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Rosa Pomar, retrosaria
© Gabriell Vieira

Grande malha: quatro histórias sobre tricot

Já lá vai o tempo em que era coisa de velhotas de óculos na ponta do nariz. Nada contra – só que o tricot é hoje um passatempo rejuvenescido, nas mãos de uma nova geração.

Mauro Gonçalves
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Mauro Gonçalves
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Ana Pizarro cresceu a ver a avó tricotar, mas foram precisos praticamente 20 anos para que a curiosidade despertasse. Vieram as primeiras experiências na costura e só mais tarde, pela via do Instagram, a vontade de se aventurar com duas agulhas e um novelo. Hoje, a copywriter de 25 anos não só é uma profícua fazedora de malha como o passatempo acabou por a levar ao encontro de um novo grupo de amigas – Helena, Rita e Sofia. Das redes sociais para o mundo real, o quarteto começou a juntar-se em Lisboa.

“Demo-nos todas muito bem. Temos uma série de valores em comum, opiniões semelhantes. O meu tricot, por exemplo, evoluiu bastante. Fiquei mais atenta à qualidade das fibras, às agulhas. E descobri o fascínio pela Rosa Pomar, que algumas delas já tinham”, detalha Ana. 

Para Helena Cruz e Sofia Daniel, de 27 e 22 anos, respectivamente, a pandemia foi o empurrão decisivo. De hobby solitário, as experiências com lã viraram terapia de grupo. “Foi uma forma de combater a solidão. Ainda hoje, mesmo que não consigamos estar juntas tantas vezes, continuamos a falar muito”, assinala Helena, formada em Engenheira Informática.

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Além da partilha de ideias, o grupo está unido por uma mesma camisola – um modelo cropped, com pequenos torcidos, que cada uma fez numa cor diferente. Sem cursos, apenas com a internet e com a ajuda umas das outras, o tricot continua a fazer parte do quotidiano de todas. “Levo o tricot para a faculdade, onde até já tive professores que ficaram a olhar. Aqui no grupo, gozam comigo porque ando sempre a fazer 500 camisolas ao mesmo tempo. No Instagram, vou vendo o que os outros estão a fazer, vou tendo umas ideias novas”, partilha Sofia, que já concluiu a licenciatura em Química.

Rita Cunha, de 23 anos, é o quarto elemento. Hoje, trabalha como produtora de conteúdos numa cidade do Nebraska, Estados Unidos, mas no início de 2021, em Lisboa, descobriu o tricot como forma de colmatar o isolamento provocado pela pandemia – isso e um grupo de Instagram pensado para a troca de experiências. “Não tinha uma turma fixa na faculdade, por isso acabei por não conhecer muitas pessoas novas. Era um bocado solitária”, recorda. Online, aprendeu a tricotar à inglesa. Com as novas amigas, começou a fazer malha em português.

“Actualmente, o crochet é muito mais popular no TikTok, talvez porque se faz mais depressa”, resume ainda. Falam num hobby que a pandemia ajudou a normalizar, embora a incompreensão ainda venha, muitas vezes, das gerações mais velhas. “Conseguimos ir à Zara comprar uma camisola por 30€ e esta, por exemplo, ficou por uns 100€. As pessoas não percebem, mas há questões de sustentabilidade envolvidas. A lã tem bastante qualidade e enquanto faço estou entretida. É uma escolha que fazemos”, remata Helena.

© Francisco Romão Pereira

Há 15 anos a trabalhar com fios e agulhas, Rosa Pomar não hesita em traçar o perfil de uma nova geração de tricotadeiros. “Vem muito a par com esta tendência do consumo mais consciente e de uma observação mais crítica do mercado da moda. Há montes de miúdas e miúdos muito novos a fazerem malha”, refere.

Na retrosaria que, há um ano e meio, mudou para o bairro dos Anjos, vende fios de produção própria, alguns importados e ainda organiza workshops para principiantes, bem como sessões de tricot para fomentar a partilha de experiência. “É particularmente fácil – não implica ferramentas caras como a marcenaria, nem matéria-prima complexa como a cestaria, nem exige que estejamos no mesmo sítio, como a costura. Está ali no ponto para ser sempre uma coisa reinventada.”

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DR

Para Gonçalo Vieira, Luísa Torres e Sara Duarte Brandão, o ponto de encontro foi a Faculdade de Belas Artes do Porto. Ele foi o último a pegar nas agulhas e em trio acabou por aperfeiçoar a técnica. “Tínhamos tanto para fazer que nos nossos encontros para tomar um copo de vinho ou um café acabávamos sempre por levar as agulhas e os novelos. Num dia, tivemos todos a mesma ideia em simultâneo: criar um projecto que permitisse este contacto e esta partilha tendo o tricot como paisagem”, conta Gonçalo.

Em 2019, acontecia a primeira edição do Knit & Wine, uma sessão de amena cavaqueira, de agulhas em riste e moderadamente regada, aberta a todos os que se queiram juntar, mediante uma inscrição paga. “Quantos mais copos de vinho, mais o tricot flui”, exclama Sara. Os encontros, trimestrais, já chegaram a juntar 50 pessoas num só espaço – ases e aprendizes, homens e mulheres, famílias inteiras e colegas de trabalho. “Os nossos eventos vão muito além do tricot. Acho que a parte mais importante é o convívio intergeracional, a partilha de conhecimentos”, completa Luísa. Sem competição, com espaço para a aprendizagem, mas também para a catarse, o Knit & Wine mantém-se vivo até hoje. Os encontros são agora trimestrais e acontecem quase sempre no Temporada, um café e espaço de cowork no Porto.

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De prática datada e carregada de estigmas, o tricot passou a ser factor de empoderamento para uma nova geração, sobretudo de raparigas. “Se calhar, a libertação destas miúdas vem do facto de as mães não fazerem tricot. Muitas mulheres da minha geração já não aprenderam. O estigma era tanto que as mães delas não lhes quiseram ensinar – tinham a ideia de que uma mulher moderna, com estudos e emancipada, não tricota. Mas isto deu a volta. Estas agora aprendem no YouTube ou no TikTok e não têm esse peso, porque já não foi uma coisa transmitida no seio familiar”, contextualiza Rosa Pomar, de 47 anos.

Quanto aos homens que se dedicam a este passatempo, continuam a representar uma minoria – apenas 5% de quem entra na retrosaria de Rosa. O estigma adensa-se, mas há quem tenha furado por entre o preconceito e desenvolvido uma verdadeira paixão. É o caso de Fábio Branco, actualmente a viver em Bilbao. É outro a quem a avó quis ensinar, mas, como bom adolescente, preferiu não aprender. O interesse veio mais tarde, se bem que tricotar à mão nunca foi a praia deste farmacêutico de 33 anos. Em vez disso, Fábio prefere a rapidez das máquinas. “O que mais me fascina é a parte mecânica da coisa. Cheguei a ter oito máquinas em casa [tem seis actualmente], todas em segunda mão – uma para fios mais grossos, outra para fazer um certo tipo de ponto mais fácil, outra para fios mais finos.

Enquanto monta, desmonta e experimenta, perde a noção do tempo. Faz parte de uma comunidade de utilizadores de máquinas de tricot domésticas, sediada no Reino Unido. Mesmo a viver em Espanha, continua a ser difícil encontrar quem partilhe o mesmo hobby, da mesma forma que ver um homem como ás do tricot continua a espantar muito boa gente – talvez um pouco menos desde o fenómeno em torno do nadador olímpico Tom Daley. Fábio só responde de uma maneira: qualquer um pode fazer malha. “Não é só para mulheres, nem é só para velhas. É para quem quiser fazer e para quem se sentir feliz com isso.”

Guia para fazer as primeiras malhas em Lisboa

  • Coisas para fazer
  • Aulas e workshops
  • São Sebastião
  • preço 2 de 4

Nem todas as técnicas ensinadas nesta escola passam pela máquina de costura. As aulas de iniciação ao tricot também são muito procuradas – um programa de 12 horas, com um preço de 140€ que já inclui todo o material necessário. Depois de lhe ganhar o jeito, avance para as aulas livres ou aprenda a fazer tricot circular.

  • Coisas para fazer
  • Areeiro/Alameda

Para que os mais novos comecem, desde cedo, a ganhar gosto por técnicas manuais como o tricot, o Pulaa Atelier não perde tempo. A faixa etária predilecta vai dos 10 aos 17 anos e tudo começa com uma ida às compras para cumprir cada item da lista de material. O workshop de iniciação acontece ao sábado, dura três horas e custa 40€.

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  • Compras
  • Cascais

Se quer aprender aos poucos, esta pequena escola tem um plano curricular à medida. As aulas de tricot, bem como as de crochet, podem ser marcadas à hora e custam 15€. Se quiser investir corajosamente neste passatempo, também tem um pacote de dez horas por 120€.

Mãos na massa

  • Coisas para fazer

O homem, a mulher, os miúdos, os amigos. Todos queremos comer e beber bem. Estamos sempre prontos para sermos arrebatados por um prato feito como mandam as regras, um petisco inesperado ou uma bebida artesanal. Mas verdade seja dita: nem todos somos mestres da culinária, como canta um certo cantor popular. E por isso o melhor é arregaçar as mangas e meter as mãos à obra para aprender a fazer do bom e do bonito e dar conforto às nossas barrigas, sedentas de fome (e gula). Mas já chega de conversa: vamos aos cursos de cozinha antes que a vontade esfrie.

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  • Coisas para fazer
  • Aulas e workshops

Os workshops de cozinha da Academia Time Out continuam a prometer transformar um zero à esquerda num verdadeiro mestre da culinária. Basta arranjar boa disposição e seguir as indicações do chef Miguel Mesquita. E ter vontade de meter as mãos na massa, claro. A proposta da escola de cozinha do Time Out Market Lisboa é simples: viajar pelos sabores do Oriente, sem se esquecer de tomar um bom brunch ou até de fazer a sobremesa. Para a agenda dos próximos dias, conte com grandes viagens à volta do mundo, sem sair do Time Out Market em Lisboa. 

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