Notícias

Herói Local: Vítor Graça, o calceteiro

Vítor Graça é mestre da calçada portuguesa, uma profissão que merece ser olhada com mais atenção. Fomos picar conversa com ele.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Jornalista
Vítor Graça, Calceteiro, Herói Local
©Manuel MansoVítor Graça
Publicidade

Nunca é tarde. Este parece ser o lema de Vítor Graça, que aos 54 anos já encerrou diversos capítulos da sua história. A paixão pela calçada é fresca, tendo em conta o seu percurso de vida, e inspiradora para quem acha que a idade não é bem um posto. Vítor encontrou o seu e não tem tido mãos a medir: este novato já se tornou um verdadeiro mestre do ofício, numa arte em vias de extinção.

Há cinco anos, formou-se na Escola de Calceteiros de Lisboa e é hoje figura de proa na promoção da calçada, por indicação da própria escola, que viu em Vítor uma importante peça na construção do futuro deste património. “Ao princípio éramos 21 e no fim só cinco pessoas acabaram o curso”, conta, após mais um trabalho de calcetagem em Alverca, onde vive e trabalha por conta própria. “Eu já ia com aquela vontade de fazer e aprender, porque é logo meio caminho andado. Nós quando queremos e gostamos é diferente”, defende o homem que só baixa os braços para partir pedra. Em Alverca quer deixar a sua marca e já começou com um José Saramago em calçada, ao qual se seguirá Fernando Pessoa.

Mas Vítor é também mestre na arte da reinvenção. Já teve uma empresa de pescado, abriu um restaurante em Cabo Verde e trabalhou nos Países Baixos durante seis anos. Aí passou por uma estufa de orquídeas, por um restaurante, por uma serralharia... Foi precisamente no país das tulipas que começou a ler sobre a calçada portuguesa, decidindo regressar para aprender a trabalhá-la. “Isto não é chegar e meter a pedra, tem técnica. Tudo tem o seu quê e o seu porquê”, explica.

Vítor Graça, Calceteiro, Herói Local
©Manuel Manso

Chegou a trabalhar em Lisboa, na Junta de Freguesia de Santo António, e até reparou a calçada em frente à Sociedade Nacional de Belas Artes. “Mas há muita calçada histórica em que só a Brigada dos Calceteiros da Câmara pode mexer”, explica Vítor. Mas poucos eram os incentivos para se juntar à equipa responsável por cuidar deste património. “A ver se começa a ser vista com outros olhos e se há mais iniciativas para atrair as pessoas. Só que para isso tem de haver a outra parte, de dar mais regalias salariais. Senão é difícil atrair pessoas para trabalhar nisto”, lamenta.

Em Junho foi convidado pela Escola de Calceteiros a rumar a Budapeste, onde deixou o símbolo de Lisboa em calçada no Parque Europa, por ocasião da Presidência Portuguesa do Conselho Europeu. Uma iniciativa promovida pela Embaixada e o Instituto Camões. “É bom, é um sinal de reconhecimento”, diz orgulhoso.

+ Lisboa é a primeira cidade da Europa com torres rotativas de agricultura vertical

+ ‘A Mensagem’ torna-se o primeiro jornal português a dar notícias em crioulo

Últimas notícias

    Publicidade