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Putas Bebedas
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O melhor que ouvimos em Novembro

De Benjamin Clementine a King Krule, passando por Putas Bêbadas, estes foram os melhores discos que ouvimos em Novembro

Escrito por
Editores da Time Out Lisboa
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De Benjamin Clementine a King Krule, passando por (relativamente) novos talentos portugueses como Putas Bêbadas, Genes ou Iguana Garcia, ouviu-se música da boa em Novembro por estas bandas. Bons discos. Estes foram os melhores.

O melhor que ouvimos em Novembro

Bonnie ‘Prince’ Billy - Best Troubador

  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

Um disco de versões é sempre uma apropriação. A transfiguração do original pela lente de quem presta homenagem. O que Bonnie Prince Billy fez com Merle Haggard (1937-2016) é algo de bem mais radical. Ao deixar de parte alguns dos maiores sucessos da estrela grande da country, assim como as suas canções mais animadas, Bonnie reserva-nos um Merle muito parcial, muito ao seu jeito. Este é o Merle intimista, das canções de amor complexas, das reflexões sobre a existência. Junte-se a produção caseira, num registo quase ao vivo, as flautas e o saxofone que substituem os banjos e a guitarra pedal steel e temos o cenário sobre o qual se desenvolve a voz serena e até sussurrada (“I Am What I Am”) de Bonnie. “If I Could Only Fly”, que encerra o álbum, ou “My Old Pal” são dois dos temas em que o espírito deste disco mais se corporiza. O ADN das canções ainda é country, mas isto já é outra coisa. Manuel Morgado

Putas Bêbadas - Orgulho de Ex Buds

  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

Isto é barulho do bom. Quatro anos depois da estreia em disco com esse furação de noise rock a que os cientistas deram o nome Jovem Excelso Happy, Putas Bêbadas estão de volta. Orgulho Ex-Buds é um álbum furioso e tesudo, mas sincero. Herdeiro dos Ramones e de Alberto Pimenta, dos Butthole Surfers e de GG Allin, sem nunca abdicar de uma identidade própria. Instrumentalmente, o quarteto continua e transcende o trabalho começado há uns anos, só que agora as vozes têm outro destaque, servem de âncora às canções – e que belas canções – e estão carregadas de auto-tune, ao serviço das letras de uma boçalidade destemida e poética. Música cálida, para aquecer o Inverno que está a chegar. Luís Filipe Rodrigues

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Genes - Veracidade

  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

Cuidado com o pescoço. Aviso essencial à navegação antes de embarcar em Genes, uma espécie de objecto voador não identificado cujos instrumentais trap são receita automática para torcicolos. Mas centremo-nos naquilo que o rapper do Montijo nos provoca nos ouvidos. Letras ultra-actuais, da era da internet, sobre “não teres guita pó metro”, sobre seres do rap e teres amigos do indie. Genes é um caso único no rap nacional, sobretudo desde que lançou Pessoas, disco com onze canções que descrevem na perfeição as relações de forças – inocência vs rebeldia – que compõem o seu imaginário. Neste Veracidade, EP de cinco faixas, a ideia de confecção caseira – no seu quarto “com um microfone de baixa frequência comprado numa loja de bazar chinês” – mantém-
-se. Muda, talvez, o conteúdo, onde aborda, com insistência, o sucesso que tem tido recentemente: “Primeiro cachet comprei uns New Balance/ Dama tirou pic e postou no Behance”. Fala-se de Genes e sempre surge a palavra “potencial”, agarrado à ideia de uma necessidade de crescimento. Claro, que assim seja, mas que se entenda que o seu flow demasiado rápido para o beat, essa falta de sincronização, é, mais do que tudo, estilo, identidade, porque ninguém o faz assim, porque nunca ninguém se esteve tanto a marimbar para essa eventual estética desalinhada. Podem chamar-lhe falta de técnica, falta de controlo na respiração, mas não, é só Genes. Que quer lá saber. A essa gente séria e conservadora, Genes diz simplesmente: “Não tens graça”. 
Miguel Branco

King Krule - The Ooz

  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

Em “Biscuit Town”, genial primeira canção do disco, ouve-se: “I think she thinks I’m bipolar”. Ora pensa ela e pensamos todos. Seja ela quem for sabe alguma coisa disto. É árdua a tarefa de saber a quantas vai King Krule. Sabemos que vai bem, isso sabemos. Sabemos que tem sete vidas, ainda mais projectos e um talento impossível de quantificar. Ao terceiro álbum, The Ooz – depois de em 2015 ter editado A New Place To Drown com o seu nome de nascença Archy Marshall, um disco brilhante embrenhado numa electrónica lo-fi que viciava mais que caju salgado – o britânico volta a confundir-nos.

Tanto parece ser rapaz mais dado ao trip-hop e ao jazz, aquele rosto escondido no escuro da mesa do canto, uma cave londrina onde está sempre alguém a fumar (exemplos maravilhosos desse ambiente em “Biscuit Town”, “Lonely Blue” e “Czech One”), como é um poço de raiva, dono de uma turbulência particular e perturbadora, a ensaiar graves que quase parecem screamo como em “The Locomotive” e “Emergency Blimp”.

Comparando com o que já fez anteriormente, sobretudo com 6 Feet Beneath the Moon, este é um King Krule menos rockeiro, que, ainda assim, insiste em dar um ar de sua graça na segunda metade do disco. “Half Man Half Shark” e “Vidual” chegam mesmo a ter uma energia que não corresponde com o resto. É, certamente, bipolaridade.

O que sempre se mantém, ao longo das 19 (porra) canções de The Ooz é a singularidade artística de Marshall, uma voz que parece vir de onde vem a lava, uma capacidade estranha de nos enfeitiçar. A penumbra que serve de chapéu para esta hora e pouco sugere que Krule não está bem, isto é, anda à descoberta, a tentar arrumar sentimentos, a tentar não perder sempre. Mas perde. E se é preciso tal depressão para que continue a fazer música desta qualidade, ele que nos desculpe, mas assim seja. Miguel Branco

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Iguana Garcia - Cabaret Aleatório

  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

Ponha, ponha, ponha. Foi isto que João Muge, concorrente do programa televisivo Agora ou Nunca, disse a Jorge Gabriel quando este lhe punha na cabeça uma iguana, criatura que o fazia tremer de medo. Eis que chegou a altura de repetir: ponha, ponha, ponha. Ponha o disco de Iguana Garcia a tocar, sem qualquer tipo de fobia. Cabaret Aleatório é o disco de estreia deste réptil ambíguo. Tanto é uma iguana rockeira, como é uma iguana electrónica, isto é: em Iguana Garcia as guitarras e os seus riffs habitam o mesmo reptilário que os sintetizadores electro; isto vai lá com uma lapdance à bola de espelhos, como lá vai com moves de Mick Jagger.

Certo é que estamos na discoteca. Aliás é de uma discoteca em Marselha (onde João Garcia decidiu ir de carro, também pelo intuito de viagem) chamada Cabaret Aleatoire que vem o nome do disco. Foi aí que a Garcia começou a ganhar escamas, a crista a levantar-se.
Assim foi até se encontrar com Fábio Jevelim e Makoto Yagyu no HAUS para criar este baile que serve os intentos do Verão mas cairá, certamente, bem no Inverno. Sobretudo se pensarmos que os répteis são ectotérmicos, seres sem temperatura corporal constante.

“60kf” é, arriscamos, uma das canções do ano, onde Garcia afirma: “Eu já pensei em deixar de ser feliz para ser normal”. Uma reflexão embrenhada nas cordas drogadas da sua guitarra, sem roubar espaço ao loop de sintetizadores que persegue a ribanceira. Em “Vapor” a velocidade muda, numa nostalgia quase funk, como se um r&b 3.0 fosse dançar para afastar os demónios de uma relação perdida. Este Cabaret Aleatório são 49 minutos fora daqui. Iguana-me que eu gosto. Miguel Branco

Daniele Luppi & Parquet Courts - Milano

  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

Viva os trabalhos de grupo. E aqui, em Milano, disco colaborativo do compositor e produtor italiano Daniele Luppi com os Parquet Courts (e uma grande contribuição de Karen O, dos Yeah Yeah Yeahs), não há quem fique com as tarefas todas para si. O Powerpoint, o índice, a bibliografia, é tudo dividido, numa apresentação final onde podemos ver o input de cada um.

Em 2011, Daniele Luppi começou a catalogar cidades italianas, com Rome, disco a meias com o produtor Danger Mouse e com aparições de Jack White e Norah Jones. Seis anos depois rumamos a norte, para Milão, e para uma Milão dos anos 80, onde a moda se apoderou da cidade, as festas, as drogas, os engates, uma superficialidade que, goste-se ou não, era intensa. Tal como é este disco: viril, pretensioso, sempre pronto a percorrer as ruas e os bares, de cigarro na mão. E quem melhor para absorver o pulso das avenidas que os Parquet Courts? Assim o fazem com Nova Iorque (oiça-se Human Performance, de 2016, e logo as dúvidas se dissipam), que acaba por ter essa condição estética, essas semanas da moda, esses bares abertos de tudo onde confluem estilistas, músicos, empresários.

A contribuição de Karen O, da sua voz sensual e citadina, é, de igual modo, essencial. O nervo rouco e ritmado com que ocupa “Talisa” e “Flush” (duas das melhores canções) tem tudo a ver com botas que valem dois salários e com estadias prolongadas em bares onde reina o nevoeiro. Luppi parece ter conseguido colocar mais uma cidade italiana no mapa discográfico, de novo com aproximações americanas, com solos de guitarra e de saxofone, como a sua brilhante fritaria na canção final: “Café Flesh”. Milano, dizemos nós, é melhor que Milão. Miguel Branco

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Tiago Bettencourt - A Procura

  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

O lado B é mais denso, com as canções a deixarem-se envolver em sonoridades vastas, à proporção dos instrumentos. É aqui que podemos ouvir “Fogo no Jardim”, um canto de intervenção dos dias de hoje, atravessado por sons da filosofia de Agostinho da Silva e pelas declarações belicistas dos presidentes americanos. Mas é no lado A, mais intimista, que estão as canções que vale a pena memorizar. Canções intimistas, porque procuram, como diz o título do disco, mas também pela frugalidade instrumental, Basicamente, este é um disco fascinado pela electrónica, sejam as caixas de ritmo, ou os omnipresentes sintetizadores. Um intimismo pop, por paradoxal que tal possa parecer. Há aqui pop da boa, da que vende (há lá pop que não venda...), bem escrita, bem produzida. Pelo menos os três primeiros temas do disco são, por isso mesmo, autênticos hits instantâneos. Manuel Morgado

Há sempre música entre nós

  • Música

Setembro é um mês estranho. A meio caminho entre o Verão e o Outono, data dos últimos festivais e dos primeiros grandes concertos, quando ainda se sentem os efeitos da seca editorial do Verão mas começam a despontar os primeiros discos da rentrée (bonita palavra esta, repitam connosco: "rentrée"). Essa amplitude reflecte-se nos discos que nos passaram pelos ouvidos durante o mês de Setembro. Dos Phoenix aos Wiki, passando por Orelha Negra e o feliz encontro de King Gizzard & The Lizard Wizard e Mild High Club, estes foram os melhores.

  • Música

Outubro é tradicionalmente um dos meses mais fortes do ano discográfico. Com lançamentos a rodos e música para todos os gostos e sensibilidades. Entre os melhores discos que nos passaram pelos ouvidos em Outubro há de tudo: da electrónica agridoce dos LCD Soundsystem ao fado olímpico de Camané, passando pelo indie rock das L.A. Witch ou a folk tremeluzente de Mazgani.  

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  • Música

Dezembro é um mês complicado. As compras e os jantares de Natal dilapidam a paciência e o orçamento familiar, mas há concertos em Lisboa para nos animar. E não nos referimos apenas a concertos natalinos. Há tudo o tipo de concertos, de Carlos do Carmo aos britânicos The Horrors.

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