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'Avanti, Commedia!", da Karnart, estreia este sábado

Escrito por
Miguel Branco
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Em Avanti, Commedia!, a Karnart situa-nos num mundo pós-Dante, isto depois de em 2016 lhe terem dedicado uma trilogia. Agora, Dante vem cumprimentar Leonardo Da Vinci. A partir de sábado no Gabinete de Curiosidades da Karnart, em Belém.  

Antes de mais nada: lavar as mãos. Não se maneja arte de palmas sujas, pois claro. Após levantar a baia que separa o público do sagrado, o corredor do espaço de instalação, o performer – que tudo faz num caminhar entre o delicado e o hesitante – começa por se aproximar de uma mesa que mais não tem que molduras vazias. Joga com elas, tenta achar-lhes um qualquer encaixe, uma matrioska desordenada. 

É este o arranque de Avanti, Commedia!, mais uma perfinst – combinação de performance e instalação, artes cénicas e visuais – da Karnart, que sucede à trilogia Commedia, onde Luís Castro e Vel Z se enfiaram nos três cânticos de Dante, e nos seus múltiplos círculos até ao inferno. Esta nova criação estreia este sábado no Gabinete de Curiosidades da Karnart em co-produção com o São Luiz Teatro Municipal. 

O intérprete continua o seu circuito, vagaroso e geométrico, para uma próxima paragem, onde espreita pinturas diversas, de Dante a Leonardo Da Vinci, numa colagem sobreposta dessas telas, à imagem de um cadavre exquis. E sim, aqui percebemos que Dante já não é bem Dante e que esse não-
-Dante vem visitar Da Vinci. “Isto é pós-Dante, estamos nas cinzas de Dante e uma figura negra e sem alma, o fantasma de Dante vem ao encontro de Leonardo e vem questionar a posição do homem no mundo, no dia-a-dia, ou seja, traz-te ao homem perfeito de Leonardo e faz-te reflectir sobre um tempo que passou e o tempo que vai continuar a passar”, explica Luís Castro. 

A paragem seguinte é rumo ao altar dos cinco sentidos, onde somos incitados a tocar, cheirar, ver, tudo isso. E aqui, mais do que nunca neste percurso, há uma tensão obscura, que canibaliza a pulsação de quem tenta dar sentido. Não mandamos coisa nenhuma, estamos à disposição de um dispositivo que tem tudo a ver com esta obsessão da Karnart com os objectos, sobretudo neste altar: “Sim, aqui aparece Leonardo e o seu lado cientista. Já que não pode desenhar, riscar, fazer, como se fosse aluno de Leonardo, vai pelo menos sentir como se fosse um ser humano a aprender. É quase como se fosse um tubo de ensaio da humanidade”, comenta Castro. 

Há uma última baia que é transposta. E aí estão três jazigos onde se podem ver os mapas dramatúrgicos da Karnart para a trilogia e os três livros de Dante que a suportam. É um arquivo morto. E é a prova de que um ficheiro Excel também pode ser arte.

Gabinete de Curiosidades da Karnart, Avenida da Índia, 168 (Belém). Sáb-Ter 20.00.

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