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Artifact to Human Communication

  • Arte, Suporte misto
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A Time Out diz

Se não pertence a essa espécie humana global que está treinada e disposta a viver em qualquer lugar do mundo, talvez ache Felipe Pantone feio, “um exagero”. Esta é a reacção que o artista nascido na Argentina e educado em Espanha diz ver nas caras de quem não pertence à sua geração quando contacta com os seus murais do tamanho de prédios ou com as suas instalações que engolem salas inteiras com o sistema de cores RGB. A linguagem que brota das máquinas digitais “a que todos estamos ligados” é o foco de Artifact to Human Communication, a exposição que Pantone construiu para a sala da galeria Underdogs e que inaugura esta sexta-feira.

Os objectos que podem entrar numa galeria e ser catalogados como arte são capazes de falar, diz Felipe, numa conversa por telefone: interpelam-nos e começam a colocar-nos questões, dão-nos mais informação do que é possível açambarcar num curto espaço de tempo. Na galeria do Braço de Prata, “todas as perguntas vêm do tecto, não vai haver nada nas paredes”, conta o artista que começou pela arte urbana, com os graffiti, aos 12 anos, e evoluiu para dentro de portas com instalações site specific como a lisboeta. De diferentes pontos da sala vão ter-se, por isso, visões diferentes, e assim a quantidade de informação multiplica-se em feixes de vermelho, azul e verde, elementos gráficos a preto e branco e reflexos de espelhos que desdobram ainda mais esta natureza múltipla da exposição. Os fragmentos suspensos que parecem triviais evocam a parafernália da comunicação digital que constrói este “presente disruptivo”, que torna este “momento histórico entusiasmante”, diz, longe do cepticismo.

“Será muito dinâmico em termos de composição. Colossal e arrojado. Enfim, são todos os sentimentos da era digital”, resume Pantone do seu ateliê no Barreiro, onde se instalou temporariamente depois da sua chegada a Portugal, a pouco mais de uma semana da abertura.

Não está a ser inspirado pelo cheiro a rio e pelo vento dos armazéns junto à margem norte do Tejo, mas isso não interessa nada quando o que está em jogo é a conversa que sai dos objectos, ou melhor, “são os objectos digitais”. No Braço de Prata, no Barreiro, na cidade do México ou em Seul todos sabemos que os computadores falam connosco através do Facebook ou do Instagram, e o mesmo com os telemóveis, que nos dão uma sensação de intimidade personalizada com aplicações como a Siri. É por isto que, para Felipe Pantone, a expressão site specific vem com uma adenda: “nunca ser influenciado pela cidade”.

Onde é que fica a obra de arte, que deve dizer-nos coisas, na época em que qualquer máquina digital também fala? Pantone vai avaliando a questão nas suas exposições por todo o mundo. Para já, sem grandes críticas nem dramas. “Primeiro inventou-se o papel e quase ninguém sabia ler; depois a impressão, mas sempre limitada; agora o poder de escrever e imprimir é ilimitado, é só mais uma fase do progresso”.

Escrito por
Catarina Moura

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