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Quem Espera
Fotografia: Filipe FerreiraQuem Espera, de Luís Godinho

Nova peça do projecto Boca Aberta convida a tornar a espera divertida

O novo espectáculo do projecto Boca Aberta está a chegar ao Teatro D. Maria II. Falámos com o encenador Luís Godinho sobre como esperar não tem de ser uma seca.

Raquel Dias da Silva
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Raquel Dias da Silva
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Uff, estar aborrecido… Não há nada pior. Mas todos nós já nos aborrecemos pelo menos uma vez na vida. A culpa, dizem-nos duas amigas espevitadas, é da espera e de quem nos manda esperar, a começar pelos pais, que só sabem dizer: “Agora esperas.” Ainda por cima eles são os primeiros a aborrecer-se por tudo e por nada. Se ao menos houvesse uma receita fácil para acabar com esse “grande mal” e fazer acontecer todas as coisas divertidas que estão à espera de acontecer enquanto esperamos. Com encenação de Luís Godinho e textos de Inês Fonseca Santos e Maria João Cruz, Quem Espera retrata o aborrecimento, esse sentimento desagradável que a espera provoca em nós, e reflecte sobre as muitas maneiras através das quais o podemos fintar. A estreia está marcada para sábado, 5 de Fevereiro, às 16.00, no Salão Nobre Ageas do Teatro Nacional D. Maria II.

“O desafio de dirigir este novo espectáculo do Boca Aberto foi-me lançado pela Catarina Requeijo, que é a coordenadora do projecto e tem encenado todas as peças até à data. Há dois anos, integrei o elenco do Onde é a guerra?, por isso é muito gratificante ter esta experiência de transição e é também uma mais-valia estar já muito habituado a trabalhar para esta faixa etária”, conta-nos Luís Godinho, depois de um ensaio com a presença de duas turmas de um jardim de infância, que ainda se fazem ouvir ao fundo. “Do lado de cá, sofremos um pouco mais”, confessa o encenador, entre risos. “A partir do momento em que o espectáculo está finalizado, ganha vida própria e não temos controlo total sobre o que acontece em palco. Quando estamos lá [como actores], está mais nas nossas mãos, porque o estamos a viver em directo. Mas tem sido fantástico.”

Quem Espera
Fotografia: Filipe FerreiraQuem Espera, de Luis Godinho

Com interpretação de Ana Freitas e Ana Lúcia Palminha, Quem Espera gira em torno de duas amigas fartas de estar aborrecidas. Munidas de um carrinho de madeira e do livro de receitas da vizinha, estão convencidas que encontraram a solução para acabar com a maçada que é ter de esperar por alguém ou alguma coisa. Só precisam de reunir os ingredientes certos e de seguir os passos necessários. Mas, entre pesar, misturar, agitar e separar, afinal também é preciso esperar. E esperar é tão aborrecido, dizem elas, enquanto puxam pela cabeça e arranjam coisas divertidas para fazer enquanto esperam. Sem darem por isso, despertam o seu lado mais criativo. É que, curiosamente, estar sem fazer nada permite à mente divagar e fazer uma coisa mesmo incrível: sonhar acordada e tornar o sonho realidade, mesmo que inventada.

“O aborrecimento afecta muito a sociedade contemporânea que, viciada nas tecnologias e no imediato, tem muita dificuldade em esperar. É uma preocupação: atormenta os adultos, que muitas vezes não sabem o que fazer às crianças”, diz Luís Godinho. “Se evocarmos a nossa infância, as memórias dessa altura, não nos lembramos de nos aborrecer tanto. Usávamos muito mais a nossa imaginação, em comparação com as crianças de agora que, ao serem constantemente bombardeadas por estímulos externos, se esquecem de explorar e tirar partido do pensamento para se entreter. Mas o aborrecimento às vezes traz possibilidades incríveis.” Sobretudo se dermos asas à criatividade, avisa o encenador, que sugere ver o que acontece quando transformamos objectos quotidianos em adereços de aventuras fantásticas, tal e qual como as duas amigas fazem em palco.

Em cena até 5 de Março, Quem Espera tem uma sessão com interpretação em língua gestual portuguesa e audiodescrição marcada para 26 de Fevereiro. As restantes datas são todas “descontraídas”, a começar pelo facto de os espectadores serem convidados a sentar-se em almofadas confortáveis, onde é quase impossível os miúdos não se tentarem esparramar. Não se preocupe, que ninguém levará a mal. Neste espectáculo em particular, o encenador até dá permissão para se aborrecerem. “A peça inclui, de facto, alguns momentos de espera, com as próprias actrizes num impasse, e é natural ficarem mais agitados e ansiosos, porque não se passa nada, ou muito pouco. Queremos dar-lhes espaço para explorar a sua relação com a passagem do tempo e eles até podem não se dar conta, mas reagem da mesma maneira que as actrizes, que mimetizam essas acções involuntárias que temos enquanto estamos à espera: desde o bater o pé, o fazer música com o que temos à mão, até ao cantarolar”, remata.

Teatro Nacional D. Maria II. De 5 de Fevereiro a 5 de Março. Sáb 16.00. 4€. M/3.

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