Mal Cozinhado
©João Saramago

Roteiro das casas de fado no Porto

Vadio ou profissional, o fado também brilha, e muito, na Invicta. Siga pelo nosso roteiro das casas de fado no Porto

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Sim, o fado tende a ser mais associado a Lisboa e a Coimbra, mas a história desta cultura musical no Porto é também longa e ilustre. Não faltam na Invicta casas onde qualquer amador desta arte pode arriscar cantorias à frente de público, assim como espaços onde brilha uma constelação local de estrelas da voz e da guitarra. Se está pronto para a descoberta das casas de fado no Porto vá pelas nossas sugestões. Não se esqueça de levar a bateria do telemóvel carregada para captar boas imagens e receber muitos corações no Instagram com as tradições portuenses.

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Roteiro das casas de fado no Porto

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As famosas iscas de bacalhau, grandes e gordas, não param de chegar às mesas. Os copos de vinho seguem o mesmo caminho, mais umas bifanas, rissóis e sandes de panado à mistura. Quase 16.00 e é como se fosse hora de ponta. Nas tardes de terça-
feira da Adega Rio Douro, vulgo Tasca da Piedade, não 
há descanso para quem está na cozinha e para quem serve às mesas – porque é dia de fado, 
e porque para acompanhar o fado é preciso haver petiscos.
 E silêncio. “Xiu!”, impõe Alice Piedade enquanto serve uma casa a abarrotar pelas costuras. “Eu não canto. Apresento o fado, trabalho e mando calar.” Juntamente com a mãe, Dona Piedade, é Alice que comanda “de manhã à noite” a Adega
 Rio Douro, local incontornável do fado vadio portuense. Foi uma das escolas de Gisela
 João, que “morava mesmo
 aqui ao lado”, conta Alice. E é um dos poucos sítios de fado 
da cidade que mistura um público jovem e sénior, tanto da vizinhança como de fora dela. “Toda a gente vem aqui parar” – incluindo alguns turistas, mas sem ultrapassar a quota de portuenses.

A cantoria começou há muitos anos. “Antes havia aqui por 
cima um posto da GNR e eles já brincavam com o fado. O meu pai, que cantava o fado, tal como a minha mãe, gostou disso e foi fazendo”, explica Alice, que aos quatro anos já andava na Adega Rio Douro “a brincar e a aturar os clientes”. Aqui toda a gente tem oportunidade de mostrar o que vale. “Se chegares à minha beira e disseres que cantas, cantas.” Cante o fadista de ocasião bem ou mal, o público acompanha-o e ajuda a cumprir as regras: silêncio e nada de passar à frente de quem toca e de quem canta.

Fado: Ter 16.00-20.00

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Há bola de carne acabada de fazer em cima das mesas, vinho e cerveja. A sala está decorada a rigor, com xailes 
e miniaturas de guitarras portuguesas. Os músicos já estão posicionados. Dá-se início à tarde de fado vadio na Tasquinha D’Ouro, apresentada pelo proprietário da casa, Justino Pinto. Para ele, o fado
 já é um assunto antigo. No seu primeiro estabelecimento, a Tasquinha D’Ouro 1, perto da Adega Rio Douro, já organizava tardes de fado há oito anos. Por lá passaram fadistas que se vieram a tornar profissionais, como Gisela João e Cátia de Oliveira. Agora que essa casa passou para os filhos, Justino faz os fados no segundo restaurante, aberto desde Janeiro.

É sagrado: segundas e sextas à tarde e no primeiro sábado de cada mês à noite, com jantar incluído (12,50€). Os instrumentistas são fixos – João Carlos na viola, João Pedro na guitarra portuguesa –, os fadistas vão variando. “Já tive dias com 28 pessoas a cantar. Mas a média é entre sete e 14”, diz Justino Pinto. Vêem-se caras conhecidas de outros sítios: muitas pessoas fazem o circuito do fado vadio portuense, cantando em várias tascas e adegas. Aqui são cinco da tarde de uma segunda-feira e ouve-se Amália Rodrigues pela voz de Fátima Santos. Até às 20.00, o fado continua.

Fado: 
Seg e Sex 16.30-20.00, 1o Sáb do mês ao jantar (12,50€).

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“O fado é o que eu respiro”, diz Luís Miguel Oliveira, à frente do restaurante
 e casa de fado Mal Cozinhado desde 2011, mas há muitos mais a ajudar os pais no negócio. “A clientela mudou muito”, assinala. “Antes eram só portugueses, hoje a maioria são turistas. Abriram muitos restaurantes, a clientela também gira. Há um défice [de portugueses] que deixa saudade.” Na opinião de Luís, também seria preciso “haver uma educação”, tentar cultivar o gosto pelo fado nos mais jovens. “Mas tenho esperança. Esta nova geração de fadistas pode puxar gente mais nova.”

Pelo Mal Cozinhado (nome que existe 
há pelo menos 600 anos, na altura um restaurante frequentado por Luís Vaz de Camões) já passaram fadistas como Amália Rodrigues, Carlos do Carmo, Vicente da Câmara, Dulce Pontes e Ana Moura. Têm um elenco privativo em que se cruzam várias gerações: Valdemar Vigário na guitarra, João Moutinho na viola, Rosinda Maria e Sandra Cristina nas vozes, sem esquecer Miguel Xavier, de 22 anos, “o benjamim”. Como nas outras casas de fado profissional, aqui ele também se faz ouvir durante o jantar (preço médio: 30€). Entre canções mais conhecidas e fados mais esquecidos, na companhia de um bacalhau à Braga ou de polvo à lagareiro.

Fado: Seg-Sáb 20.30-00.00

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  • Campanhã
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“A seguir aos meus filhos, o fado é a minha vida. O
 meu pai, Manuel Mendes, era fadista. Adormeço e acordo a ouvir fado.” Quem o diz é Rosa Meireles, dona do restaurante A Viela. Mas Rosa é mais do que a gerente de um restaurante, tal como A Viela é mais do que uma adega de comida tradicional portuguesa onde acontece fado vadio nas tardes de sexta-feira, longe do circo turístico da Baixa. Sem eles, Campanhã não seria a mesma coisa. Há muito que Rosa Meireles tem um papel importante 
de assistência social
 na freguesia, e o seu restaurante funciona como ponto de encontro para moradores e trabalhadores da zona – mas não só. “Vem aqui gente da Sé, do Cerco, da Ribeira, de muitos lados.” E também vêm ilustres. “Esteve cá o Marcelo Rebelo de Sousa e cantei para ele. E já tive aqui o Rui Moreira, o Manuel Pizarro, o Helder Pacheco, o Pacheco Pereira, o Mário Moutinho e
 o José Soeiro.” Gisela João já cantou aqui, quando dava os primeiros passos. José António Pinto, o assistente social mais conhecido por Chalana, figura incontornável de Campanhã e “camarada” de Rosa, é frequentador assíduo d’A Viela, onde volta e meia toca canções de intervenção. Também há lugar para ela num livro: Porto, Última Estação, da jornalista Mariana Correia Pinto.

Benfiquista e comunista nascida na Ribeira, desde pequena que Rosa conhece bem as ruas e as gentes de Campanhã. “Vivi muitos anos com a minha madrinha no Heroísmo e vinha entregar bananas às mercearias aqui da zona. Toda a gente me conhece.” Com casa em Rio Tinto, foi lá que inaugurou o primeiro restaurante, a Casa Meireles. Entretanto abriu este negócio em Campanhã,
 na Travessa de Miraflor, com o apoio do filho André. “A minha vida estava destinada a passar por aqui.” Nos últimos anos
 viu muita coisa a mudar para melhor. Em boa parte graças
 à influência do espaço Mira Fórum e do trabalho de Manuela Matos Monteiro, que está à frente do projecto. “Desde que o Mira veio para cá, a zona de Miraflor mudou 200%”, considera 
Rosa, que acolhe regularmente eventos culturais e jantares especiais para quem passa no Mira Fórum.

Já o fado existe desde sempre n’A Viela. Acontece às sextas entre 
as 16.30 e as 19.30. Nestas andanças, o cúmplice de Rosa é Júlio Loureiro, antigo presidente da Junta da Freguesia da Vitória que conhece o fado vadio no Porto de trás para a frente, além de organizar vários eventos neste circuito – em muitas colectividades mas também em sua casa, nas Taipas, “com fado e cabidela” na Primavera e Verão. É ele que apresenta as tardes
 de fado n’A Viela. Quando está prestes a começar, baixam as luzes – mas a cozinha continua 
a trabalhar para que não faltem iscas de bacalhau, moelas, rissóis, papas de sarrabulho e vinho. A casa está cheia e dá-se as boas-vindas ao primeiro fadista, Emílio Vilaça, acompanhado por Eduardo Jorge na guitarra portuguesa e Ângelo Jorge na viola. “Cantem bem ou cantem mal/ Para mim é natural/ O que conta é a intenção”, canta Emílio num hino ao fado vadio. Muitas pessoas no público fecham os olhos enquanto ouvem, outros vão cantando de boca cheia. A seguir entra Maria Augusta, vestida a rigor, com uma voz que é um portento, que merece ser ouvida por toda a gente. “Não há fado vadio como aqui no Porto. Há muita qualidade e é aqui que se aprende”, diz Júlio Loureiro. Para eles, o fado vadio é um modo de vida.


Fado: Sex 16.30-19.30

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  • Campanhã
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No Grupo Dramático Monte Aventino, colectividade do lado oriental da cidade fundada em 1924, o fado surgiu meio por acaso. Mas surgiu para ficar. Há uma década, quando acabaram com o teatro, “alguém que gostava de cantar fado lembrou-se de fazer umas tardes de fado às quartas-feiras”, recorda o actual presidente, Humberto Costa. “Começou lentamente, passo a passo, e hoje temos grandes artistas da cidade.”

Aqui, às sextas à noite (com jantar a 12,50€) e aos domingos à tarde, tanto há lugar para fado vadio como para fado profissional. “Há fadistas que depois de actuarem em locais como a Casa da Mariquinhas vêm acabar a noite ao Monte Aventino: a Cátia de Oliveira, a Rute Rita ou a Filomena e o Filomeno.”
Já os instrumentistas são fixos: Mário Henriques na guitarra, Bruno Braz na viola. De resto, seja qual for o elenco, a casa costuma estar cheia. Há quem venha de várias zonas do Porto, de Penafiel ou de Santo Tirso. “Só quem conhece e quem tem amigos que conheça é que vem aqui ouvir o fado.” O ambiente é familiar, como se quer.

Fado: Sex 23.00-02.30, Dom 17.00-20.00.

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Foi inaugurada em Março de 2017 entre a Cordoaria e as Virtudes e presta homenagem a duas casas de fado que existiam antigamente na vizinhança, a Taberna S.Jorge e a Cozinha Real do Fado. Tudo começou quando Carlos Soares saiu da Casa da Mariquinhas, onde trabalhou durante seis anos. “Percebi que havia mercado para isto. Nos anos 80 existiam perto de 25 casas de fado profissional no Porto e neste momento há só quatro, contando com a Taberna”, diz o responsável. O elenco fixo de fadistas inclui nomes como Rute Rita, Aurélio Perry e Nélson Duarte, mas também há convidados regulares, de Cátia de Oliveira a Maria do Sameiro. A ideia é cruzar “várias gerações do fado”, assinala Carlos Soares. “Há fadistas
 e instrumentistas muito bons no Porto, ao contrário do que se pensa. Sempre houve, mas muitos tiveram de ir para Lisboa por causa das oportunidades.” O fado faz-se com jantar, com um consumo mínimo obrigatório de 35€ por pessoa (há opções vegetarianas) e dois a três fadistas por noite.

Fado: Seg-Sáb 20.00-01.00.

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“Vais cantar, não vais?”. Os amigos e conhecidos 
fazem sempre a mesma pergunta a Fátima Couto quando a encontram na Casa 
da Mariquinhas, paragem obrigatória em qualquer roteiro de fado no Porto. Há quatro anos que Fátima gere o espaço em part-time juntamente com o filho, Jorge Filipe Couto. Mas a relação de Fátima com o fado é muito mais antiga. “Comecei a cantar fado com 17 anos”, conta. “Cantei pelo país inteiro e estive no Canadá, EUA, Alemanha, França, Angola, Venezuela.” Nunca se dedicou ao fado a cem por cento. É também actriz, sobretudo de teatro de revista, onde trabalha há 18 anos com o actor Luís Aleluia. “Sempre gostei de teatro e na revista canta-se sempre fado. Mas sempre que estou na Casa da Mariquinhas canto.”

Dedicada ao fado profissional, a Casa da Mariquinhas conta com vários artistas residentes: Acácio Branquinho na guitarra portuguesa, António Reis na viola, Paulo Cangalhas e Ana Pinho nas vozes. Há sempre fadistas convidados, inclusive de Lisboa: já passaram por lá Hélder Moutinho, Ricardo Ribeiro, Celeste Rodrigues, Miguel Ramos ou Bárbara Santos, de 21 anos, que recebeu o prémio revelação da última edição do festival Caixa Alfama. “Mas damos prioridade aos de cá”, assinala Fátima Couto.

Apesar de o circuito na 
capital ser maior, mais forte e vitaminado, Fátima considera que a qualidade de quem canta
 e toca no Porto “não fica atrás”. “Neste momento, por exemplo, há cá muitos guitarristas de guitarra portuguesa que são professores. Estão a dar escola à nossa juventude. Não é só em Lisboa que isso acontece.”

O fado na Mariquinhas faz-se sempre ao jantar (37€ por pessoa), entre pataniscas, moelas, alheira de caça no forno, bacalhau ou francesinha da casa (normal ou vegetariana), feita com massa folhada em vez de pão. Nas mesas, os portugueses estão em clara minoria. “O turismo alterou o género de público da casa. Estamos sempre cheios e 90% são estrangeiros. O português é pouco e quando quer vir já vem atrasado”, diz Fátima. “Acontece- -me muitas vezes, mesmo com amigos, telefonarem no dia para reservar mesa e já estar
tudo cheio.” Portanto, já sabe: se quiser passar pela Mariquinhas, pense nisso com carinho e com antecedência.

Fado: Ter-Qui 20.00-01.00, Sex-Sáb 20.00-02.00.

Outras sugestões

  • Português

Hoje em dia não é difícil experimentar pratos de outros cantos do mundo na cidade mas, verdade seja dita, nada sabe melhor que uma refeição de comida caseira, temperada no ponto e servida em doses generosas (tal como as mães e as avós fazem). Isso é coisa que não falta nesta cidade e ainda bem. Faça bom proveito dos melhores restaurantes de comida tradicional no Porto.

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