A Time Out na sua caixa de entrada

Procurar

Entrevista à bailarina e coreógrafa Inês Jacques: "Sinto-me melhor discreta"

Escrito por
Miguel Branco
Publicidade

Tanto assim é que o seu novo solo no Negócio, da ZDB, depois de alguns anos afastada do circuito lisboeta, é uma exploração do que é o escuro. Onde Inês Jacques gosta de habitar. Uma conversa sincera e hesitante, como o movimento presente neste Excesso de Luz Cega

Quando nasce este espectáculo?

Passei os últimos anos fora do circuito lisboeta e estive a fazer criações mais pelo Alentejo. A ideia para este espectáculo foi evoluindo, não foi uma coisa muito fixa, há dois anos que estou a alterar a ideia original.

Que era...

Começou por ser uma procura do que era essencial, na obra, no movimento, no geral em termos artísticos. Foi evoluindo para chegar a um sítio que é algo como "o que é que eu sou" ou "como é que me sinto artisticamente".

E como é que é?

É um assumir que sou mesmo low profile, que não me sinto nada bem com estas coisas muito expositivas de hoje em dia, com muita informação. Então o que eu sou é isto, vivo assim, e aí cheguei ao escuro, ao movimento no escuro.

Podemos então dizer que se sente melhor no escuro.

Podemos dizer que me sinto melhor discreta.

No entanto, vê o escuro como uma coisa fértil.

Sim, gostava de trazer a atenção para outro lado, receber pouca informação, procurar. E sim, gosto mais de pensar no escuro como uma coisa rica, no sentido em que há toda uma vida nocturna de matérias e animais que nós não vemos. Aqui, no espectáculo, há uma coisa que se mexe e da qual só vemos uma parte, sabemos que é um corpo humano e podemos adivinhar o resto, o que rodeia esse corpo.

No início a luz é mesmo zero. Mas aproveita para dançar, movimentos que naquela altura são apenas sons.

Há duas razões para isso. Uma é a técnica, é deixar o olho habituar-se ao escuro, dar esse tempo às pessoas, e outra é pôr logo o público noutro estado, qualquer coisa como ‘pronto, agora estamos aqui só à escuta’. Mas não tenho fixo como é que faço, procuro a musicalidade do movimento que estou a fazer...que quero que se oiça.

Como pensou a banda sonora?

Queria uma coisa que não fosse música pop. O que disse ao compositor é que queria uma banda sonora que fosse nocturna sem ter aquelas ideias associadas ao escuro, que não fosse terror, que não metesse medo e que não tivesse aliens.

Durante grande parte da peça o movimento é hesitante, e parece que se torna menos indeciso com o decorrer da peça, onde começa a existir mais luz.

O movimento é sempre hesitante porque nós não nos movemos na luz da mesma maneira que nos movemos no escuro. Não sabemos o que está a cinquenta centímetros de nós. Perde hesitação mais no fim porque há mais luz, claro. Por outro lado, o movimento é também uma tentativa de descobrir o que seria essa vida nocturna que conheço mal e como seria um ser que habita esse universo.

Excesso de Luz Cega. Qua-Sáb 21.30. Negócio, Rua de O Século, 9. 7,5€. 

Últimas notícias

    Publicidade