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Fernanda Fragateiro está no MAAT, a destruir um pouco e a construir muito

Escrito por
Catarina Moura
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À entrada vê-se logo que o que está aqui em causa é a construção e os destroços. Entre outras coisas, claro. Ainda antes da porta de entrada há uns blocos de pedra branca — Demolição 2, a obra composta de fragmentos de uma remodelação feita algures em Lisboa. Fernanda Fragateiro inaugura uma série de exposições com artistas que o MAAT quer mostrar e afirmar. A ideia é dar a conhecê-los mais claramente em Portugal, já que estão habituados a expor em galerias e museus estrangeiros.

O que mais pode surpreender o visitante português são as peças de dimensões domésticas, diz Fernanda, numa visita guiada: “Fernanda Fragateiro: dos arquivos, à matéria, à construção”, patente na Central do MAAT até 18 de Setembro. É assim, por exemplo com Black Bloc, uma série de cadernos Moleskine assentes em bases de acrílico. Caminhando em torno da peça descobrem-se fotografias e notícias de manifestações e protestos na Alemanha do século XX. Mas só uma parte destes documentos se consegue ler. “Só vês uma parte da história”, comenta a artista.

Mais próximas do seu trabalho já exposto em Portugal estão as grandes instalações que se relacionam com a arquitectura da sala. O melhor exemplo talvez seja, logo à entrada, Construir é destruir é construir — um grande contentor espelhado cheio de tijolos partidos. Com as janelas rasgadas do edifício, a determinada hora, a terracota do material parece ganhar uma incandescência e tornar-se dourada. “Sou muito atraída por um tipo de materiais que estão num processo entre a construção e a demolição, mas não desaparecem — estão nos limites de qualquer coisa”, explica Fernanda. Estas peças acompanham a evolução e transformação da cidade. São restos de tijolos recolhidos pela artista numa fábrica que tinha sido desactivada. Agora neste continente forrado a espelhos, parecem ser uma coisa muito leve e flutuar. 

A construção e destruição continua em Muro, uma peça já deste ano. Uma parede de tijolos de betão rosa atravessa o espaço na diagonal como construção sólida, mas propositadamente destruída ao centro. Foi pensada como ruína, explica a artista, em diálogo com Indeterminate Façade, do grupo SITE (Sculpture In The Environment), dos anos 70.

A ligação à arquitectura é obvia na exposição — mais do que a outras artes, também presentes, garante Fernanda. Architecture, a place for women? quer questionar qual o lugar das mulheres na definição do espaço público: uma trave atravessa uma das salas e, em cima dela, uma colecção de revistas especializadas onde há muito poucos nomes femininos, garante. O contributo desta mulher já ninguém nos tira.

Avenida Brasília, Central Tejo (Belém). Qua-Dom 12.00-20.00. Até 18 de Setembro. 5 €.

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