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Re’tasco

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  • Benfica/Monsanto
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A Time Out diz

4/5 estrelas

Filipe Marques deixou uma carreira a servir altos quadros do Banco de Portugal, para abrir casa numa esquina de Benfica. Ganhámos nós, diz Alfredo Lacerda.

Assim que abri o Instagram, vi uma trouxa de gambas com riscos de vinagre balsâmico. Consigo suportar a trouxa de gambas como um fetiche, mas os riscos de balsâmico são como uma mulher – madura, muito madura – com pêlos encaracolados nos dedos dos pés e isso já é do domínio do terror. 

Sucede que a internet parecia gostar do Re’Tasco (assim mesmo, com apóstrofo). E, quando a internet gosta, o Lacerda faz-se ao caminho. 

O restaurante fica numa esquina tranquila de uma zona residencial de Benfica, em frente à Escola Superior de Comunicação Social, do outro lado da Segunda Circular. 

Lá dentro, a decoração assentava em caixas de madeira de garrafas de vinho, com as marcas nobres e caras do costume (mas também outras raras, como um Negra Mole algarvio, óptimo), só para clientela de fato e gravata ou para edis ex-presidiários para quem um Pêra Manca é um vinho banal, sobretudo se for a autarquia a pagar. 

Na mesa, toalha de pano e muitos talheres. Sabemos que quantos mais talheres tem uma mesa, mais alta será a conta. Assim que abri o menu confirmei a tese, mesmo se algumas entradas eram clássicos de catering, como o carpaccio de ananás com morcela ou as trouxinhas de chèvre. 

Nos principais, todavia, havia pratos fora da caixa e foi por aí que fui, sem grande expectativa, mas de coração aberto. 

Tudo o que aconteceu, a seguir, foi uma bofetada ao crítico com a mania. Ora, vejamos.

Lombo de bacalhau confitado com molho à Bulhão Pato e esmagada de batata. Excelente, o peixe lascado, alto, suculento; o Bulhão Pato a casar muito bem. Rabo de boi Wagyu no tacho, tenríssimo, apurado. Noutra visita, provaram-se os filetes de polvo com risoto de coentros, o molusco frito no ponto em gordura limpa, o arroz Arborio, de bago grande, aberto mas firme. E umas bochechas de javali com migas de tomate seco, tenras mas ligeiramente elásticas, como devem ser as bochechas. 

Ou seja, tudo muito bem feito, com matéria-prima de topo, incluindo as carnes de grelha, onde se trabalha a maturação com a consciência, sem criar fósseis. 

No final da refeição, perguntei quem era o chef. À frente do restaurante está Filipe Marques, que trabalhou na Quinta da Fonte Santa durante mais de uma década. 

O que é a Quinta da Fonte Santa? A história é curiosa, diz-nos deste país e ajuda-nos a perceber porque tantos ex-ministros gostam de entrar nos quadros do Banco de Portugal. “É uma quinta privada do Banco de Portugal, para colaboradores do Banco de Portugal, em Caneças”, ficamos a saber. 

Pesquisando sobre o assunto, encontramos muito pouca informação oficial, a não ser que “é usada como centro de formação e espaço institucional para a realização de reuniões de trabalho. Dadas as suas características, serve igualmente para a promoção de diversas actividades de natureza social, cultural e desportiva, destinadas aos colaboradores e reformados do Banco e eventuais convidados.”

Oooooh, comovente. 

Depois das reuniões de trabalho de autarcas em restaurantes, eis a versão quinta, que tratar das finanças do país em ambiente campestre, com centro hípico e chef privado, é muito melhor. E ainda se acautela a reforma dos velhinhos do Banco de Portugal, por regra gente com pensões baixas, ajudando-os a custear o exercício físico e o convívio, sempre com comida da melhor por perto. 

Ora, Filipe Marques trocou 13 anos de catering para financeiros e altos quadros da função pública na Quinta da Fonte Santa por um projecto seu, arriscado. Há dois anos que mantém o nível alto, em Benfica, sempre perto dos clientes. 

Para quem procura comida de qualidade, tradicional com uns toques de mundo, feita com carinho e atenção ao produto, o Re’Tasco bate aos pontos os nomes sonantes do costume, do Solar dos Presuntos a outros solares da cidade – com ou sem balsâmicos. 

Desta vez, a internet estava certa. 

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda

Detalhes

Endereço
Estrada do Calhariz de Benfica, 13 (Benfica).
Lisboa
1500-121
Preço
30€-35€
Horário
Ter-Sáb 12.00-15.30/ 19.00-23.00
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