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Luz by Chakall

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Luz by Chakall
Manuel Manso
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A Time Out diz

O argentino do turbante e da alcunha de lobo instalou-se no estádio do Benfica. Alfredo Lacerda foi lá e não gritou golo.

Quando pergunto por Chakall, a rapariga fica tensa. “Ele não está”, responde, engolindo as palavras, olhos muito abertos. Costuma cá vir?, prossigo. “Não muito”, atira, enquanto levanta a louça da mesa. Alguma vez o viu aqui?, insisto, já ela arranca apressada para a cozinha. 

Às vezes, duvido da existência física de Chakall. Nestes dez anos a escrever e a frequentar restaurantes, clubes e comunidades gastronómicas em Lisboa, nunca me cruzei com ele. 

Aparentemente, Chakall existe, mas só na Internet. Olhando para o seu Instagram, os posts sucedem-se. Faz publicidade a electrodomésticos, a um stand de automóveis em segunda mão, a uma empresa de janelas e portas. 

Exemplo de um post de Chakall, o influencer. A foto mostra-o relaxado em casa, de turbante (?), olhando para um computador portátil, com uma criança em segundo plano. E diz assim: “Apesar de ter saudades dos dias de verão, a aproveitar o sistema ConceptFolding das janelas da @reynaers_portugal que faz com que a minha sala de jantar duplique de espaço, unindo o interior com o terraço, sabe muito bem ter esta incrível vista nestas tardes frias de nevoeiro enquanto trabalho com a melhor companhia que podia pedir ♥”. 

O texto parece escrito por um adolescente depois de três shots de absinto, dois charros e um estalo do Will Smith. Pontuação deficiente, erros gramaticais, petas descaradas, confusão. Dito isto, quantos “gostos” teve o “conteúdo” sobre a marquise de Chakall? Quase 5700. 5700 gostos são números para contas de atrizes semi-nuas e jogadores da bola.  

Chakall tem tráfego, como dizem os marketeers digitais. Disso não duvido. Mas será pelos seus dotes literários ou culinários? Ou será por ser o sonho húmido de mulheres maduras. Continuo a achar o mesmo que em 2019, quando escrevi aqui sobre a razão do seu sucesso. 

"Vejo Chakall como um produto embalado pronto a comer por mulheres de meia-idade seduzidas por olhos azuis e um certo ar perigoso de berbere montado num camelo. Como símbolo sexual é eficaz e não interessa que tenha vindo da Argentina, que na Argentina não haja turbantes [nem chacais, já agora]. Para as mulheres de meia-idade, Chakall será sempre essa figura exótica que um dia se enfiará com elas dentro de um saco cama no Sahara. Para mim, contudo, será sempre o homem das azeitonas oxidadas", lê-se na crítica ao seu O Refeitório do Sr. Abel, entretanto encerrado.

O tempo tem-me dado razão. 

Neste Luz by Chakall, um dos primeiros pratos a chegar à mesa é uma “pissaladière de sardinhas”. O nome não vem de pizza, mas de pissalat, referência a uma pasta de anchova usada na região da Ligúria. Sucede que “pissalat” nem vê-la. O que vi foi uma base de pizza de levedura industrial, sobre a qual estavam sardinhas de conserva estilhaçadas, aros de cebola roxa com cheiro a sovaco de boxeur e — sim — azeitonas pretas oxidadas. 

De resto, a filosofia dos restaurantes by Chakall mantém-se intocada: congelados prontos a reaquecer (como as empanadas servidas de entrada, muito secas); coisas pré-feitas com uns truques de chef amador (como a focaccia à fatia, igualmente ressequida); produto abaixo da média embrulhado em frigideirinhas bonitas (como os camarões ao alhinho, sensaborões e borrachosos); ou imitações de receitas boas, como a do bife à Luz (com um “molho especial do chef” que parecia mesmo aquele molho lácteo abundante em Lisboa, inventado há mais de um século). 

A diferença neste Luz parece ser que, aqui, os preços são mais altos ainda. A única razão que vejo para isso acontecer é por causa do espaço. O restaurante fica na porta 10 do Estádio da Luz. Sobe-se umas escadas e entramos numa sala com vista para o relvado. É um estádio bonito e imponente, sobretudo se formos do Benfica, como é o meu caso. Mas esqueça-se a ideia de espreitar os craques encarnados. Em dias de jogo, o restaurante está encerrado ao público e as únicas caras conhecidas são uma ou outra pivô da BTV, o canal do clube.

No Luz by Chakall, é tão difícil assistir a um golo de Enzo Fernández quanto a um prato notável de Chakall

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda

Detalhes

Endereço
Estádio Sport Lisboa e Benfica, porta 10
Lisboa
1500-313
Horário
Seg-Qua 12.00-15.00, Qui-Sáb 12.00-15.00, 19.00-22.30. Dom 12.00-15.00.
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