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1.º Direito

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A Time Out diz

4/5 estrelas

Ir comer ao rugby é muito refrescante, sobretudo se não tivermos de levar pullover pelas costas. Alfredo Lacerda fez um ensaio em Monsanto e saiu vencedor.

À entrada do parque de estacionamento está uma tabuleta dirigida ao “amante do rugby”, com avisos: “Rejeita o doping e a violência”. “Apoia os teus sem agredir os outros”. E, a rematar: “Se não pensas assim, não entres neste campo”. 

Eu penso assim. E até penso mais. O futebol tem muito a aprender com o rugby. Eu bem sei que o rugby gera muita pancada, mas só é desleal fora de campo: a rapaziada às vezes enche-se de vinho e vai para a noite como uma manada em testosterona e leva tudo à frente. Palermas. 

Mas dentro de campo há respeito. E joga-se mais do que se discute. Sem truques. Com respeito pelo adversário. Pelo árbitro. Pelo público. Pelos fãs. 

Entrei em campo pelas 13.00, um calor de ananases. Larguei a viatura e, de repente, 15 minutos depois de sair do Saldanha, era como se estivesse numa floresta. Estavam 37 graus centígrados no centro de Lisboa, mas não ali. No sopé virado a noroeste de Monsanto, com a floresta nas costas e Alfragide no horizonte, fazia fresco. Respirava-se. 

Faltava só encontrar o restaurante. À minha frente, o relvado de rugby do Grupo Desportivo de Direito. Em redor, um ginásio e, do outro lado, uma casa de madeira com um terraço sobre o campo. Eis o 1.º Direito, na verdade um rés-do-chão, um chalet sobre o court. 

Veio ao meu encontro o dono da concessão do restaurante, desde há dois anos. “Olá, eu sou o Pedro.” Pedro parecia esse restaurador blasé de antigamente, os óculos ao peito presos por um fio, camisa solta. 

Nas mesas, cabelos brancos, homens com ar de serem os donos das berlinas do estacionamento. O sítio é também atreito a presidentes da República. Na entrada, está uma placa de homenagem a Jorge Sampaio. E, lá dentro, uma foto com o nosso republicano mais british a pontapear uma bola oval, de fato e gravata, os jogadores de Direito a assistirem, em fundo. Grande chapa. 

Na nova vida do 1.º Direito há outro presidente. Marcelo Rebelo de Sousa tem sido visto e instagramado ali, mais do que uma vez. Não é, por si, sinal de alto nível gastronómico, porque como sabemos o epítome do almoço para Marcelo é um bife com molho de margarina e meia imperial. Mas é curioso. 

Perguntei a Pedro, então, pelos jogadores de rugby. Comem muito, não? “Nem queira saber. Mas mais do que comer é o que bebem. É impressionante.” 

A minha pergunta tinha uma informação prévia, por trás. É que o restaurante só funciona na modalidade de buffet. Pagam-se 22,50€ e come-se o que se quiser. Jogadores de rugby a comerem o que quiserem parece-me um mau negócio. “Eles vêm mais para jantares de grupo, à noite”, esclareceu Pedro. 

Vamos aos comes. O buffet não é gigante, mas é mais do que suficiente. A abrir, bom gaspacho à maneira do salmorejo, passado, fresco, sem notas de tomatada de lata, com pimento picado e ovo cozido ralado para juntar por cima. 

Dos principais, bacalhau com natas, um clássico de buffet aqui em versão com bacalhau, o dito desfiado, mas abundante, sem excessos natosos, muito bom. 

Belíssima também a carne estufada, para comer à colher, sobre uma molhanga de tomate e cebola, a casar bem com as batatas fritas, palitos dourados e fritos em bom óleo, porventura as melhores batatas fritas de entre todas as batatas fritas de todos os buffets de Lisboa. 

Apesar de os pratos rodarem, ao longo da semana, as batatas permanecem, tal como o esparregado, forte de noz moscada e verdura, só com a farinha necessária para ligar tudo, ou seja, pouca. 

Havia ainda lulinhas guisadas, naturalmente das congeladas, mas ainda assim muito saborosas, a mostrar que há mão para o tempero na cozinha. 

Estragou o quadro de honra uma paella de arroz vaporizado, cozida e sem graça. 

Na despedida, chegaram postas de pescada de forno, de aspecto suculento, proteína de qualidade sem palha à mistura.

Nas sobremesas, fruta fresca da boa, tropicais e nacionais da estação, das mangas aos pêssegos. E doces seguros, como o leite creme caseiro, bolo gelado de nata e bolacha (suspeito que industrial, mas guloso) e tarte de frutos vermelhos, a cumprir a sua função. 

Pedro contou que a equipa da cozinha foi mudando. Primeiro aposentou-se a octogenária que liderava os tachos. Depois duas senhoras que a acompanhavam. As substitutas, todavia, são de valor, garantiu. E assim parece. 

Em síntese. O 1.º Direito dá-nos almoços bucólicos e frescos, entre madeiras velhas, taças e relíquias do rugby nacional. Cozinha caseira, bem feita, sem atalhos processados, que tem na sala um anfitrião de antigamente, educado e conhecedor. O sítio aceita ainda jantares de grupo ao jantar, para mais de 35 pessoas, o que é coisa rara nesta cidade. Difícil é arranjar vaga. 

Vão lá. Sejam educados. Não plaquem ninguém. E doping só o de uva fermentada. Com juízo.

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda

Detalhes

Endereço
Campo de Rugby do Grupo Desportivo de Direito
Lisboa
1500-068
Preço
22,50€ (preço fixo do buffet, com sobremesa incluída, sem bebidas)
Horário
Ter-Dom 12.45-15.00
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