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Ljubomir Stanisic
Arlei Lima

À flor da pele: as tatuagens dos chefs

Discretas ou vistosas, com significado ou nem tanto, dizem-nos pouco ou nada sobre a sua cozinha, mas muito sobre si. Nem todas foram feitas para serem vistas, pelo menos aparentemente, mas não há nenhuma que não conte uma história.

Cláudia Lima Carvalho
Escrito por
Cláudia Lima Carvalho
Colaborador
Arlei Lima
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Ljubomir Stanisic

Tinha 14 anos quando começou a guerra em Sarajevo. Saído da escola, com três amigos, marcou a mão a tinta da china. Desde então, não há tatuagem no corpo que não conte um pedaço da sua história. A entrada na cozinha, o dia em que conheceu a mulher, o nascimento dos filhos, a morte do pai... Um trabalho inacabado, tal como a mais recente empreitada. “Guernica, do Picasso. É o meu quadro favorito.” Explicasse Ljubomir o significado de todas as tuatuagens e talvez não fosse tão temido, só o chef que agarra o touro pelos cornos (tal como na tattoo que esconde debaixo da jaleca e cuja figura se tornou também símbolo do seu 100 Maneiras). 

Ljubomir Stanisic
Arlei Lima

Louise Bourrat

Treize. Ou 13. Podia ser o número da sorte da luso-francesa, mas é antes o número da temporada do programa televisivo francês Top Chef do qual se sagrou vencedora no ano passado. A mesma tatuagem têm os outros concorrentes. “Fui eu que lhes fiz”, conta a chef do Boubou’s no Príncipe Real. Hélène Darroze, com seis estrelas Michelin em três restaurantes, fazia parte do júri e ficou tentada, mas Louise não se atreveu a deixar-lhe uma marca. “Comecei a fazer tatuagens como hobby durante a pandemia, a maioria das minhas fiz sozinha.” O desejo é fazer mais, assim que haja uma folga.

Louise Bourrat
Arlei Lima

 Fábio Algarvio e Zé Paulo Rocha

Na Mouraria, a dupla da tasca mais punk da cidade já (quase) dispensa apresentações. São a cara e a alma do Velho Eurico e isso, mais tarde ou mais cedo, vai acabar por ficar agarrado à pele. Até lá, as tatuagens são um pouco como a playlist do restaurante, que pode ir dos Ena Pá 2000 a António Variações e Capitão Fausto, especialmente no caso de Zé Paulo, onde arte erótica, caldo verde e rissóis convivem com lembranças da família. 

Velho Eurico
Arlei Lima

 Inga Martin

De sorriso sempre pronto, Inga chefia a cozinha do Go A Lisboa, em Alcântara. A operação é grande, mas a chef não vacila, nem mistura mundos. As tatuagens têm de ter significado, acredita. E por isso não se vê a fazer ingredientes ou elementos da culinária. No braço, fez uma declaração de amor ao filho. “Chama-se Oliver. Oliver vem de Oliveira e por isso tenho uma oliveira. E um sol porque ele é o meu sun [sol] e o meu son [filho].”

Inga Martin
Arlei Lima

Elísio Bernardes

Sem nunca perder o norte – há uma bússola tatuada para dar uma ajuda –, Elísio chegou de Braga, vindo do Meliá Braga Hotel & Spa, há pouco mais de um ano para chefiar o Sea Me. É também o chef do departamento de alto rendimento do Sporting Clube de Portugal, mas nem por isso o desporto se destaca entre as muitas tatuagens. Nem isso, nem a gastronomia. O chef prefere antes tatuar o que mais lhe fala ao coração: a família.

Elísio Bernardes
Arlei Lima

Paulo Alves

A vida na cozinha está marcada numa das pernas, desde a altura em que Paulo Alves vivia longe dos holofotes que a estrela Michelin, quando estava no Kabuki, lhe apontou. Quem o vê no serviço, onde se exige uma certa formalidade, não lhe conhece a descontracção habitual (nem lhe vê nenhuma das tatuagens). Tinha 16 anos quando fez a primeira, arrependeu-se, mas nem por isso parou, até porque tudo se pode transformar. À vista, saltam os desenhos feitos pelos filhos.

Paulo Alves
Arlei Lima

Natalie Castro

Entre outras tatuagens, há um coração revestido a frutas e legumes, cogumelos, cenouras e folhas. É com pão e doces que Natalie Castro nos conquista tantas vezes, mas também já se sabe que nem só de padaria e pastelaria se faz o seu Isco. A casa de Alvalade, na verdade, não podia ser mais à sua imagem. Um porto seguro de boa comida com muito rock ‘n’ roll. E é assim Natalie e a sua pele também. 

Natalie Castro
Arlei Lima

Rafael Prates e Daniel Ferreira

Houvesse mais tempo e mais tatuagens Daniel teria para mostrar – vontade, pelo menos, não lhe falta. Do lado de dentro do balcão do Corrupio, são as facas no braço que chamam à atenção. Mas há um detalhe que costuma escapar aos clientes: os pequenos desenhos que representam aquilo que o chef gosta para lá da cozinha (música, futebol, viagens, humor negro). Por seu lado, Rafael está bem assim. O sous chef tatuou o braço aos 18 anos, “simplesmente” porque na altura gostou. 

Corrupio
Arlei Lima

Vladmir Veiga

“Não faço tatuagens por fazer”, diz o chef residente do estrelado LAB by Sergi Arola, no Penha Longa. Vladmir é discreto, até quando está aos comandos da cozinha, não acusando nunca o peso que a ausência do chef catalão que dá nome ao restaurante pode acarretar. Fez a primeira tatuagem aos 18 anos, convencido por amigos. Hoje, fala em “projectos” e divide assim o corpo. Num braço, o projecto África. No outro, a sua vida (e até uma receita).

Vladmir Veiga
Arlei Lima

 Tiago Penão

Ao balcão do Kappo, em Cascais, é difícil desviar o olhar de Tiago Penão, não só pela mestria com que conduz a refeição, mas também pelas tatuagens nos braços que não se revelam por completo. “Às vezes noto os clientes a tentar perceber o que é, mas são poucos os que perguntam”, diz o chef, que abriu também o Izakaya, uma taberna japonesa à sua imagem, cheia de atitude. Não é por acaso que no corpo o destaque vai para a cultura japonesa.

Tiago Penão
Arlei Lima

Maurício Varela

É enquanto pica chalotas na cozinha do Dahlia que Maurício vai desvendando as suas tatuagens. Não as conta, nem lhes dá particular significado. É uma coisa que gosta e isso também diz muito de si. “Eu idolatrava muito o Henry Rollins, vocalista dos Black Flag, e pensava que gostava de envelhecer como ele. Gosto da estética punk, rockabilly, e simplesmente estou numa profissão onde me posso tatuar na boa.”

Maurício Varela
Arlei Lima

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