Eis os Dias. Os Dias que ali vivem e os Dias que agora alugaram casa ali por perto. Os segundos, cheios de vida, vêm apresentar-se aos primeiros, mais ou menos prostrados no jardim. Já deram pela coincidência dos apelidos, mas ainda se julgam e parecem casais muito diferentes. Contudo, as aparências iludem.
Há, de facto, muito mais a juntar do que a separar Margarida (Manuela Couto) e Tó (João Reis) de Bambi (Catarina Furtado) e João (Paulo Pires). Os primeiros parecem muito terra a terra, enquanto os outros são mais para o aluado. Mas, afinal, são dois casais, e os casais, por diferentes que sejam uns dos outros, tendem a viver problemas idênticos. Parece um lugar comum e é mesmo uma generalização, pois essa é a matéria-prima com que Will Eno (n.1965) cria as suas peças, mesmo quando, como nesta, o tema é a mortalidade. Para o muito premiado dramaturgo norte-americano, o quotidiano, a vulgaridade, a rotina, a coincidência convenientemente dramática (aqui, sem o saberem, os homens sofrem da mesma doença neurológica pouco conhecida, coisa que lhes mexe com o cérebro e arrevesa a linguagem) são manipuladas com precisão e transformadas em diálogos que, aos poucos, revelam o que vive escondido, geralmente pelo seu lado ridículo, sem julgamento nem considerações morais. No fim sobra alguma esperança, e um certo vazio resignado à realidade; como quem diz: é a vida…
Nesta encenação de Marcos Barbosa a vida podia ser mais viva, lá isso podia. O que colocaria a sua montagem de Os Dias Realistas mais perto da comédia negra desejada pelo autor e consignada no original. Porém, a subtileza do texto não transparece na rígida marcação do movimento dos actores, e a palidez das suas interpretações torna as frases planas, sem vibração interior, sem verdade, ou seja, sem efeito nem impacto.