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Gonçalo Barreiros está a preencher uma declaração amigável na Galeria Vera Cortês

Escrito por
Catarina Moura
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Gonçalo Barreiros já tem a carta há alguns anos e já teve uns quantos acidentes. Teve o último há pouco tempo e não precisou de usar muitos dos seus dotes de artista para ir para a frente com o croqui da declaração amigável. Já para pôr de pé a sua próxima exposição teve de dar tudo no ateliê. “Declaração amigável” não é só esse documento com nome adorável numa situação detestável; é também o nome da mostra de Gonçalo Barreiros na Galeria Vera Cortês.

A arte como Gonçalo a entende não é biográfica, não conta o que lhe acontece na vida – “é ela própria, não tem de ser mais nada”, conta ao telefone a uma semana de abrir a exposição, ainda com as várias peças – cerca de 20 – que compõem a grande instalação embrulhadas no ateliê à espera de serem transportadas. Tem alguma dificuldade em falar do próprio trabalho – “como é que eu hei-de explicar isto?”, vai dizendo algumas vezes – mas acaba por formular umas ideias. “São [esculturas] acerca do desenho da escultura e remetem para esta ideia de acidente, de absurdo, de desordem e caos propositado”. Isto é, “caos humano”, diz mais à frente.

Com o comunicado de imprensa conseguimos visualizar mais qualquer coisa: são esculturas “com uma forma mais ou menos circular, mais ou menos elíptica, que na sua maioria aparentam estar no limite de pressão do ar possível. Outras há que quebram e desfalecem por insuficiência de pressão. Estas câmaras de ar vão de uns escassos vinte centímetros ao metro e dez de altura, são feitas em ferro e em todas elas está cravada uma válvula de ar adquirida numa loja de bicicletas.”

Gonçalo Barreiros apreciando uma parte da instalação de vinte peças
Arlindo Camacho

A ideia e o início destes materiais e destas formas nasceram há um ano, na prática do ateliê, quando o artista, na experimentação, começou a perceber que queria chegar a estas formas, que umas levavam às seguintes, “como quando se abre um acordeão e vai abrindo, abrindo, até estar completamente distendido”, explica. Acabou com esta instalação pelo chão. “A declaração amigável é uma espécie de mote para o que vou mostrar. Aproprio-me deste universo para falar de outras coisas.”

O que lhe interessa na declaração amigável são as ironias e os paradoxos: um nome tão fofinho e positivo para uma situação que junta duas pessoas que não queriam realmente estar ali, que não se conhecem e ainda assim têm de entrar naquela tarefa colaborativa, entre o resumo e o mapa visual, com o textinho e o desenho daquilo que se lembram, “uma coisa meia excêntrica e absurda” saída do quotidiano.

A última que fez já teve alguma utilidade para além do óbvio. Foi a imagem do convite para a exposição.

Rua João Saraiva 16 (Alvalade). Ter-Sex 14.00-19.00, Sáb 10.00-13.00/14.00-19.00. Até 16 de Setembro. Entrada livre.

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