[title]
Estávamos em Abril quando o Time Out Market Lisboa e a Galeria Underdogs lançaram um desafio aos artistas da cidade: criar uma obra para o tecto do mercado que reflectisse como este é um espaço vivo de encontro, partilha e cruzamento de culturas. O resultado já está à vista no Cais do Sodré: a partir desta terça-feira, dia 22, e até ao final de Agosto, esqueça o tabuleiro por um instante e olhe para cima para apreciar a instalação Flow, da grande vencedora Maria Plaskeeva.
A composição em têxtil, arame e papel maché inspira-se nas formas ondulantes do rio Tejo e na forma como o vento se move pela cidade de Lisboa. Flow é ainda uma metáfora visual para as travessias que acontecem diariamente no mercado, encontros entre pessoas, histórias e culturas que se misturam num movimento contínuo. A instalação da artista russa, escolhida por um júri composto por representantes do Time Out Market e da Underdogs, bem como pela artista Tamara Alves, reforça a ideia do mercado como um organismo vivo, em constante transformação e partilha de energia.

Maria Plaskeeva nasceu na Rússia e vive actualmente em Portugal. Com uma prática artística centrada na experimentação têxtil e na construção de formas orgânicas, o seu trabalho cruza cerâmica, instalação e narrativa visual, com forte ligação à experiência sensorial dos espaços que habita. Falámos com ela.
Cinco perguntas a… Maria Plaskeeva
Vives em Lisboa. O que mais te surpreende na cidade?
Já vivi em diferentes zonas de Lisboa e, em cada uma delas, senti-me uma versão diferente de mim própria. Quando cheguei pela primeira vez, era um Verão calmo. Senti uma paz e uma sensação de segurança tão grandes que percebi imediatamente que estava em casa. Depois, vivi na Alfama turística e barulhenta, e não conseguia dormir por causa das festas até tarde. Mais tarde, apaixonei-me pela energia de trabalho do Saldanha. E continuo maravilhada com o quão diferente Lisboa consegue ser. Como mistura tantos lados e consegue ser casa para tantas pessoas diferentes. Para uns, é rápida e focada no trabalho, para outros, é calma e acolhedora. E essa é a melhor parte: aqui podes ser quem quiseres, a cidade adapta-se a ti.
Respondendo ao desafio lançado pelo Time Out Market e pela Underdogs, criaste uma peça para ser instalada no tecto do mercado. Como resumirias esta obra?
Fiz algo que me faz sentir Lisboa – e que também me representa em Lisboa. Vejo ondas no horizonte. Sinto o vento no rosto. Cruzo-me com pessoas conhecidas e sorrio a desconhecidos. A minha peça não grita o seu significado, trata-se mais de uma sensação.

O teu trabalho gira em torno da cerâmica, dos têxteis e dos fios. Foi fácil ligar estes materiais a um espaço como o Time Out Market e o Mercado da Ribeira, com toda a sua vida e energia?
Soube logo que materiais queria usar e como queria que as peças fossem visualmente. Não foi fácil ligá-los todos exactamente como os tinha imaginado, mas acho que os materiais que escolhi encaixam perfeitamente com a energia do lugar. No fim, ajudam a abrandar o ritmo e oferecem um momento de pausa e reflexão.
Como se compete pela atenção das pessoas num espaço onde elas já estão cativadas por outro tipo de arte – neste caso, as criações dos chefs?
Eu sei que não há maneira de superar uma boa refeição, por isso nem tentei! A minha peça acompanha as refeições. Dá às pessoas algo em que reparar, conversar e até se maravilhar enquanto comem.
Se tivesses de escolher um prato português, qual seria?
Ai, isso é tão difícil! Vivi no norte de Portugal e adorava francesinha. Agora, os meus preferidos são choco frito e bacalhau à Brás. Para ser sincera, antes de me mudar para cá, não gostava nada de marisco – agora sou fã. Mas se tivesse mesmo de escolher um prato para o resto da vida, seria uma tosta mista. O que é melhor do que uma tosta quente com fiambre e queijo? E se juntarmos uma fatia de tomate... mmm!