Museu, História, Museu do Holocausto do Porto
©CIP/CJPMuseu do Holocausto do Porto
©CIP/CJP

Museu do Holocausto do Porto: para memória futura

O Porto tem um novo espaço que relembra as atrocidades cometidas contra os judeus durante a II Guerra Mundial. O Museu do Holocausto, na Rua do Campo Alegre, poderá ser visitado a partir de 5 de Abril. A entrada é gratuita até ao final de Maio.

Renata Lima Lobo
Publicidade

Durante a II Guerra Mundial, o regime nazi alemão de Adolf Hitler foi responsável pelo assassinato de 5,7 milhões de judeus, meio milhão dos quais crianças – um dos genocídios mais chocantes da história da humanidade. O Terceito Reich perdeu a guerra, mas continuam a ser travadas batalhas para que a memória prevaleça e a história não se volte a repetir. 

Um pouco por todo o mundo existem museus dedicados ao Holocausto, como os de Washington, Buenos Aires, Sydney, Curitiba ou Montreal. Agora existe no Porto o primeiro Museu do Holocausto da Península Ibérica, pelas mãos da Comunidade Judaica do Porto (CIP/CJP). Dela fazem parte membros cujos pais, avós e familiares foram vítimas de Hitler. Têm muitas histórias para contar, nenhuma delas de embalar. Como a de Luísa Finkelstein, que no vídeo de apresentação do museu recorda os familiares fuzilados após terem sido forçados a cavar uma vala comum. Ou a dos avós de Michael Rothwell, tesoureiro da CIP/CJP, que em 1943 foram "transportados como gado" para o campo de extermínio de Auschwitz, onde foram separados, sujeitos a abusos e, por fim, assassinados. "Os meus avós eram bons patriotas alemães – os meus tios-avós deram mesmo a vida pela pátria na Primeira Guerra Mundial – e amavam um país que também era deles", conta. Também Jonathan Lackman partilha memórias: "O meu avô fugiu de Treblinka e a minha avó foi resgatada com tifo do campo de Bergen-Belsen, no Norte da Alemanha, onde faleceu Anne Frank. Contarei sempre a história deles".

Portugal manteve-se neutro durante a II Guerra Mundial, e acabou por receber cerca de 50 mil refugiados. Muitos chegaram à cidade do Porto entre Abrill de 1940 e Abril de 1941, na sua maioria oriundos da Bélgica, França e Luxemburgo, países que foram ocupados pelos nazis. Isabel Lopes, vice-presidente da CIP/CJP, explica que alguns membros desta comunidade chegaram a ir "buscar refugiados aos Pirenéus e trouxeram-nos para a segurança do Porto".

Os judeus vindos de fora deixaram o seu legado, que faz parte do extenso arquivo da CIP/CPJ, que ajudou à criação do Museu do Holocausto do Porto. Um espaço que tem como um dos objectivos "partilhar com a sociedade em geral os documentos e os objectos deixados pelos refugiados na sinagoga do Porto, durante a Segunda Guerra Mundial", além de uma forte componente educativa. "O museu foi pensado para receber todos os públicos. No entanto, o ensino do Holocausto deverá começar sempre nos mais novos", explica Hugo Vaz, curador do museu e assessor da direcção da CIP/CJP em matéria de cultura. O curador vê neste museu um "ponto de partida" para a consciencialização e sensibilização dos alunos sobre os temas relacionados com o Holocausto.

Numa altura em que se volta a sentir medo do extremismo, e com grupos supremacistas brancos a chegar à agenda mediática, perguntámos a Hugo Vaz se o museu também é um alerta para que a história, pelo menos esta, não se volte a repetir. O curador responde em tom de alerta: "O ódio que levou ao Holocausto está vivo. A Anti-Defamation League recolheu números alarmantes relativamente ao ódio dirigido aos judeus no mundo moderno, incluindo Europa e Portugal", lamenta. O Museu do Holocausto do Porto está pronto para receber visitantes. Conheça melhor este espaço inédito da cidade.

O Museu do Holocausto em dez passos:

1. 

O percurso do museu está dividido por diferentes temas, que podem ser explorados por ordem cronológica. São eles: a vida judaica antes do Holocausto, o nazismo, a expansão nazi na Europa, os guetos, os refugiados, os campos de concentração, de trabalho e de extermínio, a Solução Final, as Marchas da Morte, a libertação, a população judaica no pós-guerra, a fundação do Estado de Israel, vencer ou morrer de fome, e os Justos entre as Nações.

2. 

Este é dos poucos museus do Holocausto no mundo gerido por uma comunidade judaica, a mesma que gere a Sinagoga Kadoorie MekorHaim (aberta em 1938), a maior da Península Ibérica. Na sinagoga também existe um espaço museológico, o Museu Judaico, que irá permanecer inalterado. O novo museu está localizado num edifício da Rua do Campo Alegre, apenas a 400 metros da sinagoga, na Rua Guerra Junqueiro. E ocupa um espaço de 500 m2.

Publicidade

3. 

Os visitantes do novo museu podem conhecer dois Sifrei Torá (rolos/livros da Torá) que fazem parte da exposição permanente. São alguns dos objectos oferecidos à Sinagoga Kadoorie MekorHaim, da Comunidade Judaica do Porto, por refugiados que chegaram à cidade nos anos 40, com as vidas desfeitas.

4. 

O Museu do Holocausto do Porto abrirá com uma exposição permanente, mas estão a ser pensadas exposições temporárias sobre temas específicos. "É importante frisar que o museu não pretende ser tão-somente um equipamento cultural de transmissão de conteúdos estanques, mas antes um 'organismo vivo' onde vários agentes serão convidados a participar", explica Hugo Vaz. O curador adianta que os temas podem passar pelos partisanos judeus, as crianças, a destruição das KK Portugal (kahal kadosh) ou os Justos entre as Nações, expressão que se refere a não-judeus que apoiam as comunidades judaicas, como foi o caso do cônsul português Aristides de Sousa Mendes.

Publicidade

5. 

Num dos espaços do museu existe uma reprodução de uma zona de camaratas em escala real de um campo de extermínio. Nessa área encontra também informações sobre seis campos de extermínio, como o período em que estiveram operacionais e o número de vítimas em cada um destes campos, todos localizados na actual Polónia: Birkenau (Auschwitz II), Chelmno, Belzec, Sobidor, Treblinka e Majdanek.

6. 

Auschwitz é o mais infame dos campos de concentração e cerca de um milhão de judeus viveram ali os seus últimos dias, sujeitos a trabalho escravo antes de serem encaminhados para as câmaras de gás. Era o campo de extermínio Auschwitz II-Birkenau (Auschwitz I funcionava mais como um centro administrativo) e é a sua entrada que está representada num dos espaços do museu, ostentando a frase utilizada nas entradas de muitos destes campos: Arbeit Macht Frei (o trabalho liberta).

Publicidade

7. 

A equipa curatorial criou uma peça muito especial para o museu. Trata-se de uma representação de uma chanukiá, um candelabro de oito braços utilizado durante o Hanucá. "Pretende representar os judeus (e o próprio judaísmo) presos, humilhados, explorados e assassinados durante o Holocausto. Na parte da saída, num relvado artificial, representando vida outra vez, existe uma idêntica chanukiá, mas livre do arame farpado", descreve Hugo Vaz.

8. 

acervo documental da CIP/CJP é vasto e em 2013 chegou a rumar a Washington para ser partilhado pelo museu congénere na capital norte-americana. O arquivo entretanto regressou a casa. No Museu do Holocausto do Porto existem quatro centenas de fichas referentes aos refugiados que passaram pela cidade durante o Holocausto.

Publicidade

9. 

Além dos vários painéis com textos informativos, imagens e vídeos históricos sobre cada um dos tópicos abordados no museu, existe uma sala de cinema onde é exibido um pequeno filme de seis minutos que testemunha a passagem dos refugiados pelo Porto em 1940.

10. 

Noutra área, encontra uma peça central onde se lê "Remember" (Lembre-se) e em seu redor estão expostas dezenas de milhares de nomes, muitos de parentes de membros da CIP/CJP. "Pretende-se que seja um memorial a todos os judeus vitimados por esta catástrofe", diz o curador.

 

Rua do Campo Alegre, 790. Seg-Sex 14.30-17.30. Entrada livre (até Maio).

Museu Judaico a caminho de Belém, Lisboa

O Museu Judaico de Lisboa é um projecto que anda na corda bamba há quatro anos. A sua construção estava planeada para o Largo de São Miguel, em Alfama, onde seriam demolidos quatro edifícios para o efeito. Uma localização escolhida pela proximidade com a antiga Judiaria de Alfama, mas que gerou contestação dos moradores e da Associação do Património e da População de Alfama (APPA). Em Dezembro de 2020, foi revogado o protocolo celebrado em 2016 entre a Câmara Municipal de Lisboa, a Comunidade Israelita de Lisboa e a Associação de Turismo de Lisboa (ATL) para a construção do Museu Judaico em Alfama. Agora, o museu está a caminho de Belém, num terreno entre a Avenida da Índia e a Rua das Hortas – uma mudança que irá implicar uma permuta de terrenos entre a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e a autarquia.

Mais museus:

  • Coisas para fazer
  • Exposições

Graças à Internet, nunca foi tão fácil estar entretido entre quatro paredes. No entanto, para quem não dispensa uma visita ao museu para contemplar as obras de mestres de arte renascentista ou de nomes relevantes da arte contemporânea, fazer scroll infinitamente nas redes sociais ou devorar uma temporada (ou várias) de uma série na Netflix não é suficiente. Felizmente, há vários museus que apresentam visitas guiadas virtuais às suas colecções e exposições para que não lhe falte a sua dose diária de arte. Muitos estão presentes na Google Arts & Culture, projecto em que a Google colabora com mais de 1200 instituições em todo o mundo para levar a arte a todos. Deixe-se ficar no sofá e, sem filas ou bilhetes à mistura, só tem é de aproveitar.

Recomendado: Dez obras de arte que nos lembram como é bom estar em casa

  • Coisas para fazer
  • Exposições

A oferta cultural portuense é vasta, apesar de, por vezes, escapar ao radar dos mais distraídos. Não nos faltam livrarias, nem galerias de arte e, no que aos museus diz respeito, também não podíamos estar melhor servidos, já que a quantidade e a qualidade falam por si só. Estão espalhados por todos os recantos da Invicta e há para todos os gostos e épocas, da escultura à imprensa, e do futebol à pintura, pelo que visitá-los devia ser instituído como uma disciplina obrigatória nas escolas do país ou como programa não-facultativo aos fins-de-semana. Para lhe facilitar a vida, preparámos-lhe o roteiro dos melhores museus no Porto, para (re)descobrir a História e as estórias que conservam.

Recomendado: Os melhores museus para crianças no Porto

Publicidade
  • Museus

Levar os miúdos a um museu pode ser mais difícil do que obrigá-los a comer a sopa. Mas não a todos. Nos melhores museus para crianças no Porto há História e arte contemporânea, máquinas e carros antigos, brincadeiras e experiências para sujar as mãos e desafiar a imaginação dentro e fora de portas. São muitas as actividades e atracções feitas a pensar nos mais pequenos e esta lista pode ser um bom ponto de partida para organizar um programa diferente em família. Passe os olhos por aqui, porque com estas recomendações o difícil vai ser tirá-los de lá.

Recomendado: Os melhores museus no Porto

Recomendado
    Também poderá gostar
    Também poderá gostar
    Publicidade