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Corrupio

  • Restaurantes
  • Grande Lisboa
  • 4/5 estrelas
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  1. Corrupio
    Arlei LimaCorrupio
  2. Corrupio
    Arlei LimaSalada de polvo com batata doce
  3. Corrupio
    Arlei LimaDetalhe do balcão
  4. Corrupio
    Arlei LimaDetalhe do balcão
  5. Corrupio
    Arlei LimaPeixe do dia com arroz fresco de limão e coentros
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A Time Out diz

4/5 estrelas

As expectativas eram baixas. Passarão a ser altas. Luís Monteiro não saiu com a cabeça num corrupio, mas sim com um corrupio de sabores.

Não é fácil definir corrupio. A palavra, não o restaurante. O dicionário diz que pode ser um jogo de crianças, andar à volta ou um movimento muito intenso. No Corrupio não senti a cabeça a andar à volta, mas os sabores são muito intensos. Um verdadeiro corrupio de sabores. 

Fui sem expectativas. Um novo restaurante, sem pompa nem circunstância, num espaço simpático, mas simples, onde o balcão é o centro e as mesas são poucas, pequenas e próximas, no limite do conforto. Comecei a comer ainda com poucas expectativas e saí com a expectativa de voltar em breve. 

Góngora (sim, o poeta) escreveu que o destino não nos traz nada de acordo com os livros: tanto nos oferece apitos quando esperamos flautas, como flautas quando esperamos apitos. Foram flautas no Corrupio. Na verdade, a intensidade de sabores é tal que em vez de flautas é mais apropriado falar de uma secção de metais, uma big band de jazz em forma de comida. 

Começou por vir para a mesa um óptimo pão azedo (sourdough). É sempre um bom indício fazer bem o básico. Iniciámos depois com uns pastéis de massa tenra, mas estes, de forma original, com recheio de bacalhau. Massa perfeita, intacta e crocante até à primeira dentada, quando se desfez na nossa boca, como deve ser com uma boa massa tenra. O recheio pleno de sabor. Não começou tímido o Corrupio, um murro de sabor logo à primeira dentada. Igualmente de chorar e correr por mais (trocadilho intencional…) o camarão ao alhinho, talvez o melhor que alguma vez comi. O molho não é aquela “sopa” de azeite, alho e malaguetas em que tantas vezes nos servem os camarões. É um verdadeiro molho, sedoso (penso que emulsionado com manteiga) e de sabor perfeitamente equilibrado. O alho aromatiza, mas não domina (mas não temam os fanáticos do alho: se quiserem reforçar o sabor a alho têm lâminas no molho). O picante exaltava o sabor sem o eliminar, como deve ser, mas tantas vezes não acontece. Não confundam concursos de picante (uma curiosidade) com comer bem. Muito picante é apenas uma óptima forma de esconder má comida (a outra é cobrir de queijo e gratinar…). No final, um toque de acidez e a frescura dos coentros fundiam tudo isto na perfeição. A acompanhar, umas torradas com manteiga. Uma tentação irresistível para embeber naquele molho. Um único reparo. Melhor, uma preferência: preferia os camarões um pouco menos cozidos. Mas isso tem mais a ver com o meu gosto que, reconheço, está longe de ser dominante em Portugal. O consumo de marisco cru nos sushis e tártaros (nos ceviches, na verdade, cozinha-se através da acidez) tem crescido, mas sem grande impacto no consumo de marisco cozinhado, quase sempre cozido um pouco demais para o meu gosto. 

Curiosamente, não foi o caso com os camarões do prato seguinte. Ligeiramente cozidos, cobertos com o sal certo e acompanhados de uma maionese de limão. Simples, mas é tudo o que importa quando o produto é bom e bem tratado. 

O “Chicken Piri-Piri à Nossa Moda” devia passar a ser a moda de todos nós. Uma reinterpretação de um clássico plenamente conseguida e cheia de sabor. O picante do frango atingiu de novo o equilíbrio perfeito, e a salada algarvia (tomate, cebola e pepino) que acompanhava oferecia a frescura que o piripíri exige. Já as batatas, não sendo más, ficaram aquém das expectativas que tudo o resto foi alimentando. Antes do doce ainda se comeu um extraordinário arroz de cabrito, enchidos, acelgas grelhadas e laranja. Mais uma vez, um impacto brutal de sabor. O arroz no ponto perfeito, com cada grão a saber a cabrito e enchidos, tudo equilibrado pela acidez da laranja e o ligeiro amargo das acelgas. Um prato que, tal como os camarões ao alhinho, tem tudo para figurar no meu top 10 deste ano. 

Só isso diz tudo sobre o quão bem comi no Corrupio. Só se provou uma sobremesa, a mousse de chocolate com banana que, não sendo má, ficou uns furos abaixo do nível altíssimo dos outros pratos. 

Carta e serviço de vinhos a melhorar. A carta é pequena e com poucas coisas interessantes. O serviço de vinhos pareceu dirigido aos turistas que abundam na zona. Um vinho com castas portuguesas foi apresentado como “uma espécie Chardonay”... Not really. Temos de aprender a vender o que é português pelo que é, sem pedir emprestada a identidade dos outros. O pior que podemos fazer são associações que criam equívocos. As identidades emprestadas são identidades falhadas. Falemos dos nossos vinhos, contemos as suas histórias e exaltemos a sua identidade. Não precisamos de ser como os outros quando, tantas vezes, o melhor de nós mesmos é não sermos como os outros. 

Há um novo estilo de restaurantes na cidade. Não querem parecer, mas ser. Relaxados, descomplicados e descomplexados no espaço, serviço e abordagem, mas focados e concentrados no sabor. O Corrupio é um deles e eu vou andar num Corrupio para lá voltar.

Escrito por
Luís Monteiro

Detalhes

Endereço
Rua da Moeda, 1
Lisboa
Horário
Seg-Dom 12.00-00.00
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