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Cachupa da Tia Alice

  • Restaurantes
  • Sete Rios/Praça de Espanha
  • preço 2 de 4
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado
  1. Cachupa da Tia Alice
    Francisco Romão Pereira
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A Time Out diz

4/5 estrelas

A cozinha de Cabo Verde tem nas Laranjeiras um dos expoentes máximos, em Lisboa. Alfredo Lacerda foi lá conhecer de que milho se faz uma cachupa.

Na primeira vez, cheguei já tarde e a Tia Alice já estava a almoçar numa mesa encostada à parede, sozinha. Sentei-me de frente para ela e pude desde logo sentir a sua presença. Ao mesmo tempo que comia, a dona do restaurante mantinha vigilância apertada sobre o serviço e sobre o novo cliente. “A cachupa refogada é do dia anterior”, atirou firme, muito elegante no seu cabelo armado, sem tirar os olhos do prato, falando por cima da empregada. 

A Tia – como todos lhe chamam – é uma dessas mulheres cabo-verdianas que se fizeram na força e na dureza. Aos nove anos já cozinhava para os dez irmãos. Depois, saiu da sua Ilha de São Vicente e veio para Portugal, onde andou de restaurante em restaurante até se fixar, em nome próprio, nas Laranjeiras, cinco minutos a pé da Loja do Cidadão. 

A cachupa refogada leva tudo o que leva a cachupa rica, do milho branco ao feijão congo, mas é estalada em cebola na frigideira, com um ovo estrelado a cavalo. A cachupa refogada é uma das especialidades do restaurante e o melhor curativo para quando o estômago vem de uma sova de grogue ou outro etílico. 

O grogue da Tia Alice também é especial, feito com rum de Cabo Verde (“senão, não fica igual”), limão e mel, também ele das ilhas africanas. 

“É uma maravilha, nunca provaste?”

Gosto que a Tia trate logo as pessoas por tu, qual “mama”, e gosto que elogie a sua própria comida. Pessoas como a Tia, quando elogiam a sua própria comida não se estão a elogiar a elas próprias, porque a comida é-lhes uma entidade exterior. Elas vão adorar comida, porque são seguras e têm brio no que fazem e porque adoram cachupa, qualquer boa cachupa. 

No seu restaurante, por encomenda, pode-se ainda pedir à Tia que faça uma cachupa de cevada, que é uma maravilha. 

De resto, ao longo da semana servem-se outros pratos, da moqueca de camarão à moamba de galinha (na verdade, frango do campo), das iscas (marinadas de véspera, como deve ser) ao arroz de pato (“que não tem nada a ver com o vosso”), feijoada de feijão congo, polvo de cebolada. 

Há também um menu de almoço barato e bom que permite estes petiscos e mais alguns por dez euros, o que para os dias de hoje é uma descoberta ao nível da penicilina. 

O problema de se optar pelo menu é passar as sobremesas, secção aqui obrigatória. A Cachupa da Tia Alice gaba-se de ter um cozinheiro inteiramente dedicado à pastelaria e doces, das poucas pessoas que podem tratar Alice sem ser por tia. Cláudio, filho da dona, faz uma mousse de camoca extraordinária (com farinha de milho torrada), e outra de manga (com manga a sério), para não falar nos pudins de queijo de cabra (queijo a sério, semi-curado) e de coco. 

Quanto ao espaço, é amplo, luminoso e despersonalizado, porventura um pouco frio, sem ambiente étnico, mas impecavelmente limpo, tanto na sala, como na cozinha semi-aberta. 

Em síntese. A Tia Alice é um valor seguro, pelas cachupas e não só. Tem tudo sabor, é tudo feito de raiz e é tudo a preço justo. Que mais podemos pedir, Tia?

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda

Detalhes

Endereço
Estrada da Luz, 98
São Domingos de Benfica
Lisboa
1600-141
Preço
12-18€
Horário
Seg-Sáb 12.00-15.30
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