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A Espia
RTPDaniela Ruah regressa à ficção nacional depois de um logo interregno

'A Espia': uma viagem até à Lisboa dos espiões

Sebastião Almeida
Escrito por
Sebastião Almeida
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A nova série da RTP, A Espia, mostra como Portugal desempenhou um papel central na Segunda Guerra Mundial. Falámos com argumentistas e actores para saber mais sobre esses tempos perigosos e sedutores.

Galiza, Espanha, a seis quilómetros da fronteira com Portugal. A meio da noite, irrompe um carro por entre o trilho da floresta. Na penumbra, avistam-se os rostos semi-cobertos de quatro indivíduos com pistolas reluzentes em riste. Resguardam-se nas sombras à espera do momento certo para interceptar a carrinha que se ouve ao longe, mas alguma coisa acaba por não correr como o planeado. O ano é o de 1941. A guerra relâmpago de Hitler e os avanços do império nipónico no Sudoeste asiático assolam a ordem mundial. Portugal beneficia, desde o início do conflito, da neutralidade declarada por Salazar.

É assim que abre A Espia, a nova série da RTP, protagonizada por Daniela Ruah, Diogo Morgado e Maria João Bastos, que chega ao pequeno ecrã esta quarta-feira. A produção da Ukbar Filmes, com realização de Jorge Paixão da Costa (Soldado Milhões) e realização adicional de João Maia (Variações) e Edgar Pêra, vem desvendar uma realidade até então não explorada na ficção nacional – a importância que o país teve no jogo de bastidores e no desfecho da Segunda Guerra.

E fá-lo com rigor – na caracterização dos personagens, na reconstituição dos cenários, na atenção dada aos factos históricos. A narrativa desenrola-se ao longo de oito episódios tendo por base a relação de duas amigas de longa data, Maria João Mascarenhas (Daniela Ruah) e Rose Lawson (Maria João Bastos), que são recrutadas como espias, para rede Shell, operada pelos ingleses. Pelo meio, aparece um charmoso engenheiro alemão, interpretado por Diogo Morgado, que acaba envolvido com o inimigo.

A Espia 2
Diogo Morgado é um engenheiro alemão responsável pelas minas de volfrâmio
RTP

Portugal está no centro de um tabuleiro de xadrez diplomático. Na sombra, ingleses e alemães criam redes de espionagem para controlar a informação e o volfrâmio. Um dos cenários da série é a mina de Rio dos Frades, em Arouca. Era de lá que os nazis se abasteciam de volfrâmio, o minério usado na blindagem de armamento e endurecimento de munições. A poucos quilómetros, os Aliados exploravam as minas de Regoufe. Alemães e ingleses coabitavam pacificamente neste canto de Portugal, para que a guerra se pudesse fazer Europa fora. Chegariam mesmo a pagar a meias os custos de construção de uma estrada.

A consultora histórica da série, Margarida Magalhães Ramalho, fala destes tempos como “uma corrida desenfreada para trabalhar nas minas ou andar à cata de minério de superfície para vender”. Isto, descreve a historiadora, “aconteceu em todas as regiões mineiras que trabalhavam para o esforço de guerra. Foi um período de enriquecimento rápido para muitos e toda a gente conhece histórias de homens que acendiam charutos com notas de banco”.

O engenheiro Siegfried Brenner era quem geria a mina alemã em Arouca – e aqui entramos na ficção. Antes de iniciar a preparação para o seu personagem, Diogo Morgado não tinha ideia “que Portugal tivesse sido o palco de espionagem que foi”. “A tensão era muita e havia muita gente importante a circular e a operar de forma muito activa em tudo o que seria a Segunda Guerra Mundial, detalha. Nesse aspecto, acho que a série está muito bem conseguida por aliar os melhores elementos de narrativa ficcionada com base em informações e acontecimentos reais.

Algumas das personagens na série existiram na vida real, ainda assim. O major Beevor (Pedro Lamares), líder do SOE (antecessor do MI6) em Portugal à época e adido militar da embaixada britânica em Lisboa; Agostinho Lourenço (Adriano Luz), director da PVDE; o capitão Ribeiro Casais (Joaquim Nicolau), da Legião Portuguesa; e Cândido de Oliveira (Sisley Dias), selecionador nacional de futebol e um dos agentes portugueses da rede Shell, são alguns dos exemplos.

A Espia 3
Maria João Bastos é uma espia inglesa
RTP

À época, qualquer um poderia ser aliciado a espiar. “O importante era o contexto em que se inseria. Podia ser polícia, médico, funcionário dos correios, faroleiro. Qualquer cidadão que, ou por questões profissionais ou por convicção, pudesse trazer informações vitais para a antecipação do inimigo”, desvenda o co-argumentista Martim Baginha Cardoso. Podia ser por dinheiro, sexo, poder, amor, ideologia. E é precisamente por dinheiro que Rose, a personagem de Maria João Bastos, se envolve na rede de espionagem.

A actriz mergulhou nesses tempos “através de documentários, filmes, livros, fotografias”. Dá vida a uma mulher “cheia de artimanhas, misteriosa e sensual”. E leva consigo a sua melhor amiga que trabalha numa empresa de distribuição de mercadoria para “uma história de acção, mistério, romance e sedução com um reviravolta no final”, antecipa. A sua personagem será determinante na forma como tudo se desenrola.

A história real poderia ter sido outra. Os planos da rede Shell tinham como objectivo impedir os alemães de obterem meios e abastecimentos em Portugal. Em caso de ocupação, serviria apenas para os atrasar. Mas quis o destino que a incursão das forças nazis a leste tivesse o desfecho conhecido. E assim Portugal se manteve neutro, dando a uns, negociando com outros. Num verdadeiro jogo de espiões.

RTP1. Quarta-feira, 8 de Abril, 21.30.

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