Crítica
Juntar bife, salsicha, linguiça, Fambre e mortadela, entre duas fatias de pão de forma, embrulhar tudo em queijo, sobrepor-lhe um ovo estrelado e verter no topo um molho gorduroso (de carne e marisco) é uma receita impensável, o maior condensado de proteína animal por metro quadrado do Pantagruel e do mundo, um murro nos rins, um beliscão no hemorroidal.
E, no entanto, funciona.
Porquê?
Porque tem muito umami (vão à internet) e porque tem muito tudo – fora legumes e frutas e outras coisas em que a Dina Aguiar se conserva (Google: Dina Aguiar + Idade + Dieta).
Surge isto a propósito do Dote, uma “cervejaria moderna” com ligações ao Marco, o famoso homem que trouxe as francesinhas para Odivelas e depois conquistou Lisboa. A casa de Alvalade, onde comi na semana passada, é a terceira e a mais recente da Grande Lisboa e está sempre cheia de pessoas com pullover pelos ombros.
No menu há três francesinhas (uma sem linguiça, outra sem bife, outra com tudo) e as três são bem montadas, mas vêm alagadas num molho com uma capa oleosa e tóxica, a lembrar o Golfo do México depois do desastre de 2010. Quanto à sandes, o bife trinca-se bem, a salsicha e a linguiça fraquinhas, o queijo é excessivo e assim que arrefece fica borrachoso como uma havaiana.
Numa refeição recente salvaram-se umas costeletinhas de borrego bem tostadas e os rissóis de carne de entrada, sequinhos. Fraco dote para a fama.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.
