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Cinemateca: cidades como nunca se viram

Mais um mês, mais uma rodada de filmes do ciclo O Cinema e a Cidade na Cinemateca, corrida final para outra mão cheia de obras que mostram como sem as cidades o cinema seria decerto outro.

Escrito por
Rui Monteiro
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Na jornada final deste ciclo encontram-se raridades e Nova Iorque é muitas vezes protagonista, ou pelo menos parte interessada de um programa em que as cidades e a sua arquitectura não são apenas paisagem. Sete exemplos de como se olha e se representa a cidade seguem já.

Cinemateca: cidades como nunca se viram

Empire

É com certeza preciso uma certa paciência e paixão cinéfila a toda a prova, pelo menos uma garrafa de litro de água (chá, uísque, tequila, vodca, red bull… É riscar o que não interessa s.f.f.) e algumas barras energéticas (ou em alternativa umas sandes de cozido e duas mousses de chocolate) para assistir às oito horas e cinco minutos de Empire, o filme realizado em 1964 por Andy Warhol. Um grau de dificuldade elevado, como se vê, porque 485 minutos são 485 minutos, e porque nestes 485 minutos não acontece – não há outra maneira de pôr a coisa – nada, a não ser umas subtis mudanças de luz. Porém, sendo obra de Warhol é obrigatório ver este plano fixo do Empire State Building, o que, por outro lado, facilita os intervalos para idas à casa de banho e cigarradas, pois no regresso à sala a coisa estará praticamente na mesma. Resumindo: pela primeira vez a Cinemateca exibe a versão integral deste filme “que retrata um dos grandes ícones de Nova Iorque, aqui assumido como uma representação metonímica da própria cidade” – e os cinéfilos têm uma oportunidade de mostrar a sua raça.

Sábado, 4, 15.00

Vontade Indómita

Por falar em Nova Iorque… Em registo muito mais digestível, King Vidor, com Gary Cooper, Patricia Neal, Raymond Massey e Kent Smith, mostra a cidade que nunca dorme a partir do olhar de um arquitecto, parece que inspirado em Frank Lloyd Wright. Realizado em 1949, muito livremente adaptado de romance de Ayn Rand, a obra é uma espécie de manifesto pelo individualismo em que um arquitecto prefere destruir o edifício que projectou a permitir a sua adulteração por razões comerciais.

Segunda, 6, 21.30

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Lisboa, Crónica Anedótica

Fora do bulício e longe da modernidade da metrópole americana, Jorge Leitão de Barros, em 1930, criou esta colecção de apontamentos cómicos, passados em Lisboa, com a intenção de mostrar “como se nasce, vive e morre” na capital. O filme é obra ligeira, honesta e divertida na sua observação e representação de algumas particularidades e figuras populares lisboetas, e ainda uma oportunidade para recordar, ou conhecer alguns dos melhores e/ ou mais populares actores da época, como Adelina Abranches, Aura Abranches, e, claro, Beatriz Costa e Estevão Amarante.

Sexta, 10, 18.30

Viagem Sem Volta

O filme de Victor Vicas é uma das primeiras obras realizadas sobre a divisão da Alemanha pelos Aliados no pós-II Guerra Mundial. É, também, um dos poucos que mostra a vida no lado governado pela União Soviética, sustentando-se na história de um oficial soviético que, em 1945, salvou uma jovem refugiada, e que, sete anos mais tarde, colocado em Berlim Leste, reencontra a rapariga. Não fora a Guerra Fria e seriam felizes para sempre, mas com o conflito já em velocidade de cruzeiro sérias são as dificuldades dos amantes. Já agora, uma curiosidade: a película de Vicas é protagonizada por Ivan Desny (com contracena de Ruth Niehaus), um dos grandes actores da década de 1950, o qual, quando ia já a caminho do esquecimento, foi recrutado por Rainer Werner Fassbinder para O Casamento de Maria Braun, Lola e Berlim Alexanderplatz.

Quinta, 16, 19.00

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Holy Motors / The Picture House

Sessão que ainda inclui a muito curta-metragem The Picture House, de Emily Richardson, o filme de Leos Carax dedica-se por assim dizer a Paris. Com Denis Lavant e Édith Scob, esta co-produção franco-alemã de 2012, enquanto espraia o seu olhar sobre a cidade, pretende também ser uma metáfora sobre o estado do cinema. Para isso reflectindo, através da “história” de Mr. Oscar (“um homem que, como um actor” interpreta vários papéis ao longo do filme), sobre o modo como os novos suportes ao dispor do cinema influenciam e condicionam o seu destino.

Segunda, 27, 22.00

São Paulo, A Symphonia da Metrópole/ Stramilano

É altura para voltar atrás, até porque, como antigamente, a apresentação do filme de Rodolpho Rex Lustig e Adalberto Kemeny tem acompanhamento ao piano por Filipe Raposo. Mas, principalmente, porque em cena está uma São Paulo no final dos anos de 1920, momento de transição de entreposto comercial para centro industrial e financeiro do Brasil. Parte, por assim dizer, do “movimento” de sinfonias urbanas que se desenvolveu nessa e nas duas décadas seguintes, São Paulo, A Symphonia da Metrópole apresenta “uma visão caleidoscópica de vários aspectos da vida na cidade”. E vai muito bem com a curta-metragem meio Futurista Stramilano, que Corrado D'Errico dedicou a Milão, igualmente em 1929, agendada para a mesma sessão.

Terça, 28, 21.30

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Douro, Faina Fluvial/ Impresssionen Vom Alten Marseiller Hafen (Vieux Port)/ À Propos de Nice

Esta sessão de curtas-metragens, todas realizadas entre 1929 e 1934, tem, além da qualidade dos filmes em exibição, a particularidade de apresentar na mesma ocasião três grandes cineastas. A saber: Manoel de Oliveira, o artista plástico austro-húngaro intermitentemente seduzido pelo cinema László Moholy-Nagy, e o realizador francês Jean Vigo. Do mais resistente realizador português é apresentado o seu conhecido documentário Douro, Faina Fluvial (apresentado na primeira versão sonorizada, estreada em 1934), no qual, com atenção, se encontra a influência das sinfonias urbanas, então muito pujantes, mas principalmente se assiste ao nascimento de um grande cineasta. Já o filme de Moholy-Nagy debruça-se sobre a cidade portuária de Marselha “conservando toda uma dimensão de pesquisa formal”, enquanto Vigo se dedica a traçar um retrato irónico de Nice, explorando o contraste da vida dos turistas na Promenade des Anglais e do povo nos bairros pobres da cidade velha.

Quarta, 29, 22.00

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Cinema: 1917, o ano que mudou o mundo
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