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Boca Linda

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A Time Out diz

3/5 estrelas

A zona de Santos parece ter de tudo um pouco. Alfredo Lacerda voltou lá, agora para experimentar um mexicano.

A rapariga estava ao telemóvel, impávida junto ao balcão, e demorou a arrancar. Depois moveu-se devagar, aparentemente aborrecida por a porem naquele desassossego, como que a pensar: estava um almoço tranquilo, só um casal na mesa da ponta, e agora vêm estes dois perguntar-me o que leva a “salsa”. 

As salsas sobre a mesa eram três: uma “verde”, outra “roja”, outra “negra”. Ao lado, os totopos, que são as tortilhas de milho cortadas em triângulos e depois fritas (não confundir com nachos, que são totopos com cenas por cima). 

A salsa negra parecia a maravilhosa macha, feita de malaguetas fritas em óleo e moídas e, normalmente, frutos secos. Eu não senti os frutos secos e perguntei por eles – ao que a empregada respondeu: “Acho que não leva.” 

Para ter a certeza, a enfadada empregada só teria de percorrer dez metros até à cozinha aberta do Boca Linda, mesmo ali à vista de todos, onde o cozinheiro estava tranquilo já a despachar o nosso aguachile. Mas dez metros parecia muito para esta jovem, ocupada nas telecomunicações. “Acho que não leva”. Devia. Ficámos assim. 

O Boca Linda vinha com pergaminhos de chef estabelecido na Cidade do México, com redes sociais activas e comunicação para influencers. Mas não aguentou o choque com a realidade.

O aguachile mixto surgiu rapidíssimo, mas sobrecozinhado. Uma das coisas que distingue o aguachile do ceviche é precisamente ter uma marinada mais rápida. Aqui, estava tudo já cozido e, pior, salgadíssimo – e a empregada voltou a não saber indicar o que lá estava dentro (“várias coisas”), embora fossem evidentes o polvo e o camarão.

Mau arranque que, todavia, foi rapidamente compensado pelos tacos que se seguiram, acompanhados da única cerveja mexicana disponível no momento, a Corona. 

Primeiro, chegaram os tacos “de pastor”, clássico feito de porco adobado com chiles secos, citrinos e achiote, tudo cortado aos cubinhos e salteado na frigideira, depois acomodado numa tortilha de compra, mas boa. Seguiu-se outro taco obrigatório; o cochinita pibil, também suíno, mas cozinhado até se desfiar – talvez o melhor do almoço, juntamente com o “de camarón”, este com o marisco grandinho, frito num polme gordo, acompanhado de maionese, picles de cebola roxa e coentros frescos. 

A terminar, um pastel de elote, bolinhos feitos de milho amarelo assado, no caso bem bons, ainda que a preço de fine dining. 

No final, as coisas pareciam mais equilibradas. Tínhamos de um lado uma empregada num dia mau. Tínhamos um espaço não muito acolhedor ou especialmente emocionante, sem ambiente. Mas tínhamos tacos bem feitos. 

Até que veio a conta. Ora, para este serviço e para comida bem feita, com alguns percalços, cobraram-se 85 euros, a dividir por duas pessoas. Perdão. Cobraram-se 81 euros, mas a empregada adicionou a gratificação automaticamente. Portanto, streefood mexicana, lavada com Corona, custou-nos o preço que se paga nalguns bistrôs de gabarito da cidade. Com vinho. 

Em síntese. Eu sei que estamos em Santos, e sei que Lisboa tem rendas caras, mas há alternativas na cidade melhores e mais baratas e mais divertidas. Houve tempos, em que os restaurantes mexicanos de Lisboa faziam-se de jarros de margaritas hiperdoces, tortilhas de trigo e molhos processados. Mas hoje já não é assim. Há umas quantas casas que oferecem mais, algumas até com tortilhas caseiras, e por quase metade do preço. Não serão em Santos. Mas saberão mais a México. 

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda

Detalhes

Endereço
Calçada Marquês Abrantes 92 (Santos)
Lisboa
1200-656
Preço
40-50€
Horário
Ter-Qua 17.30-00.30, Qui-Seg 12.30-00.30
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