes, entre outras coisas –, compõem os restantes espaços do spa.
Os restaurantes
A expectativa é acicatada pela pesada cortina de veludo esverdeada que separa a sala da antecâmara onde aguardamos, paredes meias com uma tentadora garrafeira iluminada. A entrada do Schistó, o restaurante fine dining da Quinta da Vacaria, baptizado em homenagem ao xisto, pedra que abunda nos subsolos e socalcos do Douro, foi pensada para nos fazer bater o coração com mais força. Assim que a transpomos, a taquicardia dispara e da penumbra é possível vislumbrar os mármores verdes da Guatemala e as mesas redondas, cobertas por toalhas engomadas e com pequenos candeeiros que emitem uma ténue luz de presença. Dispostas como se estivessem num anfiteatro, parecem contemplar a cozinha aberta no meio da sala, onde acontecerá todo o espectáculo.
“O Schistó nasce da vontade de fazer uma cozinha com produtos do Douro, mas mais delicada e divertida”, começa por explicar o chef Vítor Matos, ao leme do projecto. A ideia é pegar na cozinha tradicional duriense e dar-lhe uma nova roupagem, tendo sempre em atenção a proximidade dos ingredientes. Se não vêm da própria horta da quinta, chegam da Quinta da Gregoça, ali perto, que fornece a maior parte das frutas e legumes; e a carne e o peixe vêm de pequenos fornecedores locais, como as perdizes de Lamego, o borrego de Resende, a truta do rio Corgo, e o lagostim e o lúcio-perca, que são pescados no rio Douro.

O menu de 10 momentos (180€) foi pensado para ser harmonizado com os bons vinhos da Quinta da Vacaria (80€/harmonização) e para impressionar não só os clientes, como eventuais inspectores Michelin (o chef, que já tem cinco estrelas em Portugal, em diversos restaurantes, não esconde a vontade de conquistar uma estrela para o Schistó também). Dele fazem parte pratos como a truta arco-íris com cabeça de porco fumada, enguia, açafroa e acelgas; o lúcio-perca com grão, caldeirada e línguas de bacalhau; e a bochecha de porco bísaro com cuscos, chouriço e ervilhas. Conte ainda com uma perdiz vermelha com cogumelos, tutano e flores do campo; e com um borrego de Resende com arroz carolino, grelos, limão e alecrim. A maçã de Armamar, produto autóctone, o azeite Quinta da Vacaria e alguns citrinos compõem a sobremesa que encerra a refeição.
Além do Schistó, Vítor Matos está ainda responsável pelo 16Legoas (a antiga distância da quinta à cidade do Porto), com um registo mais informal e propostas como o lúcio do rio Douro em salmoura ligeira, o arroz de robalo de anzol com pimentos e coentros ou o incrível e reconfortante arroz de rabo de boi com feijão e hortaliça. Se lhe apetecer petiscar junto à piscina, o Barbus Bar & Cocktails capricha nos snacks e nas bebidas frescas. Se lhe apetecer sopas e descanso no interior do hotel, o Barbus Lounge Hotel Bar tem uma carta com várias opções de tostas, saladas, tábuas de queijos e enchidos e vários doces.
A adega
Em breve, o chef acenderá também os fogões do Fumus, o restaurante de comida tradicional portuguesa situado no edifício da adega, cuja construção parece fundir-se no terreno. Tem uma vista panorâmica sobre o rio e durante a época das vindimas, em Setembro, será um local de excelência para observar a azáfama de uma quinta que é produtora de vinhos do Porto e do Douro, com um catálogo que vai dos brancos aos tintos, passando por tawnies e rosés. Além da sala das barricas, onde o vinho estagia na obscuridade do subsolo fresco, a adega é ainda composta por uma loja, por duas salas para provas exclusivas e por um museu interactivo que conta a história e a essência de uma das mais bonitas quintas do Alto Douro Vinhateiro.

Rua de Vilarinho dos Freires (Peso da Régua). 254 240 242. Quartos a partir de 450€/noite. Schistó: Ter-Sáb 19.30-22.30. 16Legoas: Seg-Dom 07.30-11.00; 12.30-15.00; 19.30-22.00.
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