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Dá Licença

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A Time Out diz

Se me dão licença, tomo a liberdade de começar este texto com um relato na primeira pessoa. A tentativa tosca de manter a distância para não corromper a ética que se exige à prática jornalística obrigar-me-ia a ser uma mera espectadora de uma das melhores experiências que tive o privilégio de viver, e isso, sendo perfeitamente possível, não é o que quero fazer.
O Dá Licença, antes de ser o sítio magnífico que é, era para ser só uma casa de férias de Victor Borges e Franck Laigneau, que procuravam um pequeno refúgio no campo para onde pudessem fugir quando a vida em Paris se tornasse demasiado frenética. Acabaram por se mudar definitivamente para a antiga Herdade das Freiras, em Estremoz, depois de assistirem àquele que dizem ter sido o pôr- -do-sol mais inspirador que viram na vida, e de repente viram-se a braços com uma propriedade de 120 hectares com três edifícios, um olival a perder de vista, muito mato por desbravar e um potencial tremendo para dar vida à ideia acabadinha de surgir: criar uma casa aberta onde se reunissem arte e natureza nas suas formas mais puras e que pudesse ser vivida como uma viagem sensorial pelas artes e ofícios numa perspectiva simultaneamente utilitária e contemplativa.
Victor deixou o trabalho na Hermès, Frank fechou a galeria de arte que tinha ao pé do Musée D’Orsay e juntos começaram a projectar aquele que, três anos mais tarde, viria a ser o boutique hotel mais bonito de que há memória. O nome, que ainda pensámos que pudesse vir de um jogo de infância de que já muito poucos se lembram, é explicado pelo facto de em Portugal se pecar por excesso de cortesia. Pede-se licença para entrar, para passar, para sair, para ir, enfim... Victor e Frank ouviram-no tantas vezes durante a obra que resolveram adoptar a expressão.
Os interiores foram desenhados a régua e esquadro com a ajuda de um gabinete
de arquitectos local e, embora tivesse sido mais fácil deitar abaixo e construir de novo, 
a traça original da casa, as paredes caiadas, o tanque logo à entrada e o longo muro que separa o pomar da planície permaneceram intocados. O resto, desde a antiga casa do gado transformada em três suítes, às janelas que tiveram de ser rasgadas para deixar entrar o sol, até ao terreno bravo para onde foram transplantadas as oliveiras que fazem sombra no Verão, nada está como era.
A entrada na casa principal faz-se por um portão redondo que dá acesso a um pátio fechado. De um lado as áreas de convívio, do outro mais dois quartos. A recepção é uma pequena amostra do que se esconde mais adiante e começa logo por reunir alguns exemplares da colecção de Franck, aos quais se juntaram peças de artesãos locais e uma lareira suspensa feita com dobradiças velhas, comprada a um ferreiro da zona. Ninguém queria aquilo. Victor e Franck souberam logo onde tinham de a pôr.

Chega-se depois à primeira de três salas de jantar com mesa para dois. Na primeira, a Sala Vernacular, convivem mobílias art noveau escandinavas com esculturas da artista Susana Piteira. Passa-se pela Sala Simbolismo, que dá espaço a um biombo imponente pintado
à mão que ilustra a construção das cidades em contraste com a natureza, e termina-se na
Sala Cubismo, onde se janta em móveis Steiner e se percebe, afinal, o que é isso do mobiliário escultural como forma de pensamento livre. Na sala de estar, virada para uma piscina infinita empoleirada na Serra d’Ossa, mais uma viagem pelo movimento Antroposófico e pela arte plástica contemporânea que aqui se cruzam com as famosas mantas de Monsaraz da não menos famosa Mizette Nielsen. Podíamos continuar a enumerar cada uma das representações artísticas que encontrámos pela casa mas vamos rematar o assunto dizendo que entre os oito quartos e suítes (há uma com 180 m2 e outras duas com piscina privativa) não há uma peça igual à outra, e o mesmo vale para as casas de banho, com lavatórios e banheiras em mármore, esculpidos à mão pelo único artesão local que ainda tem a coragem de se aventurar em trabalhos de grande porte.
O antigo lagar, a 800 metros da casa-mãe, acolhe a Galeria de Arte onde repousa uma parte da colecção trazida de Paris e o futuro restaurante, que deve abrir já na Primavera. Até lá, Victor vai-se entretendo na cozinha e tomando conta dos jantares (só por marcação). Não se espante com o trapézio e o colchão à entrada. Fazem parte da visão artística do casal e são uma lembrança do passado de Franck como trapezista.
No fim do dia chega o convite para ver o tal pôr-do-sol que apaixonou Victor e Franck. O cenário lunar da piscina principal, protegida por árvores de fruto e por blocos de mármore gigantes, não é escolhido por acaso. É lá, na parte mais baixa do terreno, que se vê a serra e o olival a mudar de cor e as luzes de Estremoz e Evoramonte a acenderem-se e a darem o dia por terminado.

Escrito por
Nelma Viana

Detalhes

Endereço
Outeiro das Freiras
Santo Estêvão
Estremoz
7100-580
Preço
desde 300€
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