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True Detective: Night Country
DRTrue Detective: Night Country

A noite, a neve e o terror. ‘True Detective’ volta a subir de nível

A quarta temporada da série antológica (HBO Max) tem ecos de clássicos da literatura de terror e de David Lynch ou John Carpenter.

Escrito por
Eurico de Barros
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★★★☆☆

O regresso ao sobrenatural na sua quarta temporada, Night Country (HBO Max), fez bem à série antológica True Detective, que depois de uma segunda temporada francamente decepcionante, e uma terceira apenas mediana, volta agora a alçar-se ao nível da primeira, cuja história tem ecos de clássicos da literatura de terror como The King in Yellow, de Robert W. Chambers, ou dos contos de Lord Dunsany. Já as influências de True Detective: Night Country, criada, escrita e realizada pela mexicana Issa López (Nic Pizzolatto, o “pai” da série, foi aqui apenas produtor executivo), autora do tremendo Vuelven (2017), são do lado do cinema e da televisão, nomeadamente David Lynch ou o John Carpenter de The Thing

Passado na cidade ficcional de Ennis, no Alasca, True Detective: Night Country (é a primeira vez que uma temporada da série tem um subtítulo) centra-se na investigação, pela chefe da polícia local, Liz Danvers (Jodie Foster), e pela agente Evangeline Navarro (Kali Reis), da súbita, estranha e macabra morte de quase todos os membros da equipa de uma moderna estação de investigação científica situada na zona, exceptuando um, que está em coma com lesões horríveis, e outro que desapareceu. Ao mesmo tempo, parte da população local, sobretudo os indígenas, protesta de forma cada vez mais violenta contra a companhia mineira que dá emprego a metade da população de Ennis, mas é também acusada de estar a envenenar as águas, a inquinar o solo e a dizimar os animais, e fazer com que as mulheres dêem à luz nados-mortos.

É um enredo muito atarefado, que entretece o policial e o terror, a que Issa López acrescentou várias linhas narrativas secundárias (talvez em demasia), envolvendo o assassínio nunca resolvido de uma jovem activista ambiental de Ennis, um possível crime ecológico, a existência de uma entidade fantástica (ou alienígena) que algo ou alguém despertou, e os problemas pessoais, familiares e sentimentais dos protagonistas (parece não haver uma pessoa ali com uma vida minimamente estável, normal e feliz, e quase toda a gente é amarga ou antipática). A invernia inclemente e a noite permanente são fundamentais para a atmosfera de espessa e intensa weirdness e de suspense de causar calafrios vivida em True Detective: Night Country. Se a temporada inaugural da série comungava do chamado “gótico sulista”, podemos dizer que esta quarta representa o “gótico árctico”. 

Tal como o miúdo de O Sexto Sentido, de M. Night Shyamalan, True Detective: Night Country está cheio de gente que vê pessoas mortas, como a personagem de Fiona Shaw, a quem o defunto marido aparece tão regularmente, que ela encara o facto com a normalidade de quem encontra o vizinho do lado quando sai de casa. A certa altura, a série começa a sofrer de algum efeito de repetição, e a história a dar a impressão de tender para andar em círculos. Mas a intriga volta a ganhar gás no quinto episódio, e a articular com mais urgência os componentes policiais e de terror. 

No final, Issa López ata todas as pontas soltas da história, embora não esclareça a totalidade dos acontecimentos inusitados e inquietantes de True Detective: Night Country (o porquê das manifestações espectrais de Annie, e em especial do filho da personagem da chefe Danvers, ficam “pendurados”). Mas acaba por se aceitar que algumas coisas irreais e do foro do fantástico fiquem por explicar, numa região em que o termómetro fica muito tempo preso abaixo do zero, a escuridão parece nunca acabar e a neve e o gelo dão a impressão de irem durar para sempre.

Mais críticas de televisão

  • Filmes

★☆☆☆☆

Esta série da Prime Video é filmada com o estardalhaço visual de quem quer agradar àquela geração cujo principal entretenimento são os jogos de vídeo e que vê todos os filmes de super-heróis.

 

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