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Lisboa perdeu a sua Deusa, a histórica sapataria da Baixa

A loja histórica, fundada em 1951 pelos irmãos Neves, fechou esta quarta-feira. O senhorio pretende recuperar o edifício para construir um hotel.

Raquel Dias da Silva
Escrito por
Raquel Dias da Silva
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O troço da Rua 1º de Dezembro viu ocorrer, nos anos 50 do século passado, uma inesperada concentração de sapatarias, porta sim, porta sim. Agora, ao final de 70 anos na Baixa de Lisboa, paredes meias com o Rossio, A Deusa fecha portas. Fundada pelos irmãos Neves, era actual propriedade de José Fiandeiro, que a resgatou da extinção em 2018, estava classificada como Loja Com História e vendia tanto sapatos de senhora, de fabrico nacional, como marroquinaria. No seu lugar, deverá abrir um hotel – é essa a intenção do senhorio, que diz querer recuperar o edifício.

A fachada, com duas montras assentes em mármore claro e um néon cor-de-rosa, não passa despercebida desde os tempos em que havia filas à porta. Mesmo agora, longe desses anos áureos, é impossível não dar por ela. Lá dentro, a decoração também enche o olho. Além do ex-libris da casa, um painel em baixo-relevo verde-escuro de uma deusa hindu, destacam-se as cadeiras em cabedal branco e o candeeiro de tecto, rodeados pelas caixas de cartão tão características do comércio tradicional. Em 2016, tudo dava a crer que se juntaria ao rol de lojas extintas: entrou em insolvência e chegou mesmo a fechar. Mas, dois anos depois, o actual dono, José Fiandeiro, resgatou-a e aos funcionários, Anselmo Grais e Luís Santos, que ali trabalhavam há décadas.

Esta quarta-feira, 17 de Fevereiro, José Fiandeiro foi surpreendido com uma ordem de despejo. Tinham sido avisados que teriam de sair, mas pediram “que houvesse mais tempo” para se organizarem. Não estavam à espera que aparecesse a polícia e tivessem de entregar a chave. “Espero que não seja para sempre, mas hoje é um dia triste”, disse à agência Lusa o proprietário, adiantando também que o senhorio é “um fundo imobiliário estrangeiro”, o Rossio Place, que pretende transformar o edifício “em mais um hotel numa Baixa que já não tem comércio nem gente, porque os mais velhos ou morrem ou são empurrados dali para fora”.

Resta esperar para ver se o estatuto de Loja Com História, atribuído em 2019, poderá ajudar. Segundo a lei, a classificação concede ao estabelecimento uma protecção especial contra despejos e cancelamentos de contratos de arrendamento. Em nota às redacções, a UACS – União de Associação de Comércio e Serviços, que se encontra a acompanhar “atentamente e com crescente preocupação” o impacto da pandemia na actividade presencial, defende uma discussão mais célere dos processos de candidatura ao programa Lojas Com História, de modo a “conceder efectiva protecção aos estabelecimentos emblemáticos da cidade”.

Notícia actualizada às 14.30 com declarações da UACS.

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