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Catarina Vieira 'Chega Sempre Atrasada aos Funerais Importantes'

Escrito por
Miguel Branco
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No seu primeiro espectáculo a solo – Chego Sempre Atrasada aos Funerais Importantes – depois de vários anos a co-criar com Solange Freitas, Catarina Vieira assume o atraso, o despertador danificado. Incide-se sobre o amor, sobre o que é ser herói, sobre um portal que todos tentamos atravessar. Tudo para ver desta quinta a domingo, no Maria Matos. 

Um pássaro ejecta um líquido estranho da sua boca. Pronto, vomita. E pronto, não é um pássaro, é uma cabeça de pássaro, talvez um busto, que Catarina Vieira decide canibalizar. Do outro lado das cortinas – dispostas em X, uma colorida e outra preta e branca – está um lobo, perdão, uma cabeça de lobo, que pode ter a capacidade de possuir Catarina Vieira. E quando falamos desse X, falamos de um portal – que permite olhar o outro lado da aventura – que Catarina Vieira percorre, cruza, utiliza como matéria para uma dança sensual.

No seu primeiro espectáculo a solo – depois de vários anos a trabalhar a meias com Solange Freitas – a que decidiu chamar Chego Sempre Atrasada aos Funerais Importantes, a criadora reflecte sobre o mito do herói solitário: “Interessava-me com este pássaro trabalhar o mito do herói solitário através dos tempos que vivemos hoje, do discurso neoliberal em que tens que te tornar um projecto de ti próprio, tens que te melhorar, ir para territórios desconhecidos dentro de ti próprio. Isso para mim é quase um processo autofágico, tu já não sabes quem é quem, quem está a consumir quem”, explica.

Chego Sempre Atrasada aos Funerais Importantes

Quando fala do mito do herói solitário fala do herói que abandona a segurança do lar para terreno desconhecido, para um eterno lugar de superação. E a superação pessoal, como todos poderemos confirmar, pode ser uma tremenda canseira. O título até pode enganar, mas neste palco fala-se de amor. E de como pode ser óbvio faltarmos aos nossos funerais amorosos. Falar de amor, admitamos, pode assumir todas as formas. Neste espectáculo assume a forma de texto, de toque – algo que interessa profundamente à artista, ao ponto de ter uma luva que através do toque produz som – até a forma do silêncio.

Digamos até, tentando não ser foleiros, o olhar. Ou a visão. Se estamos todos numa sala a ver uma peça teatral então assumamos que estamos nesse lugar. Pelo menos é isso que defende Catarina Vieira: “O teatro é o lugar de onde se vê. E este espectáculo cria barreiras a essa visão, ou cria uma espécie de sensualidade da visão. Quando olhas estás a ver o que está por trás, no meio e à frente da cortina, estas diferentes gradações tornam a visão energia e não apenas uma relação bidimensional com o acto de ver. Às vezes no teatro esquecemo-nos que estamos a partilhar o mesmo espaço.”, afirma. Em Chego Sempre Atrasada aos Funerais Importantes não há como esquecer.

Chego Sempre Atrasada aos Funerais Importantes. Teatro Maria Matos. Qui-Sáb 21.30. Dom 18.30. 6€-12€

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