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Dimensões Variáveis

  • Arte, Suporte misto
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A Time Out diz

Ao contrário do que possa estar a pensar, esta não é uma exposição focada nas diferenças entre diferentes disciplinas. Elas estão lá, mas a linha condutora de “Dimensões Variáveis” deixa bem claro que o que importa aqui é mostrar como é que a arte se tem apropriado da arquitectura e, em muitos casos, se tem debruçado sobre ela.

A exposição é a segunda versão da que ocupou o Pavillon de l’Arsenal, em Paris, até Janeiro de 2016. Para Lisboa, a selecção de artistas foi diferente, com as colecções portuguesas bem representadas no alinhamento de mais de 60 obras. E se há artistas que erguem a sua obra a partir de maquetes e destroços, outros aproveitam a ausência de regras para trazer para a mesa as fragilidades e proezas da arquitectura.

No limite, exploram-se as ironias que ficam quando pomos as duas em perspectiva. Afinal, o próprio nome da exposição nasce aí, numa expressão que é tão utilizada pelos artistas para classificar as suas obras, como proibida para os arquitectos, que trabalham na base do exacto e da precisão. É a arte a ir até onde a arquitectura não pode. “Os artistas têm muito mais liberdade do que os arquitectos. Uns têm de pôr pessoas a viver lá dentro, os outros não”, afirma Gregory Lang, que assina a curadoria da exposição, juntamente com Inês Grosso, do MAAT.

A primeira sala tem tudo para ser a favorita. É uma espécie de recreio onde, depois de destruir e desconstruir, se ergue algo de novo e de diferente. A começar pela série de Thomas Demand. Ninguém diria, mas são close-ups de maquetes de John Lautner, num claro jogo com as noções de escala. Mas o português Carlos Bunga também nos chama a atenção. Os volumes em cartão são uma espécie de quarteirão disforme que abre caminho para o núcleo seguinte.

Aí, impõe-se a grande peça metálica de Alexandre Périgot. Grande e importante, já que introduz um elemento que se repete ao longo do resto da exposição, a grelha. E lá vem Le Corbusier ao barulho com a sua Unité d’Habitation. Pierre Huyghe chega a fazer um vídeo em que ele próprio, artista, e o arquitecto suíço estão cara a cara, na forma de duas marionetas. Um trabalho feito a propósito dos 40 anos do Carpenter Center for the Visual Arts, em Cambridge, por sinal o único edifício de Le Corbusier nos Estados Unidos. Na recta final, chegamos ao lado poético e utópico da arquitectura, onde o self-construction do mexicano Abraham Cruzvillegas tem qualquer coisa de favela carioca.

Se no fim, “Dimensões Variáveis” lhe tiver sabido a pouco, dê uma espreitadela a “Arquivo e Democracia”. O projecto de José Maçãs de Carvalho inaugura também na quarta-feira, na Central Tejo, e mostra o quotidiano da comunidade de empregadas domésticas filipinas em Hong Kong. Parece que aos domingos estão de folga e ocupam as ruas. Gosta de convívio ao ar livre? Talvez elas lhe dêem umas ideias.

Mauro Gonçalves
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Mauro Gonçalves

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