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A Badalhoca
© Eduardo MartinsA Badalhoca faz parte da lista

Sente-se à mesa: aqui prova-se o verdadeiro Porto

Conheça os seis tascos mais tradicionais do Porto, segundo Raul Simões Pinto, autor de vários guias dedicados a estas casas.

Escrito por
Patrícia Santos
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Chamamos-lhes tascos e, além da comida tradicional, são guardiões do típico e caloroso convívio portuense. Raul Simões Pinto conhece bem estes lugares – lançou o primeiro livro sobre o tema em 2007 e escreveu o Roteiro dos Tascos do Porto em 2015, que em Junho de 2023 teve direito a uma segunda edição. À conversa com o autor, não resistimos a fazer-lhe uma pergunta: quais os seus tascos favoritos?

Quando tinha apenas cinco anos, Raul Simões Pinto deu por si a viver e dormir num tasco. Foi entre as paredes do 39, assim conhecido por ficar neste número da Rua da Pasteleira, que se apaixonou por este universo, ainda que à primeira vista possa parecer pouco atractivo – e até mesmo nada recomendado – para crianças. “O meu pai era taberneiro, o que me permitiu crescer num ambiente marcado pela ideia de convívio, solidariedade e amizade”, começa por contar o portuense. Com os clientes, que tanto discutiam futebol como política, Raul aprendeu muita coisa, inclusive a ler. “Quando estavam às voltas com o jornal, costumavam chamar-me e iam lendo conforme apontavam as letras. A dada altura, já conseguia fazer a leitura sozinho”, lembra. Entre petiscos, também se jogavam jogos tradicionais, das cartas ao dominó e às damas, bebiam-se copos de vinho e ajudava-se o outro da forma que fosse possível. “As pessoas conheciam-se pelo nome, sabiam como estava a família, como andava o trabalho e preocupavam-se. Eram outras vivências”.

Aos 11 ou 12 anos, o 39, onde se tornou anti-salazarista, teve de ficar para trás. “Tivemos de sair porque a renda começou a subir demasiado. Fomos praticamente despejados”. Passaram-se cerca de cinco décadas e a realidade desse estabelecimento é cada vez mais comum a tantos outros que se espalham pelo Porto. Recorda, por exemplo, a Adega de São Martinho, que existia na Rua D. João IV. “Era um sítio emblemático, dos mais tradicionais que havia. A dona, que morava no andar de cima, ainda fazia as contas em escudos, no mármore de balcão, antes de converter o valor para euros. Estava parado no tempo, fiel ao que sempre foi, até que compraram o edifício para construir um hotel”, revela. Em 2016, 46 anos depois de ter assumido o negócio, Maria Teresa Teixeira teve de o deixar.

“O Porto está a perder a alma. Em 2007, para As Tascas do Porto, consegui reunir 100 espaços. Quando, em 2015, fiz um novo roteiro, já só encontrei 50. Cerca de oito anos depois, para conseguir manter este número, precisei deixar as fronteiras da cidade. Fui a Gaia, Matosinhos, Maia e Gondomar à procura de dez sítios que pudessem ocupar o lugar dos que se perderam, seja por terem fechado ou por terem abdicado das suas características típicas”, explica. A tendência é para piorar. “Com a grande pressão imobiliária, que obriga os proprietários a abandonar as casas em que cresceram e sempre trabalharam, é provável que, daqui a algum tempo, não haja tascos no Porto. É preciso protegê-los antes que desapareçam e, com eles, as nossas tradições, a nossa gastronomia, o que nos distingue. Corremos o risco de nos tornar num destino igual a todos os outros, o que nem aos turistas interessa”, partilha.

Além da “loucura” em que se têm transformado as rendas, Raul vê outros motivos para o declínio destes bastiões da memória tripeira, como o envelhecimento das pessoas que os dirigem e o pouco interesse das novas gerações. “Os jovens preferem, cada vez mais, outros ambientes. É preciso apresentar-lhes estes espaços. Sem ligação geracional, vão perder-se”, garante. Mesmo que com um futuro incerto, ainda há tascos extremamente tradicionais dentro dos limites da cidade. Raul falou com a Time Out sobre os seus favoritos.

Os tascos mais tradicionais do Porto

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  • Baixa
  • preço 1 de 4

Bolinhos de bacalhau, bifanas, bucho, panados, fígado e moelas são alguns dos petiscos servidos nesta tasca mítica com 90 anos de história, que reserva o primeiro andar para aqueles que querem almoçar. Como o nome do negócio deixa antever, aqui não se presta apenas culto à boa comida, mas também ao Futebol Clube do Porto, com a cor azul presente em cada detalhe, das portas ao balcão e às paredes, repletas de posters e quadros alusivos à equipa da cidade, entre outra memorabilia, como enumera Simões Pinto. Ainda que prefira emblemas distintos, pode vir sem medos – a rivalidade é a única sem direito a lugar à mesa.

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  • Bonfim
  • preço 1 de 4

“Pela sua caracterização e contexto ambiental, pelo cunho popular e, sobretudo, pelos petiscos de qualidade, com destaque para as sandes de presunto acompanhadas com vinho à tigela”, é seguro dizer que esta casa em Campanhã se encontra entre as “mais tradicionais” da cidade. Os rojões suculentos, mergulhados num molho guloso com sabor a cominhos, as fatias de salpicão de Cinfães e os cubos de queijo de Celorico da Beira são outras propostas do estabelecimento, cujo nome se inspira em Francisco Braga, mais conhecido como Xico dos Presuntos. É ele quem, juntamente com a esposa, Dona Helena, gere o espaço há 30 anos, indica o autor. Diariamente, a dupla junta um prato especial de almoço, que alterna entre opções como arroz de polvo e feijoada, aos indispensáveis croquetes, rissóis, iscas de bacalhau, fígado de cebolada e papas de sarrabulho, que pode pedir a qualquer hora. Independentemente do momento, neste tasco, com alvará desde 1938, a estrela é mesmo o presunto, cortado em fatias finas numa máquina mantida atrás do balcão. No tecto de telhas, apreciam-se as pernas do porco, assim como uma guitarra de fado e canecas de barro.

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  • Porto

Maria Helena Gomes é quem, com a ajuda dos filhos, assume as rédeas desta adega regional situada no pátio de uma antiga ilha do Porto. Construída em forma de túnel, facto a que deve o nome, funcionou primeiro como celeiro, começa por explicar o autor. No entanto, há mais de um século que abre as portas ao público como tasco. Para petiscar, as iscas de bacalhau e os rojões são possibilidades mas, ao almoço ou jantar, não deve deixar de experimentar o polvo à lagareiro, uma das especialidades desta casa tão típica. Aos fins-de-semana, não servem refeições, apenas sandes e bebidas.

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O bacalhau à Margarida, com batata cozida e cebolada, está disponível à sexta-feira e é uma das especialidades do Buraquinho do Freixo. Localizada numa zona que foi industrial e hoje vive desse passado, esta adega regional distingue-se, em parte, por conservar “imensos traços característicos de tasco antigo”, comenta o autor. Outro atractivo tentador do estabelecimento, que serve almoços e jantares a preços convidativos, é o rancho, no menu à segunda-feira. Alberto de Sousa e os seus familiares lideram o negócio, que também conquista com petiscos como bucho e bolinhos de bacalhau.

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Sandes de presunto, bolinhos de bacalhau, iscas e rojões estão entre os petiscos à sua espera na Flor do Palácio, que antes de ser adega e casa de pasto foi barbeiro e carvoeiro. Apesar da qualidade dos petiscos servidos se ter mantido inalterada com o passar dos anos, o negócio já não é o mesmo. “A Flor do Palácio viveu tempos felizes quando, no lado oposto, decorria a Feira Popular e o Palácio de Cristal se enchia de gente. Hoje, com o Pavilhão Rosa Mota e o fim da feira, vive tempos mais complicados”, nota Raul. A octogenária Idalina Andrade, contudo, mantém-se estoicamente à frente do espaço com quase 90 anos. Este ainda atrai uma clientela diversa, que vai de vizinhos a jovens universitários. É passar por lá e vê-los sentados numa das duas mesinhas ou ao balcão.

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  • Pinheiro Manso
  • preço 1 de 4

Mítica, histórica e impossível de contornar. É assim A Badalhoca, uma das tascas mais emblemáticas da cidade. Raul descreve-a, inclusive, como uma “catedral”. Mas ninguém lá vai para rezar, embora seja possível que saia de lá a sentir-se abençoado. Tudo graças às sandes de presunto — vendem uma média de 500 por dia —, afamadas pela qualidade e pela quantidade da guarnição dentro do pão, que vem da Padaria Lua de Mel, do outro lado da rua. O vinho Espadal verde, branco ou maduro tinto, também ele cheio de devotos, é uma excelente opção para acompanhar a iguaria. Para quem dispensa o presunto, que chega de Castelo Branco, há propostas que vão das tripas às postas de bacalhau, iscas de fígado e bucho.

Segundo os proprietários, Maria de Lourdes e Fernando Zuzarte, a história do espaço remonta a 1885. Citados pelo escritor, dizem que era uma adega rural de chão térreo que só vendia vinhos. A Badalhoca, de apelido, “era uma senhora que, além de não ter higiene, se punha em posições pouco ortodoxas em frente dos seus clientes”. Actualmente, os donos prestam homenagem ao Boavista (basta olhar para as paredes), o outro grande clube da cidade.

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