The Architect
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‘The Architect’ olha para o futuro e vê uma grande crise na habitação

Com apenas quatro episódios de 20 minutos cada, esta série norueguesa estreada na Filmin quase podia ser um capítulo de ‘Black Mirror’.

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★★★☆☆

Num futuro próximo, em Oslo, o problema da habitação atingiu proporções tais que os lugares nas garagens subterrâneas vazias (porque os carros foram banidos da cidade) são arrendados ilegalmente, separados uns dos outros por finas cortinas, a quem não tem dinheiro para comprar uma casa ou pagar uma renda mensal. É o caso de Julie (Eilie Harboe), a protagonista da série norueguesa The Architect (Filmin), que mesmo sendo estagiária num gabinete de arquitectura deve uma fortuna do seu empréstimo estudantil e por isso o banco não lhe concede crédito para comprar ou arrendar casa. O ex-namorado de Julie, que trabalha no mesmo gabinete de arquitectura, só conseguiu um apartamento por causa do dinheiro do seguro que a noiva recebeu após ter tido um acidente. 

Nora Landsrod e Kristian Kilde, ambos estudantes de cinema e criadores de The Architect, ganharam um prémio para jovens talentos nórdicos com esta série de ficção científica minimalista, também galardoada no Festival de Berlim. E o futuro distópico que pintam nela vem envolto em sátira negra, especulando e extrapolando com plausibilidade sobre vários aspectos da sociedade contemporânea. Os bancos quase não têm empregados humanos e os clientes falam para máquinas de Inteligência Artificial na rua que tomam decisões na hora; drones passeiam cães em vez de serem os donos; esperar por alguém numa praça pública implica consumir obrigatoriamente uma bebida ou comida; e as lojas, nas montras, têm manequins humanos impassíveis que andam todo o dia sobre passadeiras. The Architect quase podia ser um episódio de Black Mirror.

Julie tem então uma ideia brilhante para converter a garagem subterrânea em que vive em mil casas práticas e com baixos custos de construção, o que lhe vale de imediato uma posição no gabinete de arquitectura. Mas o projecto implica que todos os que lá estão, incluindo famílias e a sua amiga e “vizinha” Kaja (cujo pai idoso vive na rua), sejam rapidamente expulsos, e a jovem fica posta perante um dilema moral. Será que vai sacrificar todas essas pessoas ao seu emprego, a um bom ordenado e à possibilidade de conseguir um empréstimo e arranjar um apartamento? 

The Architect tem apenas quatro episódios de 20 minutos cada, e os autores, com o seu poder de síntese, fazem bom uso desse tempo escasso. A única coisa que falta em The Architect é esclarecer os motivos que levaram à situação habitacional extrema descrita na série. Houve uma grande e brutal crise económica? É culpa do Estado, que não atendeu às necessidades dos cidadãos? O mercado foi distorcido pelo governo e não funciona como devia? É a única pontinha da história que fica por atar no final. E de certeza que não tinha custado muito a Nora Landsrod e Kristian Kilde terem arranjado uma explicação tão verosímil como é toda a série. 

Mais críticas de televisão

  • Filmes

★★★★☆

‘A Orquestra’ (Filmin) vicia de imediato e saboreia-se com voracidade e num ápice. Que venha a segunda temporada, prestissimo! 

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