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O Último dos Moicanos (1936)
O Último dos Moicanos (1936)

Cinema: Cinemateca tira série B da sombra

A série B foi um dos pilares do edifício clássico de Hollywood. Compreende-se. Por um lado rentibilizava equipamentos e profissionais; por outro alimentava a enorme rede de cinemas norte-americana. E, como efeito lateral, revelava actores e realizadores

Escrito por
Rui Monteiro
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O ciclo dedicado à série B pela Cinemateca é uma viagem exemplar por esse cinema baratinho e, principalmente, rápido de fazer, que Hollywood usou para as famosas sessões duplas e, mais tarde, contra a pressão da televisão. Sendo a maioria irrelevantes, muitos têm com as suas virtudes. Dez seguem já.

Cinema: ciclo tira série B da sombra

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Budd Boetticher foi um dos realizadores que, a bem dizer, nunca saiu da série B, especializando-se, aliás, em filmes de cowboys. Mas como realizador contratado tinha de ir a todas e, desta vez, foi para o cinema de gangsters que o estúdio o mandou. O que, mesmo que não fosse essa a intenção dos produtores, foi uma boa decisão, pois o realizador, com elenco que não ficou para a História (Ray Danton, Karen Steele, Elaine Stewart, Jesse White, Simon Oakland), dramatizou a biografia do bandido “Legs” Diamond em tons de cinema negro infectado por toques de comédia e musical.

Qua, 8, 19.00.

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Antes de Johnny Depp ser Tonto, e embora o papel tenha sido interpretado por outros actores no cinema e na televisão, o Tonto que contava era Jay Silverheels. O amigo de Mascarilha (Clayton Moore), neste filme de Stuart Heisler, uma das melhores adaptações de uma banda desenhada ao cinema, não tinha a importância narrativa que o estatuto de astro de Depp lhe deu quase seis décadas depois. Ainda assim, desta vez, não fora ele e Mascarilha ficaria pelo caminho – e a guerra com os índios seria certa.

Quinta, 9, 15.30.

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Edgar G. Ulmer é outro nome de realizador fundamental para a série B não ser só lixo ou encher chouriços para aproveitar cenários e fazer render o tempo. Como Boetticher, Ulmer era um especializado praticante de coboiadas, nas quais ia metendo, como se costuma dizer, um pauzinho na engrenagem. Neste filme sobre o velho Oeste, porém, foi um pouco mais longe. Filmando, no então nobre Technicolor, um enredo centrado na relação triangular entre as personagens interpretadas por Arthur Kennedy, Betta St. John e Eugene Iglesias de forma quase aberta (que o Código Hayes não era para brincadeiras), o realizador criou um denso ambiente de ambiguidade sentimental e sexual entre tiroteios. E mais, sem saber, deu a François Truffaut a ideia de dirigir Jules e Jim.

Sexta, 10, 15.30.

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No meio da vontade de mais lucro para os estúdios que está na origem da série B, havia produtores com preocupações sociais. Walter Wanger, que já trabalhara para grandes estúdios e entretanto se estabelecera como independente, era um desses raros exemplares. E, desta vez, encarregou Don Siegel, que, mais tarde, seria promovido à “série A”, de realizar uma história baseada na sua própria experiência prisional, pois o produtor passara uns meses na prisão, anos antes, por ter atingido a tiro o alegado amante da mulher. Rodado na prisão de Folson (onde Johnny Cash gravaria um dos seus mais célebres concertos), com verdadeiros guardas prisionais e alguns condenados em papéis secundários ou como figurantes, mais Neville Brand, Emile Meyer e Frank Faylen, o filme, com a sua rudeza áspera e realista, está em completa contracorrente com o cinema popular da época.

Segunda, 13, 15.30.

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No início da década de 1960 ainda era popular a lenda de que Adolf Hitler não se suicidara no bunker de Berlim e que andava por aí, disfarçado e à solta, a preparar-se para fazer das suas. Havia quem dissesse que habitava um certo palacete em Sintra, mas o paradeiro mais comummente invocado era a América do Sul. O que não deve ter nada a ver com o filme de Stuart Heisler, mas ilustra o espírito da época, politicamente oscilante entre a lenda urbana, a paranóia atómica, a Guerra Fria e, em simultâneo, a recordação do horror da II Guerra Mundial. Diga-se, a propósito, que Stuart Heisler seguiria um caminho diferente da maioria dos seus colegas agarrados ao género até ao fim das suas carreiras. Depois de trabalhar como assistente de realização de John Ford em The Hurricane, o realizador dedicou-se ao cinema documental e dessa parte da sua obra saíram películas exemplares, como The Negro Soldier (1944) ou Tulsa (1949). Provavelmente obras pouco ou nada lucrativas, o que o levou, no fim da carreira, a aceitar ingressar nos quadros da série B. Voltando a Hitler, sua derradeira película, com Richard Basehart, Cordula Trantow, Maria Emo e John Mitchum, não se está perante a sua obra maior, mas a abordagem, no essencial especulativa e sensacionalista, é bastante curiosa e exemplar representação simbólica do tal espírito do tempo.

Sexta, 17, 15.30.

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Aqui está um exemplar que de acordo com todas as regras e práticas é, sem dúvida, um filme de série B. Mais, é tão confuso e exagerado como feito às três pancadas, o que lhe acrescenta a qualidade de ser tão mau que até é divertido. William Nigh é o realizador, no elenco estão Maris Wrixon e Gene O’Donnell, mas o que interessa é Boris Karloff, no papel de um cientista que trabalha na cura da poliomielite e, porque precisa de colher fluido de espinal medula humana para tornar eficaz o seu medicamento, o que não é bem acolhido pelos escolhidos, se disfarça com a pele de um gorila para primeiro assustar e depois arrancar em paz a coluna dos cidadãos em nome do progresso da ciência.

Segunda, 20, 15.30.

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O realizador Anthony Mann, o director de fotografia John Alton e os actores Dennis O'Keefe, Claire Trevor e Raymond Burr (que se tornaria um astro de televisão com as séries Ironside e Perry Mason) tiveram carreiras muito estimáveis. Mas isso foi depois. Neste agora de 1948 ainda estão encalhados na série B, um a dirigir o que será um dos melhores filmes do género, outro a fotografar magistralmente, e os restantes a interpretarem esta história na qual, com a ajuda da amante, um homem foge da prisão, onde se encontrava falsamente acusado pelos sócios, disposto a vingar-se. Vai daí rapta uma assistente social, mas em vez de a usar como refém acaba por se apaixonar por ela.

Quinta, 23, 15.30.

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Quem viu Cães Danados (sim, o primeiro filme de Quentin Tarantino) ficará a saber de onde vieram alguns planos e sequências depois de ver esta obra fundamental da cinematografia B norte-americana realizada por Phil Karlson. Grande manipulador de orçamentos modestos, quando não pindéricos, o realizador foi formado na chamada “poverty row”, como eram conhecidas então as produtoras independentes, como a Monogram, para a qual trabalhava. Sem nunca sair, por assim dizer, da cepa torta, Karlson foi um dos mestres da série B, autor que foi a todas, fossem filmes de guerra, policiais ou coboiadas. Aqui assina um dos seus títulos mais célebres, combinando o filme de “golpada” com a dureza do cinema negro mais realista.

Sexta, 24, 19.00.

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Versões há muitas e esta (comercialmente inédita em Portugal) nem é a primeira que o cinema dedicou ao romance de James Fenimore Cooper. Porém, é uma das melhores visões cinematográficas sobre a guerra entre ingleses e franceses pela disputa da América do Norte e o papel dos índios moicanos, que muito ganhou em ser realizada por um especialista de filmes de acção como George B. Seitz e onde um actor na altura praticamente desconhecido, Randolph Scott, que se tornaria outro astro de Hollywood, arranca um grande desempenho no papel de Olho de Falcão.

Terça, 28, 19.00.

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E voltamos a Budd Boetticher e a Randolph Scott, neste filme de série B aditivado, para verificar como o realizador era, de facto, um especialista em filmes de caubóis com – digamos – uma voltinha. Tanto que Entardecer Sangrento, apresentado em Technicolor e Cinemascope, cor e formato que Boetticher manipulava com especial talento, ultrapassou em muito o anonimato, ou pelo menos o obscurecimento característicos da série B. E não é obra para almas sensíveis, pois a realização carrega que se farta na violência, psicológica em boa parte, mas principalmente física, infligida por um homem, perturbantemente interpretado por Scott, movido pelo desejo de se vingar de quem lhe matara a noiva.

Quarta, 29, 15.30.

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