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Depois de levar a Índia para Berlim, o Chutnify aterra em Lisboa

Escrito por
Catarina Moura
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Quando era miúda, no Norte da Índia, o momento mais rock de Aparna era esperar que o avô ou os pais não estivessem por casa para poder comer com as mãos. Repreendiam-na, falavam-lhe das boas maneiras que é preciso ter, mas a cultura popular indiana mostrava-lhe outra coisa: o melhor é comer com as mãos, com um pedaço da naan a recolher molhos e arroz. “Dizem que o metal dos talheres, quando toca na língua, altera o sabor dos alimentos. Não sei se é verdade, mas comer com as mãos é uma arte”, diz à Time Out Lisboa Aparna Aurora, que acaba de abrir no Príncipe Real o Chutnify, o restaurante indiano que começou por se estrear em 2014 em Berlim. Tornou-se um sucesso e faz tudo pela comida que se come com as mãos.

Depois de 20 anos a trabalhar na indústria da moda, depois de ter vivido em Nova Iorque, São Paulo, Cidade do México e outras sete cidades, chegou a Berlim e “era uma frustração não gostar do trabalho”. Gostava de cozinhar e não havia nenhum bom indiano na cidade – foi tão simples quanto isto. Começou ela mesma na cozinha a fazer dosas, um prato indiano de que ninguém nunca tinha ouvido falar. “Pensei que ia ser preciso educar as pessoas para as dosas, mas pegou muito rápido. De repente começou a correr bem e tivemos de contratar um chef”, lembra. 

A sala tem as cores da Índia e caras de Bollywood
©Francisco Santos

Sempre com Ganesha pintado na parede do bar – “é o nosso Deus mais fofinho, o que dá sorte”, diz Aparna – abriu outro restaurante na capital alemã e, quando quis ir ao terceiro, ia escolher Madrid, mas alguém lhe disse: “Tens de ir a Lisboa, é como uma mini-Berlim.” E foi isso mesmo que encontrou, garante: uma cidade “linda, com criatividade e onde muita coisa se conhece no boca a boca, com coisas a acontecer underground. Tinha cá estado há uns anos, fiquei na Avenida da Liberdade, e lembro-me de pensar que esta cidade podia ser incrível”.

Agora voltou para evangelizar com dosas, crepes de lentilhas e arroz fermentado ligeiramente estaladiços nas pontas que chegam à mesa na forma de cones. Quando se pega no cone como se fosse uma cloche descobrem-se pedaços de pato picante (12€), batatas masala (8,20€) ou uma mistura de queijo, tomate, pimentos e coentros (9,50€), todos acompanhados com um chutney de coco feito todos os dias ali mesmo. É ir rasgando o crepe e apanhando estes recheios, sem medo de sujar os dedos, que depois são para lamber. “É leve, limpo e saudável e muita gente que está a tentar comer melhor gosta das dosas por causa disto.” 

O Bagare Baingan está na carta porque a mãe de Aparna não o conseguia comer em lado nenhum
©Francisco Santos

Há outras receitas tradicionais na carta, como o bagare baingan, que aparece na secção dos caris, com beringela, amendoim, tamarindo, coco e um forte sabor a cardamomo (10€). É o prato favorito da mãe de Aparna.

Ainda nos caris, há o punjabi chole de grão de bico (9€) ou o alleppey fish curry, feito com robalo, gengibre e leite de coco (15€). Estes não precisa de tentar comer com as mãos, que lhe trazem talheres, mas o melhor mesmo é pedir um naan, feito no tandoor da loja, para ir molhando.

Pani puri é comida de rua indiana e uma das entradas do chutnify
©Francisco Santos

Em Berlim, parte do negócio do Chutnify está na comida de rua indiana. No Chutnify de Lisboa, entre paredes cobertas de Bollywood e cadeiras de todas as formas compradas na Remar, há uns quantos destes petiscos que servem como entrada: os pani puri são bolinhas de massa ocas, com um molho de ervas, recheadas de batata, especiarias e lentilhas e que se enchem antes de meter de uma vezada só na boca (4,50€).

Na cozinha fala-se inglês para que ninguém se perca na tradução. Há lá dentro cozinheiros do Bangladesh, da Índia e do Nepal, assim como na sala e no bar, onde os cocktails têm sabores fortes que não os do álcool – como coentros, água de coco ou manga. "Queríamos muito ter receitas da Índia, e um dos cocktails é inspirado numa salada típica de pepino e sabe muito à salada. É bom porque as pessoas não têm medo de experimentar coisas diferentes", diz Aparna com Ganesha atrás a levitar pelo bar.

Travessa da Palmeira, 46 (Príncipe Real). 21 346 1534. Ter-Dom 12.00-15.30/ 19.00-00.00.

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