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James Holden
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James Holden: "Para mim trance é música hipnótica"

James Holden & The Animal Spirits tocam esta quarta-feira na Culturgest. Falámos antes do concerto

Luís Filipe Rodrigues
Escrito por
Luís Filipe Rodrigues
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No mais recente disco, The Animal Spirits, o DJ e produtor de electrónica James Holden virou as costas à música de dança e esculpiu um som hínico, ancorado em free jazz, pós-rock e músicas africanas. Falámos antes do concerto de quarta-feira, na Culturgest.

Já foste do trance, mas a tua música evoluiu e mudou muito desde então.

Ainda sou. Só que o trance é muito mais do que aquilo a que as pessoas chamam “trance” – vai do Steve Reich à música gnawa marroquina, da Éliane Radigue ao John Surman, do Pharoah Sanders à folk escocesa, etc. Não vejo uma grande diferença entre o euro-trance de meados de 90s e estas coisas. Induz tudo a mesma sensação, o mesmo estado de espírito.

Mas continuas a ouvir trance?

Sim, mas segundo a minha definição, e não propriamente o estilo musical a que associamos esse nome. À medida que os vários subgéneros da música de dança vão envelhecendo, deixam de se fazer canções novas – as chamadas novas músicas não passam de versões de velhas ideias. Isto não é um problema se não tiveres ouvido todas as velhas ideias, mas passado algum tempo é altura de avançar.

Tu designas The Animal Spirits como um disco de folk-trance. O que entendes por isso?

É música hipnótica. Para mim é isso que é o trance.

É diferente de quase tudo o que fizeste antes. O que inspirou essa mudança?

Faz parte de um longo processo evolutivo. O meu álbum anterior abriu a porta para tocar com o [baterista] Tom Page, e gostei muito de tocar ao vivo com ele. Essa experiência deixou-me tão feliz que percebi que esse tinha de ser o ponto de partida para o disco seguinte.

Quais são, para ti, os principais pontos de contacto entre The Animal Spirits e o teu álbum anterior, The Inheritors?

Têm muito em comum: a tonalidade, a mesma onda hipnótica.  Mas The Animal Spirits é um passo em frente em relação a isso, pela maneira como foi feito – sete pessoas a tocarem juntas na mesma sala vão obrigatoriamente fazer algo que uma pessoa sozinha nunca conseguiria fazer.

Gravaste o disco ao vivo no estúdio. Porquê?

Imagina que não tínhamos gravado assim, e que cada um tocava a sua parte e depois juntávamos tudo, como normalmente se faz. Nesse caso, não há um diálogo na música, são só pessoas a lerem um guião. Mas quando toca toda a gente ao mesmo tempo fica tudo mais complexo e interligado, toda a gente ouve tudo à medida que está a acontecer e responde a isso. É uma conversa entre músicos, e isso é mais especial do que qualquer outra coisa.

Oiço, no álbum, ecos do jazz, e mesmo de algum free jazz. Concordas?

Sim. Mas é mais jazz espiritual do que free jazz. Malta como o Don Cherry e o Pharoah Sanders, que faz música hipnótica e meio trance.

O disco foi gravado durante a campanha do Brexit. Como é que isso afectou o vosso trabalho?

Na altura estávamos contentes por fazer qualquer coisa de belo e ignorar esta idiotice. Acho que é mesmo a única coisa que podemos fazer.

Conversa fiada

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