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Para mim é, e será sempre, apenas Lenù

Vera Moura
Escrito por
Vera Moura
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Eu não queria saber quem é a Elena Ferrante. E a Elena Ferrante não queria que eu soubesse que ela é a Anita Raja. O jornalista Claudio Gatti, do Il Sole 24 Ore, não está nem aí para o que eu ou a Elena – perdão, a Anita – queremos ou deixamos de querer e resolveu pôr a boca no trombone, revelando a identidade da autora da tetralogia campeã de vendas a nível planetário A Amiga Genial

"Supõe-se que Elena Ferrante não seja o verdadeiro nome da escritora que se tornou conhecida a partir da publicação de Os dias do Abandono em 2002. Sabe-se, contudo, que cresceu em Nápoles e tem vivido por algum tempo fora de Itália. Pelas respostas que deu por escrito a jornalistas, sabe-se também que se formou em Estudos Clássicos, traduz e ensina e é mãe." 

A descrição no verso de capa da edição portuguesa (da Relógio d’Água) deixava o mistério no ar – quem é que não gosta de um ar empestado de mistérios? Mas, mais do que isso: fazia com que, à medida que o enredo avançava, eu não conseguisse deixar de identificar Elena Ferrante com Elena Grecco – Lenuccia ou Lenù para a família e os amigos – a protagonista. Senão, vejamos: Lenù cresceu em Nápoles e viveu algum tempo fora de Itália. Estudou cultura clássica na Scuola Normale da Universidade de Pisa e teve dois filhos. 

Para mim, tratava-se, até agora, de uma autobiografia fascinante e sofrida, assinada com um pseudónimo, é certo, mas um pseudónimo apenas no apelido.

Agora, o quê? Não me bastava continuar de luto por ter terminado a saga, ainda tenho de acreditar que Lenù não existiu nunca – e com ela Raffaella Cerullo, a maquiavélica Lila – e é apenas fruto da imaginação fértil e escrita sublime de uma tradutora italiana com ascendência alemã?

Vá lá, poupem-me. Para mim Elena é, e será sempre, apenas Lenù.

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