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Caza (FECHADO)

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A Time Out diz

Em Santa Apolónia há um restaurante ainda à procura da identidade, a roçar a armadilha para turistas, na qual tivemos o azar de cair

Crítica

Para grande infelicidade de quem vai comigo almoçar 
ou jantar fora, além da atenção dada aos pratos, passo boa parte
 do tempo a tentar perceber as dinâmicas da sala. Se o dono está no restaurante, se o chef/cozinheiro está n acozinha, o que cochicham e sinalizam os empregados uns aos outros. Resumindo, tudo o que vier à rede – se por acaso calha apanhar uma conversa sumarenta nas mesas do lado, ui, então aí a atenção está desviada de vez. Enquanto observo, construo uma teia de ligações dos sítios que, tenho de admitir, me diverte mais do que me ajuda a montar uma crítica. Até porque faço isto sempre que janto ou almoço fora, seja em que ocasião for. Não é patologia. Chamemos-lhe cusquice.

No dia que jantei no Caza, uma quinta-feira de casa praticamente vazia, apanhei uma equipa de pessoas que me parecia ser da casa e estar com vontade de fazer algumas mudanças. Só isso explica que a luz da sala de jantar [um enquadramento: há uma sala de entrada com mais luz, mesas e um balcão estilo taberna e uma sala de jantar propriamente dita, com uma decoração 100% diferente, onde jantei] tenha sido ajustada três vezes numa hora e meia, ora com mais intensidade, ora com menos; só isso explica que 30% da refeição tenha sido passada ao som das conversas da sala do lado e do chef a comunicar da cozinha, e 70% ao som de uma música alta que me fez lembrar aquelas tardes de praia no Algarve em que se tenta fazer uma sesta 
e o volume da coluna no bar não deixa; só isso explica que quem me pareceu ser um connaisseur da restauração tenha dito alto e bom som (lembrem-se que a música estava alta) que os lustres da sala de jantar deviam desaparecer (entre outros pormenores com os quais não vos maço). E aqui quis intervir em sinal de concordância. Lustres chiques, ecrãs de 50 polegadas para ver a bola e uma cabine de DJ, tudo no mesmo espaço, não joga nada bem.

O que também não joga lá muito bem é um restaurante onde há pratos que levam 13 ingredientes – permitam-me que vos apresente o Bacalhau
 à Caza: lombo de bacalhau em sous vide com azeite e coentros, crosta de broa, castanha de caju, cebola roxa, em torre de espinafres salteados em azeite e alho, tomate cherry bringido em azeite, dente de alho salteado e ligados com molho de manteiga e lima, puré de castanha – ter uma ementa com fotografias. Nem todas as sugestões têm esta quilométrica descrição, mas um sítio com “torres de”, “em cama de”, “bisques de”, já tem algum toque autoral que não bate com uma ementa de fotografias.

Até porque, no caso, as fotografias não ajudaram. Antes pelo contrário. O creme de abóbora (4,95€), que devia trazer bolinhas de ricota com sementes de papoila e dados de abóbora no forno 
em azeite – li na ementa e vi na fotografia com estes olhos que a terra há-de comer – era apenas 
um creme de abóbora. Sem nada
 a nadar lá dentro. Consistência grossa e falta de sal. O pica-pau
 de vitela (8,50€), um exemplar mediano da espécie, de tempero forte, apresentava pão na fotografia e nem o vi. O tal bacalhau de descrição interminável (17€)
 tinha menos ingredientes que o fotografado, vinha demasiado seco, com espinhas e com uma crosta grossa e adocicada, não em torre, mas ao lado de uns espinafres secos, com dois tomatinhos a nadar no prato. O Atum da Preta (cá vai: lombo de atum em crosta de ervas e sementes de sésamo, cebola caramelizada, cama de legumes em tiras salteados em azeite, molho de ostra e molho de soja, 15,90€), muito gabado pela empregada de mesa, estava borrachoso, não tinha sabor, não vinha em cama mas ao lado de vários legumes num molho doce, enjoativo e picante. A sobremesa, uma tríade de chocolate, estava apresentada numa única tira do prato (muito escola de cozinha), com o chocolate em várias texturas – gelado, bolo, crocante, pudim– e sabores – branco, leite, negro –, mais uns morangos em cubinhos, flores comestíveis (!), estava assim-assim.

Tudo desajustado neste Caza food, drink & fun, como o sítio se apresenta. Fraca a food, não posso avaliar a drink porque só bebi
 um copo de vinho, fun só mesmo ouvir os planos que têm para o restaurante. E conversar com a simpática empregada de mesa.

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Escrito por
Marta Brown

Detalhes

Endereço
Rua dos Caminhos de Ferro, 98
Lisboa
1100-108
Transporte
BUS 728, 735, 781, 782. Comboio Santa Apolónia
Preço
20 a 30€
Horário
Ter-Sáb 09.00-02.00, Dom 09-15.00
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