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Último Porto

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  • Estrela/Lapa/Santos
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  1. Último Porto
    ©Ana LuziaÚltimo Porto
  2. Restaurante, Último Porto, Robalo Escalado
    ©Ana LuziaRobalo Escalado do Último Porto
  3. Restaurante, Último Porto
    Fotografia: Ana LuziaÚltimo Porto
  4. Restaurante, Último Porto, Sardinhas
    Fotografia: Ana Luzia
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A Time Out diz

4/5 estrelas

Entre contentores e gruas, José Margarido redescobriu um dos raros sítios onde é aceitável comer peixe assado em Lisboa.

Não costumo ter paciência para pessoas que dizem como eu costumo dizer. Costuma ser gente com pouca imaginação. Hoje, porém, faço o esforço de aturar uma dessas figuras. Peço-vos que me acompanhem. 

Lisboa é uma cidade estranhamente distante do mar. É verdade que a água fica já ali adiante e que por lá passeia uma variedade admirável de peixes. Mas só uma dúzia deles tem presença cativa nos menus da cidade – e metade nem se pode dizer de mar. 

Para piorar o caso, os lisboetas são uma tribo que não domina o fogo e é difícil encontrar um indígena com mão para a grelha. Para o comum alfacinha, um carapau assado equivale a um chicharro de palmo e meio, carbonizado e moribundo, a pedir manobras de reanimação com molho à espanhola. Daqui resulta serem raros na cidade os sítios de peixe fresco grelhado a preços honestos. (Resulta também que o maravilhoso carapau seja um peixe profundamente injustiçado, mas isso é conversa para outro dia.)

Ora, se estas ideias soam repetidas, não estranhem. São coisas que eu costumo dizer.

E é neste cenário que deve ser entendida a minha avaliação do Último Porto. Das quatro estrelinhas que brilham aqui em cima, uma fica por conta da geografia. Estivesse a casa num lugar como Sesimbra, Setúbal, Nazaré, Olhão ou Matosinhos e não levava mais que três. Em Lisboa, um sítio assim faz-se valer ao metro quadrado.   

Regressei aqui uma meia dúzia de vezes nos últimos tempos (bom sinal) ainda que as experiências tenham sido desiguais. Sobretudo, porque a grelha tem dias. Na melhor parte deles, é preciso dizer, os bichos chegam dourados pela brasa e intocados pelo lume. Mas também já me aconteceu ter de pelar uma belíssima cabeça de corvina com queimaduras de primeiro grau nas bochechas.

As cabeças são, ainda assim, uma das apostas seguras da carta. Confirmei-o numa visita seguinte. Corvinas, garoupas, pescadas e pampos são diariamente decapitados para gáudio das hostes e costumam esgotar num ápice. Noutra destas expedições, pouco passava das 14.00 de um sábado de Junho, já não sobrava uma cachola para amostra. A essa hora, as ovas de pescada, uma das melhores ofertas residentes do menu – pequeninas, gordas, grelhadas, trinchadas e servidas de entrada – também já eram. Nesse dia, fiquei-me por uns carapaus médios, gordinhos e suavemente passados pela brasa. Não eram os maravilhosos carapaus manteiga que a partir de Julho me farão novamente pensar em ir viver para Setúbal, mas estava uns furos acima das sardinhas ainda escanzeladas que povoavam as mesas em redor.  

Ao sábado, de resto, costuma ser assim: quem quer escolha de peixe reserva de véspera e aparece até ao meio-dia e meia. De semana, a concorrência não é tão forte, mas a reserva também se aconselha. É que o Último Porto é como a última Coca-Cola no deserto: não mata a sede, mas refresca – e na aridez do nada isso vale muito.

Uma última menção honrosa para os óptimos grelos, tenros e carnudos, que servem de guarnição a boa parte da peixaria. E uma menção horrorosa para os inexplicáveis papo-secos plastificados que fazem as vezes do pão e que eu, criatura pãozeira, não resisti a comer. Como eu costumo dizer, antes mau pão do que pão nenhum. Tenham paciência, eu costumo dizer muito disparate.

José Margarido
Escrito por
José Margarido

Detalhes

Endereço
Estação Marítima da Rocha do Conde de Óbidos
Alcântara
Lisboa
1350-052
Transporte
BUS 714, 728, 732. Eléctrico 28
Preço
Até 30€
Horário
Seg-Sáb 12.00-16.00
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