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‘Bookie’, os homens das apostas

A série da HBO Max é inspiradíssima e divertidíssima. Tudo o que há sabe a pouco. Queremos ver mais, o mais depressa possível.

Escrito por
Eurico de Barros
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★★★★☆

Logo no início do primeiro episódio da primeira temporada de Bookie (HBO Max), Danny (Sebastian Maniscalco), o protagonista, um corretor de apostas desportivas de Los Angeles, é sovado por um cliente que lhe deve uns milhares de dólares e que, pensando que ele lhe vem bater por causa da dívida, como se vê nos filmes e na televisão, o sova primeiro. Ora acontece, por um lado, que Danny não é um desses corretores e gosta de ter uma relação próxima e profissional com os seus clientes (embora, à cautela, ande sempre acompanhado por Ray, um enorme ex-jogador da NFL, que se refere a si mesmo como sendo um “dissuasor visual”); e, pelo outro, que este grande devedor, que trabalha como chefe de sala num restaurante e Danny não via há alguns meses, mudou entretanto de sexo, de homem para mulher. O que não o impediu de amassar Danny com pontapés e a golpes de bandejas de metal, enquanto protestava sonoramente o seu temor por este poder vir fazer-lhe mal. 

Nesta sequência de abertura, Chuck Lorre e Nick Bakay, os autores de Bookie (e que têm nos seus já longos currículos séries como Dois Homens e Meio, A Teoria do Big Bang, O Método Kominsky ou Young Sheldon), mostram que não vão estar com melindres politicamente correctos, que o humor negro – e, por vezes, um bocado bruto – vai dominar. Podemos esperar sempre o mais hilariante inesperado quando Danny recebe as apostas ou as vai cobrar; quando ele e Ray fazem as suas rondas; e quando lidam com clientes, familiares (a irmã de Danny – que trabalha com ele nas apostas e não pára de o criticar, por ser muito mole com os clientes que lhe devem dinheiro, e por ainda usar um lápis e um bloco em vez de um iPad ou um portátil para assentar os palpites – e a temível avó de Ray são, só por elas, todo um programa) e as respectivas mulheres, ex-mulheres (só Ray tem três, às quais tem que pagar pensões), filhos e enteados.  

Noutra sequência de Bookie, e que só por si vale metade desta temporada da série, Danny e Ray vão falar sobre uma dívida pendente com Charlie Sheen, que se interpreta a ele mesmo e brinca com a sua imagem pública de libertino, cliente crónico de clínicas de desintoxicação, jogador inveterado e “estrela” caída em desgraça e em tempos difíceis (“Vocês vão ter o vosso dinheiro, não se preocupem. Estou pertíssimo de ser júri de O Japão tem Talento”, diz ele a Danny e Ray quando estes o interrogam sobre a massa que lhes deve). Dá mesmo vontade que Lorre e Bakay façam a seguir um spinoff de Bookie só para Sheen. 

Não é preciso estar dentro do mundo das apostas desportivas, nem conhecer o estranho jargão da actividade, para apreciar Bookie (mas percebemos que os autores sabem do que estão a falar). A série é, da escrita e dos diálogos ao desenho das personagens principais e secundárias (veja-se o bucha condutor de Lyft, ex-dealer e sócio da irmã de Danny num negócio de “espiritualidades e bem-estar”), passando pela qualidade e pelo ritmo dos gags, e pelo encadear das situações, solidíssima, inspiradíssima e divertidíssima, e anda a toque de caixa sem um único momento morto que seja. Os episódios disponíveis sabem a muito pouco e queremos ver mais, o mais depressa possível. E não aposto que não vão ser tão bons como estes, porque perco de certeza.

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